A reação de fundos hedge globais diante da forte queda dos mercados

Alavancagem dessa categoria de fundos, que mede o apetite a risco levando em conta posições compradas contra vendidas, caiu para patamares mínimos históricos

Bancos de investimento relatam mudança significativa no comportamento de clientes neste ano
Por Richard Henderson
26 de Outubro, 2022 | 03:35 PM

Bloomberg — Fundos hedge reduziram a alavancagem neste ano em uma virada conservadora que retirou a liquidez dos mercados globais e aumentou a pressão de venda sobre ações e títulos.

A alavancagem líquida dos fundos hedge - equivalentes no Brasil aos multimercados -, uma medida do apetite de risco que leva em conta posições compradas contra vendidas, caiu quase 20 pontos percentuais, para uma mínima anual de 66%, de acordo com dados do Goldman Sachs.

PUBLICIDADE

Números do Morgan Stanley mostram um declínio semelhante, para 41%, entre fundos alavancados americanos focados em renda variável. O apetite ao risco só ficou tão baixo algumas poucas vezes na última década.

Os dados, vistos pela Bloomberg News, fornecem um dos mais amplos quadros do setor. O Goldman e o Morgan Stanley têm as duas maiores operações mundiais de corretagem para hedge funds, com cerca de 5.000 clientes cada um, segundo a Convergence.

Executivos de dois outros bancos de investimento globais disseram que a queda na alavancagem foi impulsionada pelo posicionamento defensivo entre os fundos, à medida que as taxas de juros subiram e os mercados caíram. Eles pediram anonimato porque as informações não são públicas.

PUBLICIDADE

Os fundos alavancados querem “se certificar de que não estão chegando muito perto de níveis que os forçariam a vender”, disse Charles Lemonides, diretor de investimentos da Valueworks, um fundo hedge de Nova York.

“Um declínio maior do mercado vai gerar estresse em algum momento. Cada vez que o Fed diz que vai apertar mais [a política monetária], você se dá conta do fato que podemos entrar em uma daquelas grandes liquidações impulsionadas por liquidez”, disse.

Outro gestor, que administra mais de US$ 500 milhões e reduziu a alavancagem neste ano, disse que o aumento de juros, a inflação persistente e a instabilidade geopolítica aumentaram os riscos enfrentados pelos investidores.

PUBLICIDADE

Um índice de retornos de hedge funds rastreados pela HFR superou amplamente ações e títulos neste ano. Dados da empresa de pesquisa também mostraram que as liquidações de fundos no segundo trimestre ficaram bem abaixo da média dos últimos anos.

O declínio na alavancagem também reflete a cautela dos bancos de investimento.

O CEO do Morgan Stanley, James Gorman, disse durante teleconferência de resultados do terceiro trimestre que o banco passou por uma “guinada conservadora” no último ano. “Examinamos toda a nossa plataforma de corretagem de primeira linha e demos uma freada com certos clientes”, disse.

PUBLICIDADE

A operação de corretagem do Morgan Stanley estava entre as que sofreram grandes perdas com o colapso da Archegos Capital Management ano passado, impulsionado pelo uso excessivo de derivativos.

Veja mais em bloomberg.com

Leia também

Promessa de Xi de dominância mundial até 2049 assusta mercados

A visão dos estrangeiros para a bolsa às vésperas da eleição. É hora de voltar?