Como a Marfrig pretende crescer em plant-based nos EUA com o mercado em baixa

CEO da PlantPlus Foods, joint venture da Marfrig com a ADM, diz à Bloomberg Línea que estratégia passa por conquistar público que vai além do tradicional do segmento

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Bloomberg — Não faz muito tempo, alguns anos atrás, os alimentos plant-based representavam um dos segmentos considerados mais promissores do mercado, com IPOs concorridos de empresas como Beyond Meat e sua adoção por redes globais como o Burger King. Mas isso tem mudado recentemente, em particular nos Estados Unidos, o maior mercado de alimentos e bebidas do mundo em valor.

As vendas do segmento estão estagnadas no mercado americano, como reflexo também do ambiente econômico adverso, com inflação próxima dos 10%, e empresas estão revendo seus projetos (veja mais abaixo).

Mesmo nesse ambiente desafiador, a Marfrig (MRFG3) mantém firme seus planos de expansão da PlantPlus Foods, uma joint venture formada com a americana ADM para atuar no segmento plant-based.

A empresa, criada em 2020 no Brasil, adquiriu no começo deste ano a canadense Sol Cuisine e a americana Hilary’s para elevar sua produção e suas vendas por todo o continente, apoiados na tese da demanda crescente que só tende a aumentar com o tempo - especialmente na América do Norte.

Em entrevista à Bloomberg Línea, John Pinto, CEO da PlantPlus, disse que a intenção sempre foi ter uma cobertura por toda a América, de norte a sul, uma vez que a região já representa uma fatia importante do consumo de proteínas à base de planta no mundo. Segundo o executivo, a estratégia da empresa difere do que já foi feito na região, com um portfólio de produtos diversificado.

“A Marfrig e a ADM têm investido pesado na tecnologia do sabor, com resultados bastante expressivos, e este é nosso foco agora”, afirmou Pinto, referindo-se aos próximos passos e aos centros de inovação que a empresa possui no Brasil e nos Estados Unidos.

A PlantPlus anunciou que deve começar a vender sua carne à base de plantas para redes de alimentos e restaurantes dos Estados Unidos até o fim do ano, de acordo com um porta-voz à Bloomberg News - o que já estava nos planos de expansão da empresa. No Brasil, a PlantPlus fornece carnes alternativas vegetais para as redes Burguer King (BKBR3), Subway e Outback.

O plano, segundo o CEO, é conquistar e fidelizar o paladar dos chamados “flexitarianos”, como são chamadas as pessoas que têm dieta flexível e desejam reduzir o consumo de alimentos de origem animal.

Para isso, a empresa aposta em usar a tecnologia para ir além do chamado hambúrguer vegetal e melhorar a textura e o sabor dos alimentos, que possuem uma proteína com base em ervilha, soja e beterraba.

O executivo conta que os produtos buscam atender uma variedade de padrões e dietas alimentares, alguns dos quais crescentes, como o vegano, o vegetariano, a mediterrânea ou qualquer outra que se concentre no aumento do consumo de frutas e vegetais. “As pessoas procuram mais e mais pela riqueza nutricional das plantas, por isso optamos por trabalhar com diferentes bases de proteína vegetal”, disse.

Um relatório do The Good Food Institute mostra que, de fato, existe essa preocupação em parte do mercado consumidor. São hábitos de consumo estimulados em certa medida pelos flexitarianos, em busca de uma alimentação mais diversificada, conforme também mencionado pelo executivo.

O estudo estima que, em 2021, os flexitarianos já representavam quase um quarto da população mundial - 23%, com crescimento de 2% em relação a 2020.

Mercado enfrenta desafios

A ofensiva da Marfrig com a ADM em plant-based destoa da estratégia e das iniciativas de concorrentes de peso no setor.

A gigante JBS (JBSS3), maior empresa de proteínas animais do mundo, anunciou no começo do mês que decidiu fechar sua unidade de produção de carnes vegetais no mercado americano, chamada de Planterra, pouco mais de dois anos depois do seu lançamento. Disse na ocasião que vai concentrar as operações em plant-based na Europa e no Brasil, mercados em que a demanda é crescente.

Já a Beyond Meat (BYND), uma das pioneiras do mercado, revisou para baixo suas projeções para as vendas no ano e disse que vai cortar cerca de um quinto de sua força de trabalho global. As ações da empresa, que valiam US$ 107 há um ano, hoje são negociadas a US$ 12,63, uma queda de 88%.

As dificuldades refletem um momento de vendas estagnadas no varejo americano depois de uma fase de rápido crescimento - e de inflação persistente na maior economia do mundo. Dados da consultoria Information Resources, divulgados pela Bloomberg News, indicam que o volume de carnes alternativas congeladas vendido em supermercados caiu 10,5% em 12 meses até o início de setembro.

Educação do consumidor

“Embora a participação [dos flexitarianos no mercado] ainda seja baixa, isso cria para nós a oportunidade de educar os consumidores, oferecendo uma gama maior de opções”, afirmou o CEO da PlantPlus.

Com a expansão da produção e da distribuição, os planos da empresa incluem agora avançar ainda mais no ganho de escala de produção e na tecnologia para diminuir os custos de desenvolvimento e fabricação, o que permitirá tornar o produto mais acessível para todos os públicos.

A Marfrig detém 70% da PlantPlus, e a ADM, os demais 30%. No ano passado, a presidente global de ingredientes especiais da ADM, Leticia Goncalves, disse que a empresa não estava buscando mercados já existentes e que acreditava que a categoria continuaria a crescer dois dígitos.

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