‘Estamos prontos para o IPO assim que o mercado permitir’, diz CEO da Cobasi

Em entrevista à Bloomberg Línea, Paulo Nassar diz que a empresa deve crescer 28% em receitas neste ano e revela o plano para retomar a liderança do mercado

Por

Bloomberg Linea — O mercado pet é um dos mais aquecidos do varejo brasileiro. O número de animais de estimação nas casas brasileiras só aumenta a cada ano - são cerca de 54 milhões de cães e 24 milhões de gatos, segundo estimativas da associação nacional do setor, a Abinpet -, em um movimento que ganhou impulso com a pandemia de covid. A demanda crescente alimentou também a competição.

A varejista Cobasi, outrora líder do mercado, perdeu a posição com a principal concorrente, a Petz (PETZ3), abrindo o capital em 2020 e investindo para acelerar a expansão. Para Paulo Nassar, CEO da Cobasi, a estratégia de crescimento passa também pelo aumento dos investimentos, mas de maneira cautelosa, assim como a empresa é administrada há anos, segundo disse em entrevista à Bloomberg Línea.

Segundo o executivo, a Cobasi está pronta para abrir o capital por meio de um IPO (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês), tão logo as condições do mercado melhorem e os investidores estejam mais receptivos. Para ele, é melhor esperar do que agir com pressa em tempos incertos.

“Somos muito cuidadosos e criteriosos. Passamos por crises no país, mas sempre com os pés no chão. É importante crescer, mas com resultados, estrutura e disciplina financeira. Temos 37 anos de existência e nunca nos endividamos. Temos zero alavancagem e crescemos com capital próprio.”

Na avaliação do CEO da Cobasi, o cenário econômico não deve mudar muito qualquer que seja o candidato eleito para comandar o país a partir de 2023. Mas ele aponta qual a sua visão de país como empreendedor. “Existe uma expectativa nossa de ver o país caminhando para um quadro com menos intromissão do Estado, seja na vida de pessoas físicas ou das empresas.”

Segundo Nassar, a empresa continua a crescer ano a ano, tanto em vendas digitais quanto físicas. Em 2021, a Cobasi obteve receitas de R$ 2,1 bilhões, com aumento de 30% ante 2020. Para 2022, a expectativa é chegar a R$ 2,7 bilhões (alta de 28%).

É uma disputa acirrada com a Petz, líder do mercado que ampliou de R$ 1,7 bilhão em 2020 para R$ 2,5 bilhões no ano passado as receitas brutas. No primeiro semestre deste ano, a Petz chegou a R$ 1,54 bilhão, alta de 36% na base anual de comparação.

Para acelerar o crescimento, a Cobasi mantém o plano de abertura de novas lojas no país, das atuais 167 para a 185 até o final do ano (a concorrente Petz tinha 187 até julho e espera chegar a 218 unidades até o fim do ano). Nassar afirmou que todas as lojas “já nascem com as plataformas digitais conectadas para que os clientes tenham a opção de comprar online e retirar fisicamente”.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista, editada para fins de clareza:

Bloomberg Línea: Como foram os anos de pandemia para a empresa?

Paulo Nassar: A Cobasi vem em trajetória de expansão das atividades, que é basicamente focada em alguns pilares: a expansão da atividade com a abertura de novas lojas e a intensificação de investimentos no canal digital. Muito antes da pandemia, passamos por uma profunda reestruturação digital, com investimento em tecnologia, de tal forma que conseguimos turbinar essa área e preparar a empresa para a omnicanalidade. Quando chegou a pandemia, já estávamos com os processos digitais funcionando e pudemos ganhar escala. Conseguimos capturar a necessidade de as pessoas serem atendidas de forma remota.

Até meados de 2020, a Cobasi foi a líder em vendas no setor pet. Nós costumamos dizer que a Cobasi sempre foi e é um modelo para todos no setor. Tem um formato inovador, começando lá na década de 1990. Outras companhias seguiram nossos passos para criar os seus negócios. Acho positivo porque ajudamos a educar esse mercado, mostrando tendências e caminhos corretos para desbravar uma nova frente de varejo que antes não existia. Nisso, nós continuamos sendo vanguarda.

Em 2020, a Cobasi deixou de ser a líder do setor pet. Como recuperar a posição?

Viemos crescendo ano a ano, e em vendas digitais também. Em 2020, a abertura de capital do nosso concorrente, que teve acesso a investimento primário, possibilitou que eles conseguissem acelerar seu crescimento. O que estamos fazendo nesse sentido: a Cobasi aumentou o ritmo de crescimento e, no ano passado, abrimos 37 novas lojas, mesmo número da concorrência. E o importante não é abrir só lojas mas que entreguem a experiência completa em termos de produtos, preços e experiência.

Somos muito cuidadosos e criteriosos. Passamos por crises no país, mas sempre com os pés no chão. É importante crescer, mas com resultados, estrutura e disciplina financeira. Temos 37 anos de existência e nunca nos endividamos. Temos zero alavancagem e crescemos com capital próprio.

No ano passado, admitimos um fundo de investimentos da Kinea para dar um conforto financeiro para acelerar ainda mais o nosso crescimento. A consequência disso é que, em 2022, devemos cumprir uma meta de inauguração de novas 40 lojas. Hoje temos 167 lojas. Até o final do ano, devemos chegar próximos a 185 lojas. Mais 18 devem ser abertas.

O número de animais de estimação dentro das casas tem crescido nos últimos anos. Como a Cobasi se preparou para essa mudança de comportamento?

Houve uma alteração e um movimento grande das pessoas e das famílias, que antes não tinham proximidade com seus animais de estimação, em trazê-los para dentro de casa. Eles passaram a frequentar a sala de estar e a dormir com seus tutores. Hoje eles são parte de nossas famílias. É um movimento mundial.

O pet veio para preencher uma lacuna de relacionamento nas famílias, principalmente do ponto de vista afetivo. Por isso, enxergamos a Cobasi como um elo que liga os pais de pet aos seus animais de estimação. Somos mediadores de afeto. Isso veio para ficar.

Com o aumento da longevidade das pessoas, senhores e senhoras que veem os filhos sair de casa passam a adotar um pet. Vemos famílias, casais que estão juntos, que postergam a decisão de ter filhos, mas não postergam a de ter um pet. É um dos mercados de grande expansão de forma mundial.

Por aqui no Brasil, o mercado está em seus estágios iniciais. Faltam boas lojas e bons operadores. Em diversas cidades existe espaço para crescimento. A Cobasi quer liderar esse mercado.

A Cobasi deve abrir capital em breve?

A Cobasi é uma empresa que está pronta, preparada e auditada com governança corporativa consolidada. Estamos preparados para a abertura de capital no momento em que a janela do mercado de capitais estiver positiva. Isso depende dos rumos que o Brasil vai tomar a partir do ano que vem. De como os investidores internacionais e nacionais verão o Brasil a partir de 2023.

A abertura de capital vai acontecer no momento que julgarmos mais necessário trazer capital primário para crescer e completar nosso ecossistema, não só de varejo mas também de serviços, para que consigamos oferecer a melhor forma de atender nossos clientes.

Quais são os próximos passos da Cobasi?

Nossos próximos passos são: continuar a expansão nacional da rede, chegando às cidades médias. Nosso objetivo são cidades acima de 360 mil habitantes, sendo que a barra pode baixar para uma população menor, desde que a cidade comporte um número interessante de pessoas que possam ser clientes da Cobasi. Nossa expansão vai continuar em ritmo acelerado porque temos muito espaço no Brasil ainda, e para muitas verticais de varejo.

Vemos nosso crescimento baseado na expansão de lojas físicas e digital. Quando falamos de vendas digitais, estamos falando de vendas feitas com rentabilidade. A venda digital traz, muitas vezes, descontos e pode não deixar resultado nenhum na mesa. São empresas que consomem caixa. Nós olhamos resultado e buscamos resultado como meta mensal e anual.

Queremos expandir as lojas físicas, concomitantemente com o digital e o crescimento dos serviços. Até o fim de 2023, nós devemos alcançar 20 ou 23 estados da federação com a presença da Cobasi e depois avaliamos cidades do interior que façam sentido.

Está confiante em um cenário econômico positivo para o ano que vem?

O Brasil traz um desafio muito grande para nós empreendedores. E o cenário econômico não deve mudar muito qualquer que seja o candidato eleito. Mas existe uma expectativa nossa de ver o país caminhando para um quadro com menos intromissão do Estado, seja na vida de pessoas físicas ou das empresas, de forma que estejamos mais liberados e livres para caminhar e contribuir para o país.

Vemos um potencial grande por aqui, mas o país é muito engessado e travado, o que impede as negociações. Sonhamos com um país menos regulado e com mais espaço para empreender.

Leia também

Carlos Wizard: ‘se vencer a esquerda ou a direita, parabéns’

Além do Rock in Rio: as apostas da família Medina, do e-sports ao metaverso

A Meta quer que você trabalhe no metaverso. Saiba como deve ser