BRF investe US$ 500 milhões em joint venture para o mercado árabe

Gigante de alimentos cria nova unidade de negócios com sede na Arábia Saudita, com objetivo de aumentar as exportações de frango para o restante da região

Mercado árabe é aposta para elevar as exportações de frango após impasse com a União Europeia
24 de Outubro, 2022 | 01:41 PM

São Paulo — A BRF (BRFS3), dona de marcas como Sadia e Perdigão, decidiu reforçar sua presença no mercado árabe, uma de suas apostas da companhia para aumentar as exportações de frango. O anúncio acontece às vésperas da Copa do Mundo do Catar, em novembro e dezembro.

Com investimento combinado de US$ 500 milhões, a companhia fechou um “acordo de joint venture” (JVA) com a HPDC (Halal Products Development Company), uma subsidiária integral do PIF (Public Investment Fund), fundo soberano da Arábia Saudita. O objetivo é buscar o crescimento do segmento Halal, como é conhecido o mercado de alimentos que seguem as tradições islâmicas.

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Os mercados asiático e africano se tornaram estratégicos para a BRF desde 2018, quando o frigorífico ficou proibido de exportar carne de frango para a União Europeia, após uma investigação da Polícia Federal sobre a presença de bactéria salmonela acima do limite permitido.

Em agosto, o então CEO da companhia, Lorival Luz, descartou a volta das vendas para o velho continente no curtíssimo prazo, reconhecendo o ambiente desfavorável à reabertura, dependente da relação diplomática do Brasil com o bloco europeu.

A aposta no mercado Halal foi destacado em sua última reunião com analistas de bancos, em agosto, citando que a companhia espera aproveitar o aumento da demanda no mercado árabe devido ao maior fluxo de consumidores na região com a Copa do Mundo.

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“A população vai dobrar [durante a Copa do Mundo]: são 2 milhões de habitantes do Catar e mais 2 milhões de turistas hospedados não só lá, mas também nos Emirados Árabes e Arábia Saudita, pois o Catar não tem capacidade de hotelaria para todo mundo”, apontou o executivo, que acabou sendo substituído, no fim de agosto, pelo atual CEO, Miguel Gularte (ex-Marfrig).

“O JVA prevê a criação de uma sociedade na Arábia Saudita detida até 70% pela BRF e até 20% pela HPDC”, detalhou o comunicado da BRF enviado hoje à CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

A joint venture atuará na cadeia de produção de frangos na Arábia Saudita e promoverá a venda de produtos frescos, congelados e processados.

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O acordo prevê a criação de uma sede para negócios Halal, um centro de inovação de alimentos Halal e um centro de excelência na Arábia Saudita.

Do investimento previsto no acordo (US$ 500 milhões), US$ 120 milhões serão contribuídos pela BRF GmbH e pela HPDC quando da constituição da sociedade, enquanto o restante será contribuído oportunamente de acordo com o plano de investimentos a ser estabelecidos pelas partes, segundo o CFO da BRF, Fabio Mariano.

Em Chapecó, BRF produz mortadela seguindo os preceitos muçulmanos para exportação para mercado Halal

Preceitos muçulmanos

Atualmente, um produto elaborado pela BRF em sua fábrica em Chapecó, no interior de Santa Catarina, é uma mortadela destinada ao mercado Halal, fabricada apenas com carne de frango e seguindo os preceitos muçulmanos.

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Além do abate das aves, todos os ingredientes utilizados, como sal, farinhas e óleos, entre outros itens, atendem às normas de produção Halal, segundo a BRF. Os fornecedores precisam ser certificados no processo, assegurando a origem dos insumos, que não podem utilizar itens com origem em suínos em nenhuma etapa da fabricação.

Segundo a BRF, os principais mercados que recebem a mortadela são os países muçulmanos da África, mas muitas nações do continente sem maioria islâmica também se tornaram consumidoras do produto.

O abate das aves segue o mesmo processo realizado em Videira, também em Santa Catarina, por exemplo, com trabalhadores e supervisor muçulmanos, responsáveis pelos procedimentos de acordo com os ritos relativos à Sharia, a lei islâmica. O mercado Halal conta com 1,5 bilhão de habitantes em países muçulmanos, correspondendo a 23% da população mundial, segundo a BRF.

Elos comerciais

O Brasil tem se tornado um dos mercados mais atrativos para o investimento árabe no mundo, atraindo somas crescentes de capital principalmente nos segmentos de manufatura, turismo, alimentos e infraestrutura. Os investimentos de empresas brasileiras no mundo árabe também vêm crescendo.

De janeiro a setembro de 2022, as exportações do Brasil para os países do Oriente Médio somam US$ 12,98 bilhões, mais do que em todo o ano passado (US$ 12,0 bilhões). É o maior valor registrado na série histórica do Ministério da Economia, com início em 1997.

Em julho, o chanceler brasileiro Carlos França, durante o Fórum Econômico Brasil-Países Árabes, informou que o comércio com os países árabes atingiu a cifra histórica de US$ 24 bilhões e avaliou que ainda tem muito potencial, citando que o Brasil possui um papel de destaque no fornecimento de alimentos a países árabes populosos, carentes de solos aráveis e água, dependentes em grande medida de gêneros alimentícios importados.

Por sua vez, a relevância dos árabes se deve ao fornecimento de fertilizantes ao agronegócio brasileiro. Nas estimativas da Câmara Árabe, os árabes fornecem 26% dos fertilizantes importados pelo Brasil.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.