A visão de 7 bancos e gestoras para o 2º turno e o impacto para a bolsa

Estrategistas, gestores, economistas e analistas se posicionam sobre o resultado das urnas neste domingo (30) na disputa entre Lula e Bolsonaro

Prédios na Avenida Faria Lima, em São Paulo
28 de Outubro, 2022 | 04:33 PM

Bloomberg Línea — As eleições presidenciais brasileiras têm trazido volatilidade adicional para os mercados, em especial nesta última semana, pressionando as cotações de companhias estatais, como Banco do Brasil (BBAS3) e Petrobras (PETR3; PETR4), que têm grande peso no Ibovespa (IBOV).

Com um primeiro turno cujos resultados se mostraram mais apertados do que mostravam as principais pesquisas eleitorais, investidores e agentes do mercado têm buscado sinais sobre os programas econômicos dos dois candidatos, principalmente em relação à condução da política fiscal.

Enquanto uma reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) é vista como uma continuidade da agenda liberal e de privatizações, um eventual governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda carrega uma série de incertezas, embora analistas vejam um governo mais ao centro do candidato.

Na noite de domingo (30), os investidores ficarão atentos a três temas principais, segundo o Goldman Sachs (GS): a margem de vitória do presidente eleito; a disputa para o governo da Bahia e a corrida para governador no Rio Grande do Sul.

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Uma diferença sobre o segundo colocado com menos de 2 pontos percentuais pode aumentar o risco de uma eleição contestada (particularmente em um ambiente altamente polarizado) e pode ser interpretada como um mandato fraco para governar, aponta o banco de investimento.

A Bahia, maior colégio eleitoral do Nordeste e o quarto maior do país, é um bastião do PT há 16 anos e, portanto, uma perda petista do estado seria altamente simbólica, destaca o Goldman.

Já no caso do Rio Grande do Sul, o Goldman Sachs avalia que Eduardo Leite (PSDB) poderia ser o primeiro governador a garantir a reeleição no estado, o que mitigaria parcialmente o fraco desempenho do PSDB nas eleições de 2022 de forma geral.

“Leite foi recentemente endossado pelo PT, cujo candidato não conseguiu chegar ao segundo turno por uma margem mínima. Por outro lado, uma vitória de Onyx Lorenzoni (PL) aprofundaria ainda mais a crescente pegada do movimento bolsonarista em nível local”, escrevem os autores do relatório do banco.

Confira a seguir o que profissionais do mercado financeiro estão esperando para a disputa no segundo turno e como isso poderá impactar os mercados.

Franklin Templeton

Na avaliação de Gustavo Stenzel, vice-presidente executivo e diretor administrativo no Brasil da Franklin Templeton, as preocupações com uma eventual mudança radical do quadro de política macroeconômica do Brasil à esquerda parecem ser superestimadas.

“Esperaríamos uma postura bastante pragmática aplicada pela administração Lula, realizada em cheque por um Congresso com uma composição centrista e um vice-presidente pró-mercado”, escreveu em nota.

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Segundo ele, os investidores deveriam, portanto, olhar através das eleições e ver o que poderia dar certo para o mercado acionário brasileiro. Stenzel chamou a atenção para o potencial de cortes nas taxas de juros em 2023. “O Brasil está em uma posição única no mundo.”

“O Banco Central tem aumentado as taxas de juros antecipadamente, à frente da maioria dos outros bancos centrais globalmente, e as taxas de juros reais são positivas por uma ampla margem. Se a inflação continuar a cair, há espaço para uma política monetária menos restritiva com um impacto positivo sobre o mercado acionário brasileiro”, completou.

Goldman Sachs

Em relatório divulgado na quinta-feira (27), a equipe do economista Alberto Ramos, do Goldman Sachs destaca que a campanha do segundo turno “tem sido intensa, altamente polarizada e marcada por níveis mais altos do que o habitual de intervenção dos tribunais”.

Segundo os economistas, quem for eleito no domingo terá que construir coalizões multipartidárias com vários partidos centristas. “Alcançar uma maioria qualificada para aprovar emendas constitucionais é uma tarefa difícil que exige capital político significativo e habilidade de negociação”, escrevem.

O próximo presidente provavelmente estará lidando com uma das legislaturas mais independentes em décadas, destaca Ramos, e os partidos de centro provavelmente vão estabelecer alguns limites políticos.

Ele destaca que os parlamentares recém-eleitos têm um perfil/identificação ideológica mais forte, principalmente à direita, o que poderia levar a um Congresso mais combativo, questionador e oposicionista em caso de vitória do ex-presidente Lula.

Caso Lula seja eleito, Ramos afirma que o mercado estará prestando atenção especial às nomeações do gabinete (em primeiro lugar para o Ministério da Fazenda), além de um esboço detalhado das propostas de políticas formuladas de forma flexível durante a campanha, como a reforma tributária e a nova âncora fiscal para substituir o teto de gastos.

“Espera-se que os mercados financeiros reajam positivamente aos sinais de paz social, estabilidade política e reformas que alavancariam o investimento e o crescimento e deixariam para trás um longo período de crescimento muito modesto e condições sociais e econômicas estagnadas”, escreve o economista.

Itaú BBA

Pesquisa feita pelo Itaú BBA com 25 instituições financeiras nos Estados Unidos mostrou que o resultado do pleito e das eleições para a Câmara e o Senado esteve entre os principais temas de discussão.

Segundo o estrategista Marcelo Sá, do Itaú BBA, muitos investidores perguntaram sobre o risco de os resultados das eleições serem contestados caso a diferença entre os dois candidatos seja pequena. As políticas econômicas de cada candidato e as perspectivas para o limite de gastos também estiveram entre as dúvidas levantadas na ocasião.

“Os investidores sabem que o teto de gastos será modificado, mas queriam entender como poderia ser o novo regime fiscal e se seria suficiente para manter a relação entre dívida pública e PIB sob controle”, escreveu o estrategista.

Com relação à política monetária, a maioria dos investidores destacou que a inflação está caindo mais rapidamente do que o previsto e que o Banco Central pode começar a cortar as taxas mais cedo do que outros países – embora não tenha havido consenso sobre quando isso poderia começar.

Mantaro Capital

Leonardo Rufino, sócio e gestor de renda variável da Mantaro Capital, afirma que dentre as principais preocupações hoje está a de uma possível “baderna” caso Bolsonaro não aceite a derrota no domingo (30).

“Isso pegaria muito mal para o investidor estrangeiro, passando uma imagem de que a oposição será muito combativa e que o país não será tão fácil de lidar”, disse em entrevista à Bloomberg Línea.

Com relação a um eventual governo do ex-presidente Lula, Rufino afirma que as sinalizações da campanha apontam mais para uma moderação do que radicalismo. “O Lula ainda é uma incógnita em vários aspectos, incluindo as estatais, mas no macro nunca foi radical”, afirmou.

Rufino avalia que Bolsonaro com Paulo Guedes trazem um “conforto” para o mercado, enquanto ainda há um grau de incerteza maior com relação a um eventual governo Lula. “Mas não compartilhamos do pessimismo com relação à visão macro.”

SPX Capital

Na carta enviada aos cotistas referente ao desempenho dos fundos multimercados macro da SPX em setembro, a renomada gestora de Rogério Xavier chama a atenção para o fato de que o novo governo terá uma adversidade pela frente.

“Neste ano, o crescimento econômico surpreendeu positivamente após diversas medidas fiscais estimulativas e ajuda dos efeitos favoráveis dos altos preços das commodities. Porém, este, possivelmente, será um vento contra relevante na próxima gestão, que enfrentará um contexto de desaceleração da atividade global e recessão em algumas economias importantes”, escreve o gestor Murilo Oliveira, que assina o texto.

Nesse cenário, a avaliação é a de que a surpresa de arrecadação, com royalties e Imposto de Renda de empresas de petróleo e mineração, está em risco. O mesmo vale para os mais de R$ 60 bilhões de dividendos pagos pela Petrobras a mais do que no ano anterior, que também estarão em risco em uma eventual mudança de governo.

“As benesses entregues pelo atual governo durante o último semestre e as promessas feitas durante a campanha nos levam à fatura de algo como 2% do PIB projetado para o próximo ano. Possivelmente, teremos que discutir um novo arcabouço fiscal em substituição ao teto de gastos instituído em 2016, que não vem sendo cumprido a rigor desde 2020, com os gastos extraordinários requeridos ao longo da pandemia.”

De acordo com Oliveira, será necessária uma equipe “com um plano crível para recuperarmos a confiança dos investidores”.

“Reformas estruturais com impactos positivos de médio e longo prazo nas contas públicas, reestruturação de impostos, competitividade e melhoria da educação serão cada vez mais urgentes para que tenhamos chances de ter um crescimento sustentável à frente. Precisamos, cada vez mais, de um estadista que pense no futuro do país, e menos de políticos, que têm como único objetivo maximizar o número de votos na próxima eleição, em detrimento dos fundamentos econômicos no futuro.”

UBS BB

Em reuniões com investidores, o UBS BB também disse captar um otimismo com relação ao Brasil nos próximos seis meses, desde que o próximo governo adote uma política fiscal sólida.

“De forma geral, o Brasil foi mencionado como uma das poucas histórias positivas para os próximos meses e visto como um bom investimento em um mundo recessivo, bem como em um possível cenário também sem recessão”, escrevem os economistas, liderados por Alexandre de Azara.

Dentre os fatores positivos, foram citados, segundo o UBS BB, a surpresa do Brasil no crescimento este ano, taxas de juros nominais e reais mais altas, além de uma redução mais rápida das taxas de inflação.

Apesar dessa percepção, muitos investidores pareciam estar esperando por sinais econômicos claros do próximo governo para ampliar uma posição comprada no país, destacou o grupo.

“Observamos que uma vitória de Jair Bolsonaro provavelmente também seria percebida como um fator positivo para os preços de mercado se ele mantiver uma política fiscal sólida.”

Verde Asset

Em carta aos cotistas referente ao desempenho de setembro do fundo Verde FIC FIM, a gestora de Luis Stuhlberger escreveu que o resultado do primeiro turno das eleições trouxe “surpresas importantes” para a maioria dos analistas, dado que o Congresso eleito mostrou um balanço mais conservador do que se projetava, particularmente no Senado.

“O próximo presidente, independente de quem vencer no segundo turno, terá que trabalhar com restrições impostas por essa composição legislativa”, traz o documento.

Segundo a casa, caso Lula vença, a margem de manobra do seu governo – principalmente para potenciais contrarreformas – fica mais limitada. “Esse fator foi bem recebido pelos mercados, ao mitigar a probabilidade de riscos de cauda, e se refletiu num rali importante no primeiro pregão de outubro”, destaca a Verde.

Para outubro, o fundo manteve posições em ações tanto no Brasil quanto no exterior, enquanto a posição em inflação implícita no Brasil foi ampliada.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.