BRF investe US$ 500 milhões em joint venture para o mercado árabe

Gigante de alimentos cria nova unidade de negócios com sede na Arábia Saudita, com objetivo de aumentar as exportações de frango para o restante da região

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São Paulo — A BRF (BRFS3), dona de marcas como Sadia e Perdigão, decidiu reforçar sua presença no mercado árabe, uma de suas apostas da companhia para aumentar as exportações de frango. O anúncio acontece às vésperas da Copa do Mundo do Catar, em novembro e dezembro.

Com investimento combinado de US$ 500 milhões, a companhia fechou um “acordo de joint venture” (JVA) com a HPDC (Halal Products Development Company), uma subsidiária integral do PIF (Public Investment Fund), fundo soberano da Arábia Saudita. O objetivo é buscar o crescimento do segmento Halal, como é conhecido o mercado de alimentos que seguem as tradições islâmicas.

Os mercados asiático e africano se tornaram estratégicos para a BRF desde 2018, quando o frigorífico ficou proibido de exportar carne de frango para a União Europeia, após uma investigação da Polícia Federal sobre a presença de bactéria salmonela acima do limite permitido.

Em agosto, o então CEO da companhia, Lorival Luz, descartou a volta das vendas para o velho continente no curtíssimo prazo, reconhecendo o ambiente desfavorável à reabertura, dependente da relação diplomática do Brasil com o bloco europeu.

A aposta no mercado Halal foi destacado em sua última reunião com analistas de bancos, em agosto, citando que a companhia espera aproveitar o aumento da demanda no mercado árabe devido ao maior fluxo de consumidores na região com a Copa do Mundo.

“A população vai dobrar [durante a Copa do Mundo]: são 2 milhões de habitantes do Catar e mais 2 milhões de turistas hospedados não só lá, mas também nos Emirados Árabes e Arábia Saudita, pois o Catar não tem capacidade de hotelaria para todo mundo”, apontou o executivo, que acabou sendo substituído, no fim de agosto, pelo atual CEO, Miguel Gularte (ex-Marfrig).

“O JVA prevê a criação de uma sociedade na Arábia Saudita detida até 70% pela BRF e até 20% pela HPDC”, detalhou o comunicado da BRF enviado hoje à CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

A joint venture atuará na cadeia de produção de frangos na Arábia Saudita e promoverá a venda de produtos frescos, congelados e processados.

O acordo prevê a criação de uma sede para negócios Halal, um centro de inovação de alimentos Halal e um centro de excelência na Arábia Saudita.

Do investimento previsto no acordo (US$ 500 milhões), US$ 120 milhões serão contribuídos pela BRF GmbH e pela HPDC quando da constituição da sociedade, enquanto o restante será contribuído oportunamente de acordo com o plano de investimentos a ser estabelecidos pelas partes, segundo o CFO da BRF, Fabio Mariano.

Preceitos muçulmanos

Atualmente, um produto elaborado pela BRF em sua fábrica em Chapecó, no interior de Santa Catarina, é uma mortadela destinada ao mercado Halal, fabricada apenas com carne de frango e seguindo os preceitos muçulmanos.

Além do abate das aves, todos os ingredientes utilizados, como sal, farinhas e óleos, entre outros itens, atendem às normas de produção Halal, segundo a BRF. Os fornecedores precisam ser certificados no processo, assegurando a origem dos insumos, que não podem utilizar itens com origem em suínos em nenhuma etapa da fabricação.

Segundo a BRF, os principais mercados que recebem a mortadela são os países muçulmanos da África, mas muitas nações do continente sem maioria islâmica também se tornaram consumidoras do produto.

O abate das aves segue o mesmo processo realizado em Videira, também em Santa Catarina, por exemplo, com trabalhadores e supervisor muçulmanos, responsáveis pelos procedimentos de acordo com os ritos relativos à Sharia, a lei islâmica. O mercado Halal conta com 1,5 bilhão de habitantes em países muçulmanos, correspondendo a 23% da população mundial, segundo a BRF.

Elos comerciais

O Brasil tem se tornado um dos mercados mais atrativos para o investimento árabe no mundo, atraindo somas crescentes de capital principalmente nos segmentos de manufatura, turismo, alimentos e infraestrutura. Os investimentos de empresas brasileiras no mundo árabe também vêm crescendo.

De janeiro a setembro de 2022, as exportações do Brasil para os países do Oriente Médio somam US$ 12,98 bilhões, mais do que em todo o ano passado (US$ 12,0 bilhões). É o maior valor registrado na série histórica do Ministério da Economia, com início em 1997.

Em julho, o chanceler brasileiro Carlos França, durante o Fórum Econômico Brasil-Países Árabes, informou que o comércio com os países árabes atingiu a cifra histórica de US$ 24 bilhões e avaliou que ainda tem muito potencial, citando que o Brasil possui um papel de destaque no fornecimento de alimentos a países árabes populosos, carentes de solos aráveis e água, dependentes em grande medida de gêneros alimentícios importados.

Por sua vez, a relevância dos árabes se deve ao fornecimento de fertilizantes ao agronegócio brasileiro. Nas estimativas da Câmara Árabe, os árabes fornecem 26% dos fertilizantes importados pelo Brasil.

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