Bloomberg — O poder cada vez maior do presidente da China, Xi Jinping, tem testado a determinação até mesmo dos investidores há mais tempos comprados na tese do país asiático.
Aqueles que saíram deixaram um rastro impressionante de US$ 447 bilhões em perdas um dia depois do presidente Xi romper o modelo de liderança coletiva da China, o que aumentou os temores sobre o futuro crescimento do país. De acordo com o Bank of America, os gestores financeiros internacionais estão “frustrados e zangados”.
“Obviamente, as perspectivas não são boas para investimentos na China em vista das mudanças políticas”, disse Mark Mobius, co-fundador da Mobius Capital Partners.
“Dada a postura política chinesa e a reação dos Estados Unidos, só podemos esperar tensões elevadas e, possivelmente, sanções adicionais no setor de tecnologia. Sem mencionar outras barreiras comerciais”, disse Mobius.
A sangria do mercado na segunda-feira (24) expôs o impacto das estratégias de Xi que buscam exercer maior controle estatal sobre os mercados e a economia, ao mesmo tempo em que apostam na política de covid zero, que estão na contramão das adotadas no resto do mundo.
Sua mensagem de crescimento administrado para um bem comum definido pelo Estado agora não enfrenta oposição, dizem investidores, citando tecnocratas pró-crescimento fora das principais posições de liderança.
E os investidores estão levando isso a sério. O desempenho do índice MSCI China em outubro é o pior desde o ano 2000 em relação aos demais indicadores globais. Fundos estrangeiros retiraram um recorde de US$ 2,5 bilhões do mercado acionário da China continental na segunda-feira, enquanto o yuan onshore - negociado no mercado local - caiu para o nível mais baixo desde a crise financeira.
Embora os índices acionários tenham recuperado algum terreno nesta terça-feira (25), investidores permaneceram cautelosos sobre quaisquer oportunidades de compra, devido aos poucos catalisadores positivos.
“Muitas notícias ruins foram incorporadas, e a correção do mercado é claramente exagerada, mas ainda estamos buscando um ponto de inflexão que não está claro por enquanto”, disse Xiadong Bao, gestor de fundos da Edmond de Rothschild Asset Management, em Paris.
Não era para ser assim. As expectativas para o congresso do Partido Comunista eram bastante altas no início deste mês - o evento ocorre duas vezes a cada década. Investidores estavam otimistas de que a resolução do terceiro mandato de Xi resultaria em uma flexibilização de algumas das políticas hostis que desagradaram os mercados.
No entanto, ficaram chocados com a falta de medidas de apoio aos setores imobiliário ou de tecnologia, atualmente em crise, uma renovação em relação à política de covid zero e a falta de direção sobre como estimular a economia. Essa lacuna aumenta os riscos de uma maior dissociação entre o governo de Pequim e o Ocidente, o que pode afastar investidores globais e, claro, seus dinheiros.
Mesmo para fãs como Minyue Liu, especialista em investimentos da Grande China e ações asiáticas do BNP Paribas, que vê valor no mercado chinês, há preocupações.
“Devido às volatilidades atuais do mercado, reduzimos o risco no nível do portfólio, saindo de posições mais fracas com caminho mais longo e incerto para realizar a tese de investimento e diminuímos o dimensionamento de nomes que possam estar sujeitos a maior risco geopolítico”, disse a gestora em comunicado.
Com as perdas do começo da semana, investidores estrangeiros estão a caminho de se tornarem vendedores líquidos de ações chinesas pela primeira vez este ano desde que o programa de conexão de ações foi lançado em 2014. Em Hong Kong, o índice Hang Seng China Enterprises caiu 7,3% - a maior queda desde 2008. O yuan offshore também recuou para o nível mais fraco desde que começou a ser negociado em 2010.
“Com os preços em forte queda, há muito valor, mas, obviamente, nós, como todo mundo, vamos esperar para ver se as políticas se tornam ainda mais estatais”, disse Hugh Young, presidente regional da abrdn, uma gigante de investimentos do Reino Unido
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