São Paulo — A Suzano (SUZB3), produtora de celulose e papel, anunciou a aquisição da fábrica da gigante norte-americana Kimberly-Clark (KMB) no município paulista de Mogi das Cruzes, que tem capacidade anual de produção de cerca de 130 mil toneladas. O contrato divulgado nesta segunda-feira (24) engloba o negócio de “tissue” (papel higiênico, toalhas de papel, guardanapos, lenços, entre outros produtos de papel), incluindo a propriedade sobre a marca Neve.
O valor do negócio, sujeito à aprovação do órgão antitruste, não foi divulgado pela companhia. O acordo inclui ativos referentes ao negócio de fabricação, marketing, distribuição e/ou venda no país de produtos de tissue, segundo o fato relevante ao mercado.
“A operação está alinhada à estratégia de longo prazo da Suzano de ‘avançar nos elos da cadeia’, representando complementariedade geográfica e ganhos de sinergia com seu atual negócio de bens de consumo (tissue)”, citou a companhia.
As ações da Suzano fecharam em alta de 3,48% na sessão de hoje, em dia de forte queda do Ibovespa, cotadas a R$ 51,42, e acumulam desvalorização da ordem de 14% neste ano.
Um relatório do Bradesco BBI, assinado pelo analista Thiago Lofiego e enviado aos clientes em 15 de setembro, já citava a potencial operação de M&A envolvendo a Suzano e a gigante norte-americana, considerando como um “movimento estratégico interessante” e uma “possibilidade real, dadas as sinergias, distribuição, compras e SG&A [vendas, despesas gerais e administrativas] com os negócios de tissue e papel da Suzano”.
“Embora a celulose continue sendo o negócio principal da Suzano, pode haver oportunidades valiosas para a empresa aumentar sua exposição a produtos como tissue e embalagens. Em tissue, a Suzano atualmente tem capacidade de produção de 150 mil toneladas no Brasil, principalmente nas regiões Norte/Nordeste”.
O analista também mencionou que o negócio forneceria à Suzano acesso a marcas mais premium, como Neve e Scott, e em mercados de maior valor agregado, como a região Sudeste.
“Estimamos que esse negócio potencial giraria em torno de R$ 1,5 bilhão a 2 bilhões, considerando EV/ton de US$ 2,2-2,5k/ton para a capacidade da Kimberly Clark no Brasil de 150 mil toneladas”, estimou o relatório do Bradesco BBI.
A Suzano é a maior produtora de celulose do mundo, seguida pelas chilenas CMPC e Arauco, e pela norte-americana International Paper. A Suzano também é líder na produção de papel para imprimir e escrever e a segunda maior produtora de papel-cartão no Brasil.
Endividamento
No fato relevante, a Suzano informou ainda que, além da aprovação pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), a conclusão da operação depende do fim da reorganização da KC Brasil (Kimberly-Clark Brasil Indústria e Comércio de Produtos de Higiene Ltda.) para a criação e contribuição dos ativos referentes ao negócio de tissue.
Na última sexta-feira (24), o Valor informou, sem nomear fontes, que a Kimberly-Clark estava perto de vender ativos na América Latina, incluindo as marcas Neve e Kleenex, apontando a Suzano como favorita, e complementando que a asiática RGE (Royal Golden Eagle), dona da Bracell, e a americana Woodland também estavam no páreo.
A expectativa anterior do mercado era que a alavancagem da Suzano não deveria aumentar, após ter se beneficiado do ciclo de alta dos preços da celulose no mercado internacional e sucessivos reajustes de seus produtos. No fim de 2021, a dívida líquida da Suzano era de US$ 11,4 bilhões, com estimativas de permanecer abaixo de US$ 11 bilhões em 2022 e 2023.
“A alavancagem da Suzano deve permanecer abaixo de 3,0 vezes, apesar dos elevados investimentos nos próximos três anos. A alavancagem líquida da Suzano se reduziu para 2,8 vezes em 2021, de cerca de 5,0 vezes em 2020, beneficiada pela importante recuperação dos preços da celulose, e sustentou a estratégia da empresa de dar continuidade ao projeto de expansão”, apontou relatório da agência de classificação de risco Fitch, em março deste ano.
A empresa está investindo em uma nova fábrica em Ribas do Rio Pardo (Projeto Cerrado), em Mato Grosso do Sul, que aumentará sua capacidade de produção anual em 2,55 milhões de toneladas, para 13,6 milhões de toneladas, e que deve entrar em operação no 2º semestre de 2024.
Segundo a Fitch, os preços da celulose se recuperaram fortemente em 2021, após dois anos desafiadores, devido a restrições de abastecimento e logística causadas por fechamentos de fábricas, paradas para manutenção e escassez de contêineres. A elevação dos preços permitiu a Suzano reduzir a dívida e financiar parcialmente, com fluxo de caixa operacional, a construção de sua nova fábrica.
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