Quando o Brasil começa a cortar os juros? Veja o que dizem os analistas

Decisão de manter a taxa Selic em 13,75% se destaca pelo tom de neutralidade, sem indicar viés claro sobre a trajetória dos juros em 2023

Banco Central evitou estimular apostas em um início precoce do ciclo de baixa de juros, segundo analistas; decisão desta quarta (26) foi unânime
26 de Outubro, 2022 | 08:07 PM

São Paulo — Pela segunda reunião consecutiva, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central manteve a taxa básica de juro em 13,75% ao ano. O teor do anúncio, feito na noite desta quarta-feira (26), já era esperado pelo mercado, ainda dividido sobre em que momento de 2023 e em que condições do cenário macroeconômico - principalmente as expectativas de inflação, ritmo de atividade e questões internacionais - haverá o início de um ciclo de baixa da Selic.

Confira algumas opiniões divulgadas pelos especialistas após a decisão:

  • Tatiana Nogueira, economista da XP

“No futuro, acreditamos que o Copom se manterá em modo ‘esperar para ver’ até que as incertezas globais e domésticas desapareçam. Mantemos o nosso cenário de que a taxa Selic permanecerá em 13,75% até junho e diminuirá para 10,00% até ao final de 2023. A flexibilização monetária, porém, depende crucialmente da nova âncora fiscal.”

“Ambos os candidatos presidenciais declararam que irão reformar o limite de despesas no próximo ano. Dado que a dívida e o serviço da dívida brasileiros continuam elevados, consideramos uma nova âncora fiscal (crível) como condição essencial para que as expectativas de inflação convirjam para a trajetória da meta.”

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  • Rodrigo Knudsen, head de renda fixa da Empiricus Investimentos

“A manutenção da taxa veio conforme o esperado. A atenção estava mais na comunicação, talvez viesse algo diferente, um pouco mais ‘hawkish’ (uma política austera). Mas ele veio muito parecido com o comunicado anterior. Só adiciona uma frase sobre a sensibilidade dos mercados e fundamentos fiscais em países avançados, o que acaba trazendo uma maior tensão para países emergentes. Tirando isso, foram apenas algumas atualizações de inflação do Focus, que estão um pouco melhores para 2023. Mas nada que tenha surpreendido ou que tenha sido mais dura na comunicação sobre o que virá. Uma mensagem de que estão monitorando e vão fazer o necessário se o cenário se alterar”

  • Raone Costa, economista chefe da Alphatree Capital

“O Copom foi mais neutro possível. Ele praticamente repetiu o comunicado anterior e a decisão anterior, que foi de estabilidade. A única novidade é que dessa vez a decisão foi unânime, mas eu diria que isso era esperado. Uma vez que eles encerraram um ciclo 45 dias atrás e que o cenário não traz nenhum motivo para mudar. É esse plano de voo e acho que os diretores que votaram pelo aumento, lá atrás, reconheceram que o ciclo tinha terminado e que não há motivos para gerar volatilidade nesse momento”

  • Antonio van Moorsel, diretor do Advisory da Acqua Vero Investimentos

“Conforme esperado pelo mercado, o Copom manteve a taxa Selic em 13,75%, mas o tom do comunicado neutro para agressivo pondera que continuará avaliando os riscos altistas e baixistas. Além disso, reafirmou que seguirá vigilante com as expectativas da inflação relacionando-a com a atividade ainda forte em 2023 em função de medidas fiscais e estímulos a demanda. Como esse movimento já vinha sendo precificado pelo mercado, os impactos na bolsa serão poucos na abertura e ao longo do dia. Além disso, possivelmente a curva de juros nos vértices mais curtos não sofrerão quaisquer ajustes, visto que continuarão precificando a Selic em 13,75%. Já os vértices intermediários devem continuar ainda precificando um corte prematuro da taxa no começo do segundo trimestre de 2023″

  • Marco Noernberg, head de Renda Variável da Manchester Investimentos

“O mercado já esperava essa manutenção, até porque não teria muitos motivos pra aumentar mais a taxa visto que a perspectiva de inflação para esse ano tem caído toda a semana pelo relatório Focus. A última estimativa reforça a inflação na barra de 6% e na faixa de 5,6% ao ano, então é uma inflação de fato bem controlada, sem oscilações. Ao mesmo tempo, o cenário externo continua bastante adverso e volátil, como o próprio Copom pontua no relatório. Então, no final das contas, o comitê continua com a mesma estratégia de manutenção de taxa de juros suficiente, longa, para segurar a convergência de inflação, já pensando nas metas de 2023 e 2024 que são estipuladas pelo Conselho Monetário Nacional”

  • Economista-chefe da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti

“Ainda existem alguns pontos de atenção que podem causar pressões inflacionárias, como o aquecimento do mercado de trabalho no Brasil (...) O Copom vai deixar as portas abertas para um futuro aumento residual da Selic, se for necessário. Mas acredito que os juros devem voltar a cair no segundo trimestre do ano que vem, se o cenário de controle da inflação permanecer nos atuais níveis”

  • Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos

“A autoridade monetária reafirmou o compromisso com o regime de metas de inflação e manterá o viés duro da comunicação a fim de estabelecer credibilidade neste compromisso. Tornou a repetir que ‘não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado’, para, em nosso ver, afastar a possibilidade de cenários com cortes precoces (...) Seguimos projetando que o BC manterá a Selic em 13,75% até a reunião de maio de 2023 quando iniciará o ciclo de cortes, exatamente quando o enfoque de política monetária será exclusivo no IPCA de 2024″

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.