Pague Menos planeja distribuir JCP e revisar ganho de sinergias com Extrafarma

Segunda maior rede do varejo farmacêutico prevê juro sobre capital próprio para capturar benefícios fiscais, diz CFO em entrevista à Bloomberg Línea

Pague Menos, que teve rating elevado pela Fitch após aval do Cade à compra da Extrafarma, planeja distribuir JCP pela primeira vez desde a abertura de capital na B3 há 2 anos
21 de Outubro, 2022 | 09:00 AM

São Paulo — Segunda maior rede do varejo farmacêutico no Brasil, atrás do grupo RaiaDrogasil (RADL3), a Pague Menos (PGMN3) decidiu acelerar a integração da Extrafarma, depois de receber o aval do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) em julho.

Fechamento de lojas e cortes de diretores do ex-ativo do Grupo Ultra já foram efetuados. A companhia também planeja distribuir JCP (juro sobre capital próprio) pela primeira vez desde a abertura do seu capital há dois anos na B3, com o objetivo de capturar benefícios fiscais no fim deste ano.

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Em entrevista à Bloomberg Línea, o CFO da Pague Menos, Luiz Novais, disse que a companhia poderá revisar seu guidance (projeção) para o total das sinergias com a incorporação da Extrafarma.

O ritmo da integração dos ativos da Extrafarma está mais rápido do que previsto inicialmente. Já desmobilizamos a diretoria e a parte administrativa. Já fechamos 10 lojas da Extrafarma no primeiro mês e vamos conseguir melhores condições de compra de produtos com os fornecedores no ano que vem. Podemos revisitar o guidance”, afirmou o executivo.

Ele explica que a meta inicial era capturar R$ 20 milhões no primeiro trimestre da integração, mas a companhia já conseguiu alcançar cerca de R$ 38 milhões, quase o dobro do previsto no guidance.

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“Dos sete diretores da Extrafarma, só um permaneceu”, exemplificou Novais.

A Pague Menos tinha dado um guidance entre R$ 180 milhões e R$ 275 milhões para o total de sinergias, a maior parte a ser capturada em 2023 e 2024.

Endividamento

A captura gradual de sinergias de R$ 180 milhões até 2026 foi uma das premissas citadas pela agência de classificação de risco Fitch Ratings ao atribuir em julho “perspectiva estável” ao rating corporativo da Pague Menos: na ocasião, classificou a nota em “AA-(bra)”, referente à proposta de 7ª emissão de debêntures da companhia, no montante de até R$ 500 milhões e com vencimento em 2026. Os recursos se destinavam ao refinanciamento de dívidas e ao reforço do caixa.

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O rating da Pague Menos está três graus abaixo do da RaiaDrogasil. “A RD é a maior empresa da indústria e se beneficia de elevada escala, diversificação geográfica e variedade de marcas. O histórico de volátil geração de caixa operacional da Pague Menos em relação à robusta e sólida geração de caixa da RD, bem como seu maior desafio de crescimento, também diferenciam os ratings.”

Outra premissa do rating da Pague Menos era a ausência de pagamentos de dividendos até 2024. O CFO da companhia diz, no entanto, que os investidores do papel podem ter boas notícias no fim do ano em relação à distribuição de proventos.

“Temos a pretensão de distribuição de JCP a fim de obter benefícios fiscais”, afirmou.

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Com a integração da Extrafarma, a Pague Menos planeja desacelerar a abertura de lojas no próximo ano, segundo Novais. O guidance atual prevê 200 novas lojas em dois anos (80 em 2021 e 120 em 2022), que deve ser cumprido. Para 2023, a meta será abrir 60 unidades e elevar para 120 apenas em 2024.

O negócio de R$ 700 milhões, que fez a Pague Menos assumir a vice-liderança do ranking do varejo farmacêutico, superando o Grupo DPSP (Drogarias Pacheco e São Paulo), aumentou a alavancagem da companhia com sede em Fortaleza, no Ceará. A transação teve seu pagamento escalonado: R$ 300 milhões em 2022, R$ 200 milhões em 2023 e R$ 200 milhões em 2024, sendo que cerca de R$ 100 milhões podem ocorrer via equalização do capital de giro da Extrafarma, segundo a Fitch.

“O cenário-base do rating da Pague Menos contempla um aumento temporário na relação dívida líquida ajustada/EBITDAR, para 4,0 vezes em 2022, com redução para 3,6 vezes em 2023. Estas premissas refletem o desembolso líquido de R$ 300 milhões da primeira parcela da aquisição da Extrafarma em 2022, seguido pela melhora na geração de caixa e nas margens da companhia após a captura de sinergias, em 2023. A partir de 2024, a alavancagem líquida ajustada deve ficar próxima a 3,0 vezes”, analisou a Fitch.

A agência de classificação de risco acrescentou que a dívida líquida esperada para a Pague Menos é em torno de R$ 1,4 bilhão em 2022 e 2023, incluindo as obrigações com aquisição, frente aos R$ 560 milhões apurados em 2021, que não incluíam tais obrigações.

Fechamento de lojas

Em entrevista à Bloomberg Línea, no fim de junho, o CEO da Pague Menos, Mário Queirós, já indicava que a companhia fecharia cerca de 10% das lojas da Extrafarma, antes pertencentes ao grupo Ultra, devido à avaliação de que tinham baixa performance de vendas ou à proximidade com suas unidades.

A nova Pague Menos passaria a contar com cerca de 1.600 lojas, após a absorção de cerca de 390 unidades. O Cade só aprovou a aquisição com a condição de venda de oito unidades.

À Bloomberg Línea, o CFO da Pague Menos descartou um plano de captação de recursos no mercado de capitais em 2023. “Já contratamos toda a rolagem da dívida para 2022 e 2023. Temos ainda R$ 200 milhões em caixa”, disse.

O executivo afirmou que, inicialmente, esperava-se que a necessidade de estoque da Extrafarma fosse de R$ 120 milhões, mas que, após o início da integração, descobriu-se que o valor é maior, de R$ 180 milhões.Mas os fornecedores estão nos dando prazos adicionais e esperamos um aumento da venda por loja com o incremento dos estoques”.

Canais digitais

No seu primeiro “Investor Day” após o aval do Cade para a conclusão da compra da Extrafarma, nesta sexta-feira (21), a Pague Menos vai antecipar que, no terceiro trimestre, os canais digitais da companhia atingiram uma participação de mercado de 11,2%.

“A companhia deve se tornar a segunda maior rede em venda total nos canais digitais, atrás da Panvel, que estava com 15%. A RD tinha 10,5%. Consideramos isso uma vitória, porque nossa atuação é concentrada nas regiões Norte e Nordeste, onde a adesão do consumidor ao digital ainda é menos madura na comparação com o Sul e Sudeste, de nossas concorrentes”, avaliou Novais.

O CFO disse ainda que a companhia criou uma diretoria de M&A (fusões e aquisições), a fim de analisar oportunidades, mas descarta alguma investida maior, transformacional, no próximo ano devido ao trabalho focado na integração da Extrafarma. Em junho, o CEO da Pague Menos já revelava a intenção da Pague Menos de fisgar startups para explorar as tendências do setor de saúde como telemedicina.

O fortalecimento do canal digital da companhia era um dos pontos citados pela Fitch, em julho, para elevar o rating da companhia após a aprovação do Cade ao negócio.

As sinergias da operação devem ocorrer principalmente por meio de melhores condições de compra, logística e otimização de despesas gerais. A empresa terá, ainda, a possibilidade de aumentar a participação de serviços nas lojas da Extrafarma e fortalecer seu canal digital”, resumiu a agência de classificação de risco.

Desafios

O caminho do crescimento da nova vice-líder do varejo farmacêutico, no entanto, apresenta obstáculos, segundo a Fitch.

“A Pague Menos tem como desafio gerenciar seu plano de crescimento, à medida que integra a robusta operação da Extrafarma. Mesmo com a redução nos investimentos em 2023, o atual ambiente de negócios impõe diversas limitações à empresa, entre elas, gerenciamento das margens, aumento nos volumes, especialmente de não medicamentos – em torno de 23% das vendas –, maturação das novas lojas e gerenciamento dos custos e despesas.”

“A companhia tem, ainda, o desafio de gerenciar seu capital de giro de forma a não prejudicar significativamente sua geração de caixa operacional e a alavancagem financeira. Apesar destas pressões temporárias, os robustos fundamentos do setor permanecem preservados a médio e longo prazos”, concluiu a Fitch.

Na B3, a ação da Pague Menos acumula uma desvalorização de 38,50% no ano. Em 52 semanas, o papel cravou mínima de R$ 3,97 e máxima de R$ 11,18. Na última quinta-feira (21), fechou cotada a R$ 5,90. A companhia tem um valor de mercado de R$ 2,55 bilhões.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.