Gol bate recorde em ganho por passageiro e reduz prejuízo em 43%

Companhia aérea reforça o foco no aumento da rentabilidade para lidar com custos elevados; analistas veem poucas chances de redução das tarifas

Com o maior yield médio por passageiro de sua história, Gol reduz prejuízo em 12 meses, tem receita recorde e projeta menor crescimento de capacidade, priorizando proteção de margens de lucro
27 de Outubro, 2022 | 12:48 PM

Bloomberg Línea — Os preços das passagens aéreas devem continuar em trajetória de alta no quarto trimestre, período mais lucrativo do setor devido ao início das férias e às festas de fim do ano, segundo analistas. Um dos indícios disso veio do balanço da Gol (GOLL4) do terceiro trimestre, divulgado nesta quinta-feira (27), em que a companhia aérea reforça seu foco na melhora da rentabilidade e informa que cada passageiro lhe rendeu um retorno médio por cada km voado (yield) de 44,97 centavos de real, o maior patamar de sua história, acima do esperado por alguns analistas.

Os reajustes das tarifas aéreas, além da recuperação da demanda e de uma taxa de ocupação das aeronaves superior a 80%, foram decisivos para a Gol reportar uma receita trimestral recorde de R$ 4 bilhões entre julho e setembro.

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O resultado ajudou a reduzir as perdas acumuladas durante a pandemia, quando os aviões ficaram no chão. A companhia teve um prejuízo de R$ 1,5 bilhão no terceiro trimestre, uma redução significativa de 43% em 12 meses.

“O grande destaque positivo do balanço da Gol continua sendo o aumento do yield (44,97 centavos de real), que veio um pouco acima dos 44,7 projetados. O yield elevado compensou o aumento no preço do combustível, que subiu cerca de 60 centavos em relação ao 2T22. Destacamos a melhora nas margens, principalmente devido ao aumento expressivo na taxa de ocupação frente ao 2T22 (+4 pp)”, ressaltou relatório da Genial Investimentos.

O resultado trimestral da Gol foi recebido positivamente na B3. As ações chegaram a subir mais de 7% na manhã desta quinta (27).

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“Mais um trimestre de recuperação consistente na demanda (+41% a/a no RPK a/a), com o número de passageiros transportados atingindo 6,9 milhões (+39,2% a/a). A taxa de ocupação das aeronaves ficou estável em 81%, enquanto nos voos internacionais essa taxa foi de 84,3%”, observou o analista Renato Hallgreen, da BB Investimentos, em relatório. RPK é a sigla para “Revenue Passenger‐Kilometers” ou a receita por passageiro transportado e quilômetro percorrido.

O banco americano Goldman Sachs destacou a decisão “bem-vinda” da administração da Gol de reduzir o ritmo de crescimento de sua capacidade a fim de recuperar a rentabilidade.

“A companhia atualizou seu guidance [projeção] para 2022 refletindo maiores custos com combustíveis, o atual nível das vendas de passagens e a esperada disponibilidade de assentos”, apontou o relatório assinado pelos analistas Bruno Amorim, João Frizo e Guilherme Costa Martins.

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Antes, o guidance era de um crescimento de capacidade entre 55% e 65% para o ano. Caiu agora para intervalo entre 50%-55% na comparação anual, com a receita líquida atingindo R$ 15,4 bilhões. “O guidance atualizado implica em um crescimento de 35% da capacidade no quarto trimestre”, estimou o relatório do Goldman Sachs.

Alívio de custos

Desde agosto, quando houve uma série de reduções do preço do querosene da aviação, os analistas do setor expressavam ceticismo sobre um repasse desse alívio de custos para os preços das passagens, argumentando que a alta acumulada no ano ainda era significativa e que as companhias aéreas ainda enfrentavam dificuldades financeiras.

A Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), por exemplo, disse, em agosto, que o mercado da aviação vive uma situação de intensa volatilidade quanto aos preços dos combustíveis, enquanto a operação brasileira da chilena Latam considerou “prematuro fazer qualquer projeção de queda dos preços das passagens”.

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Para reduzir os custos de combustíveis, uma das estratégias da Gol é a transformação de sua frota. A empresa encerrou o mês de setembro com 145 aeronaves, sendo 26% da frota composta pelos novos modelos 737-MAX 8.

Segundo analista da BB Investimentos, há ainda a vantagem da substituição das aeronaves em “oferecer opções de flexibilização na utilização de rotas nacionais e internacionais em função da maior autonomia de voo”.

Outro foco de pressão de custos para o setor da aviação comercial brasileira é o reajuste salarial da tripulação. Neste quarto trimestre, há o dissídio da categoria dos aeronautas. No ano passado, os trabalhadores chegaram a ameaçar uma paralisação em dezembro, no pico da alta estação.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.