Bloomberg — O Brasil está tomando parte das vendas de soja dos Estados Unidos, que tem perdido competitividade no mercado global, devido à seca sem precedentes que atinge o rio Mississippi e também à alta do dólar.
O baixo nível de água do rio, que paralisa as embarcações no caminho percorrido pela soja norte-americana rumo ao Golfo, elevou o preço de exportação dos Estados Unidos, direcionando parte da demanda chinesa para o Brasil.
A China comprou seis navios de soja para embarque em novembro, sendo metade do Brasil e a outra metade dos EUA, segundo Arlan Suderman, economista chefe da área de commodities da StoneX. Historicamente, a China estaria comprando quase que exclusivamente dos EUA, que costuma ter uma soja mais barata nesta época do ano devido ao período de colheita.
O movimento atípico pode reduzir as exportações americanas e aumentar os estoques americanos, contribuindo para um cenário de baixa para os preços futuros da soja na Bolsa de Chicago, cenário já desenhado pela demanda mais enfraquecida da China este ano e pela expectativa de uma colheita recorde no Brasil a partir de janeiro do próximo ano.
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“Os EUA estão perdendo a oportunidade de vender o máximo que podem antes da colheita do Brasil – e todos os sinais até agora apontam para uma safra recorde brasileira”, disse Victor Martins, gestor sênior de risco da HedgePoint Global Markets.
As perspectivas para as vendas dos EUA podem piorar. Se os produtores norte-americanos demorarem muito para vender, importadores podem cancelar suas compras dos EUA e optar pelo Brasil, de acordo com Doug Houghton, analista da Brock Associates, em Milwaukee.
Os embarques de soja dos EUA na temporada 2022-23, que começou em 1º de setembro, caíram 19% em relação ao ano passado. Outro fator que prejudica as exportações americanas é a Argentina. Pelo menos 8 milhões de toneladas de soja foram vendidas em poucos dias por exportadores argentinos depois de o governo local permitir que agricultores recebessem uma taxa de câmbio melhor.
“A Argentina basicamente ‘saiu do nada’ neste mercado e despejou muita soja ‘barata’ comprada pela China”, disse Suderman. A soja argentina, que chegará na China até janeiro, supriu praticamente toda a demanda do país até dezembro. Agora, a pergunta é quem vai fornecer para o maior importador global a partir daí.
“Tanto o Brasil como os EUA têm soja para exportar e o que vai definir é o preço”, disse Martins. Segundo Daniele Siqueira, analista da AgRural, os produtores brasileiros têm ainda cerca de 16 milhões de toneladas da safra 2021-22 para vender.
Enquanto isso, a China está garantindo cargas dos EUA para desembarque na Ásia em fevereiro do próximo ano. Essa é uma possível proteção caso a safra brasileira não seja tão abundante quanto o que se espera. Uma seca em dezembro do ano passado reduziu a produção do país para o menor nível desde a safra de 2018-19.
Na semana passada, a China reservou 13 cargas dos EUA para embarque em dezembro e janeiro, segundo várias fontes do mercado.
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