Café com mercado: eleição divide apostas e só juro é consenso entre gestoras

Daniela Lima, economista da Kinea, Carlos Calabresi, diretor da Garde, e Marcelo Ferman, CEO da Parcitas, são os convidados de conversa com a Bloomberg News

Camisetas com os candidatos Jair Bolsonaro e Lula na estampa em barraca de rua no estado do Pará
Por Barbara Nascimento e Felipe Saturnino
24 de Outubro, 2022 | 08:15 PM

Bloomberg — Três gestoras, três visões variadas para o resultado da eleição presidencial do próximo domingo (30): a disputa apertada entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro deixa o balcão de interpretações em aberto.

A Kinea Investimentos vê maior probabilidade de o petista, que lidera numericamente as principais pesquisas, voltar ao poder. Para a Garde Asset Management, Bolsonaro é hoje o favorito. E há quem veja o presidente ganhar momentum, mas ainda não crave nenhum dos lados: “No final das contas, ainda é jogar uma moeda para cima. A probabilidade hoje não é 70/30, é bem mais 50/50”, disse Marcelo Ferman, CEO e gestor da Parcitas Investimentos.

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A discussão, evidentemente, dominou esta edição do “Café com Mercado”, da Bloomberg News, e foi quase como se não houvesse um Copom no meio do caminho, nesta quarta-feira (26). Aliás, em meio às dúvidas, o consenso é a aposta na queda dos juros curtos, com a visão de que a Selic começa a cair no próximo ano independentemente de quem vencer as eleições, com um Banco Central independente.

“Juros são a estratégia mais segura”, afirmou Daniela Lima, economista para Brasil da Kinea.

As gestoras optaram por não montar posições no câmbio, diante da proximidade das eleições e com a turbulência externa provocada pela política de aperto monetário dos países desenvolvidos e a desaceleração da China. Além disso, o real tem alta de cerca de 5,5% no ano, a maior entre as principais moedas.

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“O real é o patinho bonito dos ativos, mas o externo está muito contra”, disse Carlos Calabresi, diretor de investimentos da Garde Asset Management.

Nesta edição do “Café com Mercado”, em que gestores e economistas conversam em um café da manhã no escritório da Bloomberg News, participaram:

  • Daniela Lima, economista para Brasil da Kinea Investimentos
  • Carlos Calabresi, diretor de investimentos da Garde Asset Management
  • Marcelo Ferman, CEO da Parcitas Investimentos

Veja a seguir alguns dos principais temas debatidos:

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Eleições acirradas

Não há consenso entre os participantes nem sobre quem vencerá a eleição nem sobre o perfil de um eventual governo Lula. Kinea e Parcitas acreditam que o petista deve adotar postura mais moderada, principalmente no início do mandato. “Ele tem incentivos para não romper com o mercado”, disse Daniela. Para Ferman, depois de um início “razoável”, a tendência é que um potencial governo petista se desgaste ao longo do tempo.

Já Calabresi, da Garde, avaliou que as duas agendas são muito diferentes: Bolsonaro é pró-mercado, “apesar dos ruídos”, enquanto há poucas informações sobre o plano econômico de Lula. “O pouco que tem se visto lembra Dilma 2.”

Eles são unânimes ao avaliar que ativos de risco, como os juros longos, tendem a mostrar desempenho pior em um cenário com Lula. Os participantes não descartaram a possibilidade de ruído de curto prazo com alguma contestação do resultados das eleições, que seria temporário.

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Apostas em juros

A aposta na queda dos juros mais curtos é vista como um porto seguro. “Como o cenário para a eleição é relativamente binário, estamos fazendo muitas operações com estrutura de opções, seja na bolsa ou no câmbio. A única posição que temos um pouco mais ‘clean’ é aplicada em juros curtos e médios”, disse Calabresi.

A gestora também disse ver valor em inflação implícita, que opera acima de 5,5%, “ignorando” a meta de inflação.

“Estamos doados em juros pela possibilidade de que ocorra um corte antes da hora ou [que seja] mais agressivo do que a curva precifica”, disse Ferman. “Acho que o BC vai ter que cortar ‘big time’. Se o mundo desacelerar muito e o juro aqui abrir por causa de riskoff, provavelmente a gente aplica mais.”

Na Kinea, apostar na queda de juros é operação tática e a preferência é por vender inflação implícita. “Passamos a alocar mais risco nos mercados locais em vez do exterior e vemos o Brasil com prêmios de risco elevados”, disse Daniela.

  Evolução da projeção de juros futuros em contratos negociados no mercado

A hora do corte do juro

O BC poderia cortar a Selic no primeiro semestre de 2023 caso o câmbio seja favorecido pelo cenário externo ou com uma sinalização fiscal responsável, avaliou Daniela. Um Lula menos moderado, entretanto, postergaria as quedas da taxa básica de juros.

“Um Lula mais expansionista do ponto de vista fiscal deixaria o trabalho do BC infinitamente mais difícil”, disse a economista. A Kinea tem como cenário-base a queda da Selic a partir de agosto de 2023, com taxa de 10% no fim do próximo ano.

“Estamos mais agressivos com cortes pela projeção de inflação mais baixa”, afirmou Calabresi, que vê um possível corte na primeira metade do ano. “A variável fiscal vai pesar bastante na equação”, ponderou.

“Na hora de cortar, é de 100 em 100 [pontos base], ou corta ou não corta”, disse Ferman.

Estatais e ‘kit Lula’

De olho em uma vitória de Bolsonaro, a Garde compra Petrobras (PETR3, PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3) via opções e enxerga um potencial de alta mais significativo no banco público. “Do ponto de vista eleitoral, é a nossa maior aposta”, disse Calabresi.

Na Kinea, a aposta direcional é em empresas de infraestrutura. “Do ‘kit Lula’, temos alguma coisa em construtoras de baixa renda, que tendem a performar um pouco melhor em caso de vitória dele”, afirmou Daniela.

Já a Parcitas possui opções de venda do Ibovespa para o caso de vitória de Lula e só tem posições em ações no exterior. “Algumas companhias espetaculares caíram muito”, disse Ferman. O fundo compra big techs como Microsoft (MSFT), Google (GOOGL) e Amazon (AMZN), mas está liquidamente vendido em bolsa americana.

Apostas no mercado

  • Kinea: está vendida em inflação implícita, comprada em real contra moedas asiáticas, ações de infraestrutura, de construtora de baixa renda e de energia na B3; vendida em bolsas dos EUA, da Europa e da Ásia e aplicada em juros da Nova Zelândia.
  • Garde: está aplicada em pré e comprada em BB e Petrobras via opções; vendida em bolsa dos EUA e nas moedas da China, de Taiwan e do Reino Unido e tomada em juros no Japão.
  • Parcitas: está aplicada em pré, opção de venda de Ibovespa; nos EUA, está tomada em juro curto e aplicada em juro de 10 anos, comprada em ações, vendida em índices de ações; na Europa, tomada em juros e vendida em euro.

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