Bloomberg — A primeira-ministra Liz Truss renunciou ao cargo nesta quinta-feira (20) pouco mais de um mês após assumir a liderança do governo do Reino Unido, seguindo a pressão de parlamentares do Partido Conservador depois do fracasso em colocar em prática o seu plano ecômico.
A proposta previa cortes severos de impostos, sobretudo para os mais ricos e sem apresentar fonte de recursos para cobrir a renúncia fiscal: isso abalou os mercados e levou a libra a mínimas históricas, como reflexo de uma crise de confiança sem precedentes sobre a economia britânica.
Depois de resistir por algumas semanas, Truss acabou cedendo às pressões e recuou da proposta de corte de impostos, mas perdeu dois ministros importantes e a confiança de quase todos os parlamentares de seu próprio partido. A premiê teve o governo mais curto da história do Reino Unido.
Bastidores da queda
Em um dia tumultuado no Parlamento na quarta-feira (19), ela demitiu uma ministra sênior, e uma votação rotineira na Câmara foi dominada pelo caos provocado por membros do Partido Conservador.
Na manhã desta quinta, o secretário de imprensa de Truss havia dito a jornalistas por mensagem de texto que Downing Street iniciaria uma ação disciplinar contra os conservadores que não apoiaram o governo em uma votação na véspera, que foi tratada como uma moção de confiança. Parlamentares já haviam sido ameaçados de expulsão do partido se não seguissem a mesma linha.
Ministros do gabinete participaram de conversas tarde da noite de quarta para quinta sobre se Truss deveria renunciar, de acordo com duas pessoas a par das discussões. E um número crescente de parlamentares do Partido Conservador queria que Truss renunciasse imediatamente – até sua ex-aliada Sheryll Murray, segundo a qual a posição da primeira-ministra era “insustentável”, disse no Twitter.
“Precisamos efetuar uma mudança, francamente, para acabar com essa confusão”, disse o veterano Crispin Blunt, do Partido Conservador, em entrevista à BBC. Simon Hoare, outro rebelde convicto do partido, afirmou que Truss tinha 12 horas para mudar a situação.
Mesmo a ministra de gabinete enviada para defender o governo na mídia não parecia confiante sobre as perspectivas para Truss. Questionada na Times Radio sobre se Truss, de 47 anos, iria liderar os conservadores na próxima eleição – prevista para janeiro de 2025, no máximo –, a ministra dos Transportes, Anne-Marie Trevelyan, disse: “No momento, esse ainda é o cenário”.
Sem candidato de consenso
O problema para os “rebeldes” do Partido Conservador é a falta de um candidato óbvio que una o partido para substituir Truss como líder. O ex-ministro das Finanças Rishi Sunak e a líder da Câmara dos Comuns, Penny Mordaunt, são vistos como os candidatos mais prováveis, pois ficaram em segundo e terceiro lugar na disputa pela liderança há poucos meses.
Ainda assim, o risco é que os eventos comecem a se tornar uma bola de neve. Até ontem, havia uma visão amplamente difundida no partido de que uma mudança de liderança deveria esperar pelo menos até que um novo plano econômico fosse anunciado em 31 de outubro para acalmar os investidores.
Mas a demissão da ministra do Interior, Suella Braverman, por uma violação de segurança, que em tempos normais poderia lhe render uma mera repreensão, alienou uma parte da direita de seu partido, e a própria Braverman não mediu palavras em sua carta de despedida à primeira-ministra.
“Fingir que não cometemos erros, continuar como se todos não pudessem ver que os cometemos e esperar que as coisas magicamente deem certo não é política séria”, disse.
A demissão de Braverman seguiu a de Kwasi Kwarteng, que havia sido substituído como ministro das Finanças na semana passada por Jeremy Hunt. A decisão de Truss de nomear Grant Shapps para substituir Braverman foi visto como um sinal do nível de fragilidade da primeira-ministra. Há duas semanas, na conferência do Partido Conservador, ele conspirava abertamente para expulsá-la.
Em apenas seis semanas no cargo, Truss provocou uma onda vendedora da libra, foi socorrida pelo Banco da Inglaterra, abandonou quase todo o seu programa de políticas econômicas e demitiu dois de seus aliados políticos mais próximos.
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