São Paulo — Após divulgar um resultado do terceiro trimestre considerado decepcionante pelo mercado, com queda de lucro e rentabilidade diante da alta continuada da inadimplência, a administração do Santander Brasil (SANB11) tentou tranquilizar, nesta quarta-feira (26), os analistas do setor financeiro sobre as perspectivas para o terceiro maior banco privado do país em 2023.
Os prognósticos de que a confiança do consumidor deve melhorar, após o segundo turno das eleições no próximo domingo (30), não surtiram efeito. As units da companhia chegaram a despencar mais de 9% na B3, em reação negativa ao balanço.
Na teleconferência com o CEO, Mario Leão, e o CFO, Angel Santodomingo, os analistas questionaram, por exemplo, quando o banco enxerga para 2023 em termos de aumento da concessão de crédito e de redução dos índices de inadimplência.
“Depois da eleição, da instabilidade política, vamos nos dirigir para um cenário mais positivo, quando haverá um crescimento da confiança do consumidor”, destacou Santodomingo. “Começamos este ano mais conservadores, e o PIB já está crescendo 3%”, disse, ressaltando a natureza volátil das previsões macroeconômicos do mercado ao longo de um período.
O CEO acrescentou que os gastos de consumo das famílias deverão ser retomados quando o juro básico da economia (Selic), atualmente em 13,75% ao ano, voltar a cair no ano que vem. Ele espera manutenção da taxa nesse patamar na decisão do Banco Central a ser anunciada hoje à noite (26). “Na segunda metade do ano que vem, haverá maior apetite correto de risco, que permitirá ampliar a carteira de crédito”, previu Leão.
A exemplo do que ocorreu na teleconferência de resultado do segundo trimestre, em julho, a dupla de executivos do Santander Brasil repetiu o discurso de que os índices de inadimplência apresentados pelo banco refletem outras safras de concessão de crédito, anteriores ao quarto trimestre do ano passado. No último trimestre de 2021, a instituição financeira adotou modelos mais conservadores de avaliação de risco dos clientes, a fim de evitar perdas futuras, segundo eles.
Para 2023, o CEO e o CFO esperam que esse rigor maior na hora de autorizar empréstimos a seus clientes melhore os indicadores de inadimplência do banco, mas eles evitaram descartar uma nova subida da participação de atrasos na carteira nos próximos trimestres.
“Pode ser que suba um pouco ou que diminua”, desconversou o CFO, em referência ao comportamento futuro das provisões para cobrir eventuais perdas com atrasos de pagamento.
Estabilização
Os analistas insistiram que os indicadores de inadimplência têm se deteriorado nos últimos trimestres, apesar das medidas mais conservadoras que o banco diz estar tomando para evitar uma “explosão” dos índices de atrasos. Em resposta, os executivos do Santander repetiram que há sinais de estabilização dessas métricas, pois a instituição tem selecionado melhor os clientes na hora de emprestar. Segundo o banco, clientes pessoas físicas e microempresas são os perfis mais problemáticos na hora de quitar seus débitos em dia.
“O que está acontecendo hoje não está fora das previsões que fizemos há um ano”, reforçou Santodomingo, evitando expressar cautela excessiva ou tom de preocupação com os dados de inadimplência presentes no balanço.
O CEO mudou o foco da discussão dos analistas sobre os pontos negativos do resultado financeiro para os planos do Santander de reforçar sua plataforma digital e as potencialidades de ganhos com eficiência e aumento de participação de mercado.
Renegociações de dívidas também foram abordadas, com Leão destacando que o banco tem focado nesse trabalho como medida para a recuperação da capacidade financeira dos clientes com dificuldades de honrar seus compromissos.
Pouca visibilidade
Ao longo da manhã, relatórios sobre os comentários da administração do Santander Brasil destacaram, por exemplo, a baixa qualidade de crédito da safra gerada entre o final de 2020 e ao longo de 2021, quando a operação brasileira do banco espanhol era comandada por Sérgio Rial, que deixou a função no começo deste ano e vai assumir o grupo varejista Americanas a partir de 2023.
“Apesar do momento ruim, o Santander sinalizou, em conferência com analistas, confiança na qualidade da safra 2022, mais seletiva, a ponto de retomar o crescimento da carteira. Apesar disso, o otimismo é contido, já que não apenas temos pouca visibilidade quanto ao fim do ciclo de alta na inadimplência do mercado como um todo, como do lado da margem com o mercado, o ambiente de juros elevado deve permanecer pressionando a linha, que deve contribuir negativamente ao resultado pelo menos até meados de 2023″, apontou relatório do analista do BB Investimentos, Rafael Reis.
O BB Investimentos ressalvou que mantém “por ora” a recomendação “neutra” para os papéis do Santander Brasil com preço-alvo de R$ 43 (final de 2023). “Apesar do elevado potencial calculado em termos de valuation, até que vejamos uma dinâmica mais favorável, especialmente na margem com o mercado e no custo de crédito, mantemos nossa recomendação neutra”, justificou Reis.
Já o analista do Goldman Sachs (GS), Tito Labarta, apontou, em relatório, que o lucro líquido do Santander Brasil no terceiro trimestre (R$ 3,1 bilhões) veio 18% abaixo da estimativa da instituição norte-americana e 15% abaixo do consenso do mercado.
“O ROE caiu para 15,3% (de 20,5% no segundo trimestre). Acreditamos que deve ficar abaixo do restante do setor no terceiro trimestre”, previu.
O Goldman manteve recomendação neutra para os papéis do Santander Brasil com preço alvo de R$ 35 (12 meses) e US$ 6,7 para ADR (papéis negociados nos EUA). O banco americano lista como principais riscos do papel a maior exposição do Santander Brasil a clientes do varejo, o impacto negativo das altas taxas de juros aos custos de captação de recursos (funding) e as pressões inflacionários que limitam os ganhos com eficiência.
Já os analistas Gustavo Schroden (Bradesco BBI) e José Cataldo (Ágora Investimentos) consideraram, em nota, que o Santander Brasil apresentou tendências negativas no 3º trimestre, ficando abaixo das suas estimativas, apontando para o “crescimento ainda mais significativo das provisões”, além de uma leitura negativa da margem com os clientes devido a uma abordagem de crédito mais conservadora.
“Apesar da deterioração de apenas 0,1 ponto percentual em uma base consolidada, acreditamos que a inadimplência foi novamente distorcida por volumes significativos de renegociação. Também destacamos que houve cerca de R$ 5 bilhões de baixa contábil no portfólio de vendas”, escreveu a dupla de analistas, que manteve a recomendação neutra para o papel.
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