Além da renda fixa: como investir com a Selic no maior patamar desde 2016

Comitê de Política Monetária do Banco Central deixou a taxa básica de juros inalterada nesta quarta (26), na segunda manutenção consecutiva

Produtos de renda fixa seguem ganhando espaço no portfólio dos investidores, dada a relação entre risco e retorno atrativa
26 de Outubro, 2022 | 06:53 PM

Bloomberg Línea — Conforme amplamente esperado pelo mercado financeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, manteve a taxa Selic inalterada em 13,75% ao ano nesta quarta-feira (26), a segunda manutenção consecutiva da taxa básica. O patamar, contudo, segue o mais elevado desde 2016.

Em um contexto macroeconômico que sofreu poucas mudanças desde a última reunião, em setembro, o investidor segue enfrentando ventos contrários de uma inflação elevada, taxas de juros subindo ao redor do mundo e tensões geopolíticas como a guerra da Rússia contra a Ucrânia.

No Brasil, a eleição presidencial, cujo segundo turno acontece neste domingo (30), também tem trazido uma volatilidade adicional para os ativos de risco.

Por outro lado, enquanto alguns países seguem com perspectivas de novas altas dos juros, no Brasil a discussão hoje recai sobre quando a autoridade monetária vai começar a reduzir a Selic. Analistas estimam cortes a partir do primeiro trimestre de 2023.

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Nesse cenário, produtos de renda fixa seguem ganhando espaço no portfólio dos investidores, dada a relação entre risco e retorno atrativa, entregando bons prêmios mesmo em ativos mais conservadores.

“Não dá para negligenciar o juro real”, afirmou Eduardo Castro, CIO da Portofino Multi Family Office.

Ele disse gostar de posições em renda fixa, principalmente no crédito estruturado, que paguem o CDI mais um spread de 3% a 4%. “É um patamar excepcional de juro real”, afirmou.

Produtos atrelados à inflação também seguem na alçada da casa, apesar dos meses de deflação em agosto e setembro. Neste caso, o foco recai sobre ativos isentos de Imposto de Renda (IR) para a pessoa física, como debêntures incentivadas e Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRIs e CRAs).

A avaliação é compartilhada por Felipe Guerra, sócio do escritório Messem Investimentos, que também disse gostar desses produtos de crédito privado, por pagarem prêmios “atrativos”, na casa de IPCA mais 6%. Ele destacou, contudo, a importância de analisar o rating (classificação de risco) das emissões, buscando aquelas de menor risco, com notas como AAA, AA ou AA+.

Para o investidor mais iniciante, ele sugeriu papéis de mais curto prazo, com vencimento até 2028. Já para aqueles com mais experiência, posições mais longas (como 2035) podem trazer retornos maiores (na casa de IPCA mais 7,5% nos produtos não isentos de IR) – mas com mais risco.

Além de Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) pós-fixados que paguem um retorno bruto na casa dos 14% ao ano, Gabriel Ferreira, assessor de investimentos do escritório Ável, disse gostar também dos títulos públicos prefixados com vencimentos mais curtos.

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“Com o mercado esperando um corte da Selic no ano que vem, o prefixado pode permitir ganhos com efeito de marcação a mercado [saída antecipada], gerando bons retornos, com prêmio acima da inflação”, disse. Nesta quarta-feira (26), o Tesouro Prefixado com prazo em 2025 pagava taxa de 11,95% ao ano.

Fundos multimercados

Além de permitir uma maior diversificação da carteira, com posições que vão da renda fixa à variável, câmbio e juros, os fundos multimercados também podem ser usados como ferramenta para capturar os prêmios com o corte da Selic.

Na Portofino, Castro citou a preferência pelos fundos classificados como multiestratégia e macro, sempre com curadoria na seleção, analisando critérios como retorno em janelas mínimas de três anos, a equipe de gestão e análise por trás do fundo etc.

“A capacidade de navegar a volatilidade tem sido muito eficiente [nesses fundos] em meio à transição de cenário.”

Bolsa

Com a visão de que a bolsa brasileira está descontada em relação a pares e desempenho passado, mas ciente de que o cenário ainda é de grande incerteza, Castro contou que a casa tem ampliado na carteira dos clientes a exposição a ações de forma cautelosa, isto é, com o uso de proteções (derivativos).

“Vemos a bolsa em um nível de preço depreciado; ela precisa de algum gatilho para destravar valor e o principal será a redução ou mera sinalização de um corte nos juros”, afirmou, chamando a atenção ainda para as incertezas em meio à eleição.

Desde o começo do ano, a posição tem sido feita via fundos de ações long biased, que possuem um “viés comprado” (aposta na alta), mas podem ter posições vendidas (aposta na queda).

“Olhando para frente, depois das eleições, vemos ventos mais a favor e aí a bolsa poderá destravar valor, independentemente do candidato eleito, por ter passado a incerteza com a disputa e o cenário fiscal”, disse.

O mesmo tem sido feito na Messem Investimentos, com a aplicação via fundos long biased ou fundos globais, permitindo proteções no caso de uma baixa dos mercados. Guerra destacou, contudo, que o investidor deve estar atento às taxas de administração, performance e ao prazo de resgate, adequando o produto ao seu perfil de risco.

Para o investidor que gosta de acompanhar relatórios e prefere fazer o próprio stock picking, Ferreira, da Ável, chamou a atenção para setores que são historicamente menos voláteis ao cenário eleitoral na bolsa. É o caso dos de energia elétrica e saneamento, por exemplo.

Investimentos alternativos

Além de ações e renda fixa, os especialistas consultados pela Bloomberg Línea destacaram ainda boas oportunidades em produtos como Fiagros e fundos imobiliários, em especial os “de papel”, que investem em CRIs e CRAs.

“São produtos com menor volatilidade, que trazem uma previsibilidade maior para o portfólio e maior liquidez”, avaliou Castro, da Portofino.

Fundos de private equity e venture capital, de maneira seletiva, também podem fazer sentido, segundo ele. Neste caso, contudo, a maior parte das opções ainda é restrita a investidores qualificados, isto é, com ao menos R$ 1 milhão investidos.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.