Santander fica menos rentável no 3º tri e lucro cai com alta da inadimplência

Rentabilidade medida pelo ROE fica abaixo de 20%, mas CEO vê sinais de estabilidade nos atrasos dos clientes com maior seletividade na concessão de crédito

Santanter Brasil reduziu número de agências e de funcionários no 3º tri diante do avanço dos hábitos digitais dos clientes
26 de Outubro, 2022 | 08:48 AM

Bloomberg Línea — O Santander Brasil (SANB11) se tornou um banco menos rentável no terceiro trimestre deste ano, com o aumento da inadimplência pesando em seu resultado, embora haja sinais de estabilização nos atrasos dos clientes. A operação local do banco espanhol registrou um lucro de R$ 3,122 bilhões entre julho e setembro, queda de 23% em relação ao segundo trimestre e de 10,1% na base anual.

Os dados, divulgados nesta manhã desta quarta-feira (26), confirmaram as expectativas dos analistas do setor financeiro de que o Santander Brasil apresentaria um desempenho abaixo dos anteriores. Foi o primeiro grande banco com atuação no país a divulgar resultado do terceiro trimestre. Os outros divulgam seus balanços em novembro: Bradesco (dia 8), Banco do Brasil (9) e Itaú (10).

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A rentabilidade medida pelo ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) ficou abaixo do patamar de 20%, atingindo 19% nos primeiros nove meses do ano, uma queda de 2,5 pontos percentuais na base anual. Já o ROE do terceiro trimestre caiu mais: 5,2 pontos percentuais, alcançando 15,6%.

No resultado do segundo trimestre, divulgado em julho, o Santander Brasil estava na casa dos 20% de rentabilidade: 20,8% no trimestre (+0,2 ponto percentual em três meses) e 20,7% no primeiro semestre (-0,3 ponto percentual em 12 meses).

Os índices de inadimplência apresentados pelo banco seguiram em alta no terceiro trimestre: atrasos acima de 90 dias passaram de 2,9% no segundo trimestre para 3%, enquanto os acima de 60 dias chegaram a 3,8%, depois de 3,6% no trimestre anterior. O índice de cobertura (acima de 90 dias) foi de 224% para 226% em três meses.

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Atrasos de pagamentos por pessoas físicas e pequenas empresas já eram alvo de alertas nos últimos trimestres na avaliação dos riscos do banco.

O CEO do Santander Brasil, Mario Leão, disse, no entanto, que a inadimplência apresenta “sinais de estabilidade” diante da maior seletividade na concessão de crédito.

Menores limites para gastos dos clientes e avaliações mais rigorosas na concessão de crédito estão entre as principais medidas adotadas pelas instituições financeiras para conter a piora da inadimplência, diante de um quadro de juros mais elevados e inflação, além das incertezas no cenário internacional, com risco de recessão nos países ricos. Isso eleva a pressão sobre as filiais dos bancos estrangeiros a entregarem resultados mais saudáveis.

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“Iniciamos no quarto trimestre a implementação de uma estratégia de antecipação de ciclos de crédito. Com isso, o momento atual leva a menores receitas, dada a maior seletividade que aplicamos ao nosso portfólio, e também a sensibilidade negativa à curva de juros em margens com mercados - além da PDD [provisão para devedores duvidosos] em um momento ainda desafiador do ciclo, conforme previsto, com inadimplência com sinais de estabilidade”, disse o executivo no comunicado de resultados.

A teleconferência de executivos do banco com analistas de mercado começaria às 9h.

Longe do ‘mar aberto’

A área de emissão de cartões é um exemplos dessa cautela citada pelo CEO. Assim como outros bancos, o Santander tem evitado o chamado “mar aberto”, o que significa a concessão de crédito para quem não tem vínculos sólidos com a instituição.

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Nossa estratégia de aquisição de clientes segue apoiada na premissa de melhor perfil de risco com 98% das novas aquisições sendo de clientes correntistas”, mencionou o banco no comunicado.

No terceiro trimestre, o Santander faturou R$ 82,5 bilhões com cartões, crescimento de 5% na comparação anual. A carteira de cartão de crédito pessoa física somava R$ 44,4 bilhões, aumento de 13% na base anual.

A carteira de crédito do banco teve incremento de 7,5% em 12 meses, somando R$ 484 bilhões em setembro, com destaque para grandes empresas e varejo.

Fechamento de agências

As despesas do banco aumentaram 4,8% na base trimestral e 6,8% na anual, abaixo da média da inflação acumualda em 12 meses (10,44%). Em setembro, o setor financeiro enfrentou alta de custos com pessoal devido ao dissídio coletivo dos bancários.

O Santander Brasil encerrou o período com 1.722 agências, 16 a menos em relação ao segundo trimestre deste ano. Em nove meses, a redução do número de agências, chega a 307.

O número de funcionários também encolheu para 51.214 em setembro, uma redução de 835 em três meses. Entretanto, no acumulado de nove meses, houve a adição de 1.609 funcionários.

Análise

O balanço do Santander foi considerado levemente pior do que o esperado, com a inadimplência pressionando os resultados do banco, avaliou José Eduardo Daronco, analista da Suno Research, em nota enviada à Bloomberg Línea.

“O aumento da inadimplência da carteira de Pessoa Física foi a principal responsável pela redução da rentabilidade do banco. Como o Santander possui uma carteira de crédito bastante exposta ao cartão de crédito, financiamento de veículos e crédito pessoal, o aumento recente das taxas de juros acaba impactando diretamente, elevando a inadimplência e fazendo com que o banco aumente a sua provisão para crédito duvidoso”, observou o analista.

Para os próximos trimestres, Daronco espera que a companhia continuará com os resultados pressionados, principalmente pela elevação das taxas de juros.

(Atualiza às 10h com comentário de analista da Suno)

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.