Com inflação de 100%, turistas usam pilhas de dinheiro para comprar na Argentina

Forte desvalorização do peso argentino nos mercados paralelos multiplicou o volume de papel-moeda necessário para compras do dia a dia

No país, a maior nota vale menos de US$ 4
Por Patrick Gillespie
27 de Outubro, 2022 | 08:51 AM

Bloomberg — --Corrige título para dizer “inflação de 100%”, e não 1.000% como informado anteriormente (8h55)

Pagar em dinheiro ficou cada vez mais complicado na Argentina, com maços enormes, enquanto o governo se recusa a emitir notas mais altas apesar da inflação galopante rumo a 100%.

Em cenas que lembram a vida na Venezuela, a forte desvalorização do peso argentino nos mercados paralelos multiplicou o volume de papel-moeda necessário para compras do dia a dia em um país onde a maior nota vale menos de US$ 4.

A diferença entre a taxa de câmbio oficial e uma variedade de taxas paralelas incentiva turistas e argentinos que têm dólares a negociar dinheiro em espécie no mercado informal.

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O problema é que a nota de maior valor na Argentina é de 1.000 pesos. No câmbio oficial, isso vale US$ 6,43, mas devido aos rígidos controles de capital, argentinos e turistas estrangeiros costumam trocar dólares no paralelo, a uma taxa conhecida como “dólar blue”, onde 1.000 pesos valem apenas US$ 3,44.

O banco central disse à Bloomberg que prefere se concentrar em sistemas de pagamento digital em vez de promover o uso de notas.

Oscar Salem e nove amigos deixaram pilhas de dinheiro em uma churrascaria de Buenos Aires para pagar a conta, que incluía vários cortes de carne, vinho de primeira linha e sobremesas.

O valor foi de cerca de US$ 50 por pessoa, de acordo com uma foto que Salem postou no Twitter no sábado enquanto visitava a capital argentina. Com o dólar valendo quase o dobro em pesos no mercado paralelo, a maioria dos estrangeiros que recorre a ele se beneficia de atrações turísticas por uma fração do preço que pagariam em outros países.

“Não há razão alguma para um turista pagar com cartão de crédito” disse Salem, fundador da empresa de consultoria BCM Partners nos EUA, à Bloomberg. “Na cidade de Nova York, essa refeição custaria US$ 3.000.”

Apesar disso, as opções de pagamento eletrônico como apps de celulares, códigos QR e transferências bancárias diretas têm crescido em popularidade na Argentina desde a pandemia. O volume desse tipo de pagamento subiu 53% em agosto em relação ao ano anterior.

Mas esse crescimento não se estende a turistas ou residentes que trocam dólares em dinheiro para proteger suas economias da desvalorização da moeda.

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Um regulamento do banco central que busca incentivar turistas a trazerem fundos para o país através de canais oficiais ainda não foi implementado.

Em resposta por escrito a uma pergunta sobre a possibilidade de notas de maior valor, o presidente do BC argentino, Miguel Pesce, disse que 98% dos adultos argentinos têm conta bancária. (Dados do Banco Mundial mostram esse número em 71%).

“A chave está no desenvolvimento de sistemas de pagamento eletrônico”, disse Pesce em comunicado. “O banco central promove métodos de pagamento digital como débito, crédito, transferências automáticas, cheques eletrônicos, carteiras bancárias e carteiras não bancárias.”

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