Bloomberg Línea — João Doria, ex-governador de São Paulo e ex-prefeito da capital paulista, anunciou nesta quarta-feira (19) sua desfiliação do PSDB, após 22 anos na legenda.
A assessoria de imprensa do empresário informou que ele abriu uma empresa, chamada D Advisor, para prestar consultoria de negócios em vários setores. Doria não vai se filiar a um novo partido e nem deve voltar a participar da política institucional, conforme o comunicado.
“Encerro minha trajetória partidária de cabeça erguida”, disse, em nota. “Não cedi a pressões e me mantive firme na defesa dos valores sociais e democráticos que aprendi com meu pai, um político cassado e exilado pela ditadura militar em 1964. Venci todas as eleições das quais participei.”
Doria deixa o partido depois de sua tentativa frustrada de concorrer à Presidência da República nas eleições deste ano. Ele foi escolhido candidato em eleições prévias internas do PSDB e tentou se colocar como uma “terceira via” entre o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Mas nunca passou dos 2% das intenções de voto e enfrentou forte rejeição.
Por isso, o PSDB decidiu desistir de lançar um candidato próprio e aderiu à candidatura da senadora Simone Tebet (MDB), que ficou com pouco mais de 3% dos votos válidos no primeiro turno. A vice de Tebet era a também senadora Mara Gabrilli, do PSDB de São Paulo. Tebet anunciou apoio a Lula no segundo turno, mas Gabrilli disse que vai votar em branco.
Na nota divulgada nesta quarta, Doria cita tucanos históricos, como Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Mario Covas e Franco Montoro, e deixa um recado: “Com minha missão cumprida, deixo meu agradecimento e o firme desejo de que o PSDB tenha um olhar atento ao seu grandioso passado em busca de inspiração para o futuro. E sempre em defesa da democracia, da liberdade e do progresso social”.
O partido está dividido no segundo turno das eleições. Enquanto o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), que foi vice de Doria, declarou apoio a Tarcísio de Freitas (Republicanos) na corrida pelo governo do estado, o PSDB declarou apoio a Fernando Haddad (PT) - derrotado por Doria no primeiro turno da eleição para prefeito de 2016.
Na corrida presidencial, Mara Gabrilli anunciou voto em branco para evitar apoiar Lula ou Bolsonaro. Já os membros históricos do partido, como FHC e Serra, citados na nota de Doria, declararam apoio a Lula. Membros do governo FHC, especialmente a equipe que elaborou o Plano Real, também aderiram à candidatura do petista contra Bolsonaro.
Os deputados federais eleitos pelo partido, no entanto, estão divididos entre apoiar Lula ou Bolsonaro.
Doria foi eleito governador em 2018 entoando o slogan “Bolsodoria”. Ou seja, era uma campanha antipetista que contava com apoio do então candidato Jair Bolsonaro.
No início de 2019, no entanto, Doria, já governador, rompeu com o presidente da República e passou a se considerar de oposição. A disputa só se acirrou com o passar dos anos, especialmente depois do estouro da pandemia.
O ex-governador de São Paulo procurava seguir as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para combater o coronavírus e dava apoio ao Instituto Butantan, estatal de pesquisa científica. Já Bolsonaro era contra as medidas da OMS e deu diversas declarações para desacreditar as vacinas.
A primeira dose de vacina aplicada no Brasil, em janeiro de 2021, foi desenvolvida pela Butantan e aplicada por Doria no braço de uma enfermeira da rede estadual paulista.
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