Lucro da Ambev cai com alta de custo, mas receita sobe com Spaten e Duplo Malte

Gigante de bebidas aposta na Copa do Mundo do Catar para impulsionar resultado no último trimestre do ano, após o volume de cerveja parar de crescer no Brasil

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São Paulo — Apesar do crescimento de dois dígitos (11%) registrado em sua receita (R$ 20,5 bilhões), principalmente em razão de sua aposta no segmento de cervejas premium, a Ambev (ABEV3) sentiu o impacto da inflação elevada e dos preços mais altos de commodities no terceiro trimestre. Resultado: o lucro teve queda da ordem de 13%, para R$ 3,2 bilhões, na comparação trimestral.

Olhando para a frente, a empresa brasileira do setor de bebidas espera impulsionar suas vendas durante a Copa do Mundo do Catar, que começa em 20 de novembro, visto que é a primeira vez que o megaevento esportivo será realizado durante o período do verão no hemisfério Sul.

Isso é importante porque, no terceiro trimestre, o volume de venda de cerveja no Brasil parou de crescer, algo que a companhia atribuiu à base de comparação forte do mesmo período do ano passado, quando seu lucro cresceu acima do esperado.

Para reverter a estagnação do volume de cerveja no Brasil, a Ambev tem reforçado a aposta em marcas estrangeiras, mais caras, voltadas ao consumidor disposto a pagar mais no mercado nacional. É uma estratégia que os números mostram ser acertada.

“Nossos negócios no Brasil continuam construindo seu momentum, entregando crescimento de dois dígitos da receita e do EBITDA, o que mais do que compensou ventos contrários contínuos em algumas de nossas operações internacionais”, apontou o CEO da companhia, Jean Jereissati, em nota.

Para ajudar a consolidar o segmento “core plus”, a fabricante de bebidas recorreu, por exemplo, a uma marca alemã tradicional de puro malte, lançada há um ano no Brasil: a Spaten.

Segundo a companhia, a marca surpreendeu ao liderar o desenvolvimento da Ambev no segmento “core plus”. As marcas desse segmento representam, hoje, cerca de 10% do volume total de cerveja para a Ambev. Antes da pandemia, esse índice era de 4%.

Inovações têm representado mais de 15% da nossa receita líquida, e Brahma Duplo Malte e Spaten lideram o desenvolvimento do nosso segmento core plus, representando mais de 25% do crescimento do volume em relação a 2018″, apontou a companhia em nota, acrescentando estar hoje melhor posicionada para potencializar seu resultado em comparação com a Copa do Mundo anterior, em 2018.

Diesel e frete

As operações internacionais da multinacional brasileira pesaram também no resultado. O destaque negativo foi o volume de vendas na América Central e no Caribe, que diminuiu 19,7%, puxado pela República Dominicana e pelo Panamá, devido a um ambiente altamente inflacionário.

Além disso, os custos e as despesas foram maiores devido ao contínuo aumento das cotações de commodities utilizadas como insumo, bem como aumento na inflação do diesel e do frete marítimo, uma vez que essa região é mais dependente de importações.

“A inflação crescente e a ruptura da cadeia de suprimentos atingiram fortemente a região”, apontou a companhia em nota.

Análise

Ao destacar pontos do balanço da Ambev, a equipe do Bradesco BBI previu, em nota, uma reação positiva dos investidores no pregão da B3, considerando que o Ebitda ajustado da companhia (R$ 5,6 bilhões) veio ligeiramente acima das expectativas do mercado e de seus analistas (R$ 5,5 bilhões) devido aos resultados acima do esperado da divisão brasileira.

O Bradesco BBI apontou dois motivos para isso: o Ebitda 1% acima do esperado para a divisão Cerveja Brasil (principal direcionador das ações da Ambev) devido aos volumes estáveis em relação ao mesmo período do ano passado, acima da projeção dos analistas de queda de 1%; e o Ebitda 13% acima do esperado para a divisão NAB (Bebidas Não Alcóolicas) em volumes 3,5% acima da expectativas e CPV/hl (custo dos Produtos Vendidos por hectolitro) abaixo do estimado.

Por sua vez, a equipe da Genial Investimentos, que tem recomendação de venda para o papel da Ambev, analisou que “as pressões nos custos e inflação persistente seguem afetando negativamente o resultado da cervejaria”.

Cadeia de suprimentos

Em teleconferência com analistas, a administração da Ambev explicou os recentes problemas em suas operacionais internacionais, principalmente na República Dominicana e Panamá. Segundo o CFO da empresa, Lucas Lira, a Ambev busca estabilizar sua cadeia de suprimentos na região, especificamente o fornecimento de vidro para embalagens de bebidas, além de melhorar a execução comercial, com maior oferta de marcas e investimentos em distribuição. A falta de garrafa de vidro para cerveja tem motivado investimentos da companhia, como uma nova fábrica no Paraná, prevista para 2025..

Jereissati e Lira expressaram otimismo com o quarto trimestre da Copa do Mundo, citando a ambição de que o desempenho do segundo semestre seja melhor do que o primeiro. O comando da Ambev também se mostrou confiante com o potencial de expansão do seu portfólio de bebidas não alcoólicas, na maior penetração em regiões do Brasil como Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Uma das apostas da gigante de bebidas para a Copa é a Budweiser zero, que surpreendeu nos testes com consumidores, segundo os executivos.

Sobre 2023, a companhia evitou detalhar suas expectativas, mas citou que os preços do trigo e da cevada no mercado internacional devem ser desfavoráveis, mas a cotação do alumínio deve fazer o contraponto. A forte desvalorização do peso argentino também é um ponto de atenção, pois obriga a companhia a monitorar de perto sua operação no país vizinho.

(Atualiza às 10h com comentários do Bradesco BBI e Genial Investimentos e às 15h com informações da teleconferência com analistas)

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