Com lucro recorde, Vamos reduz alavancagem com venda de carteira de recebíveis

Subsidiária do Grupo Simpar que atua no mercado de locação de caminhões e pesados cogita voltar a negociar carteira de recebíveis

CFO da Vamos, Gustavo Moscatelli, diz que a venda de carteira de recebíveis dos clientes é uma opção para a companhia captar recursos e reduzir alavancagem
27 de Outubro, 2022 | 07:16 PM

São Paulo — Com menos de dois anos de abertura de capital na B3, a Vamos (VAMO3), companhia de locação de caminhões, máquinas e equipamentos, pertencente ao Grupo Simpar, apresentou lucro recorde de R$ 150 milhões no 3º trimestre, aumento de 34,7% em 12 meses. O balanço da companhia, divulgado nesta quinta-feira (27), foi marcado por dados de um forte crescimento orgânico nos principais segmentos de negócios e margens também em patamar histórico.

Um dos pontos de atenção de analistas após a aprovação de um follow-on em setembro foi a estrutura de capital foi fortalecida no período. A companhia conseguiu reduzir seu nível de alavancagem com uma inédita venda de carteira de recebíveis de clientes, uma operação que a companhia cogita repetir por considerar uma nova fonte de financiamento do seu plano de crescimento, em um segmento que tem atraído novos competidores, como os bancos de montadoras de veículos.

Em entrevista à Bloomberg Línea, o CFO da Vamos, Gustavo Moscatelli, disse que a carteira de R$ 1,3 bilhão de recebíveis de contratos de longo prazo sem coobrigação foi vendida para um dos principais bancos comerciais nacionais, evitando nomeá-lo por compromisso de confidencialidade. Foram 400 contratos de recebíveis. Excluindo esse valor, a carteira atual de recebíveis da Vamos chega a R$ 10 bilhões, segundo o executivo.

No segundo trimestre, o nível de alavancagem da companhia era de 3,3x, próximo do covenant (3,75x), cláusula de contrato que dá ao credor o gatilho para renegociação de dívida.

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“Com a operação dos recebíveis e o follow-on [oferta subsequente de ações] de R$ 641 milhões em setembro, reduzimos a alavancagem para 2,6x, mas que deve crescer até o final do ano que vem”, disse Moscatelli, lembrando o modelo de negócio da companhia, que é intensivo em capital, o capex (investimento) contratado de R$ 4,5 bilhões em nove meses (ponto médio do guidance para o ano) e as oportunidades de crescimento no radar.

Em março deste ano, a empresa anunciou a compra da Truckvan, fabricante de unidades móveis e implementos rodoviários, uma transação que considerou como um passo de consolidação de sua plataforma de negócios de caminhões, máquinas e equipamentos.

Concorrência

O executivo destacou que o mercado de locação de caminhões e veículos pesados ainda é incipiente no Brasil e que a Vamos lidera esse segmento, que atrai a atenção de empresas como Randon (RAPT4) e Gerdau (GGBR4), além de bancos de montadoras.

“Só 1% da frota brasileira é locada. É um mercado no começo de seu desenvolvimento. Não temos concorrentes com escala. Estamos preparados para crescer ainda mais em 2023. Buscamos a expansão das margens”, afirmou Moscatelli.

A receita líquida da companhia cresceu 66% em 12 meses, somando R$ 1,3 bilhão no terceiro trimestre, com destaque para as concessionárias de máquinas agrícolas. Já a geração de caixa medida pelo Ebitda dobrou para R$ 554,4 milhões. Houve ainda uma forte aceleração no crescimento operacional com ganho de rentabilidade, com um ROIC (retorno sobre o capital investido) anualizado de 16,8% ante 15,8% no segundo trimestre.

Sobre o aumento da concorrência, o CFO da Vamos descarta o risco de uma precificação irracional dos serviços no mercado. “O interesse dessas empresas chancela que nosso modelo de negócios é bom. São empresas que sabem fazer conta e não vão destruir a rentabilidade do modelo de negócios”, considera.

Diversificação

A Vamos fechou o terceiro trimestre com 38.561 ativos em seu frota, sendo 30.614 caminhões e 7.947 máquinas e equipamentos, um crescimento de 89,2% em 12 meses. A companhia tem diversificado sua carteira de clientes, locando veículos para setores de agronegócio, bebidas e alimentos, transporte e logística, além do segmento de “utilities e energia” (Enel e Light, por exemplo, são suas clientes).

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Nos últimos três anos, segundo o CFO, a equipe comercial da companhia saltou de 9 para 70 executivos de vendas, a fim de aumentar a capilaridade da Vamos pelo país. A pouca visibilidade sobre o cenário macroeconômico no ano que vem não chega a preocupar o executivo quanto às perspectivas da empresa, que registra crescimento operacional e de rentabilidade há sete anos.

“Ninguém torce para uma recessão em 2023, mas nosso modelo de negócios funciona em todos os cenários, otimistas e pessimistas, pois a economia sempre vai precisar de caminhões e veículos pesados, e a locação é uma forma de reduzir custos das empresas”, afirma Moscatelli.

A ação da Vamos fechou hoje em alta de 6,82%, cotada a R$ 15,34, acumulando ganho de 28% no ano. O IPO (oferta inicial de ação), concluído em janeiro de 2021, precificou o papel em R$ 26.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.