Bloomberg Línea — A pandemia de covid-19 não só reconfigurou os padrões de trabalho e estilos de vida em geral mas também demonstrou como grandes fortunas podem ser construídas ou perdidas mais rapidamente do que se pensava.
O patrimônio líquido dos bilionários à frente de Moderna (MRNA), Zoom (ZM) e Carvana (CVNA), por exemplo, se multiplicou durante a pandemia, segundo a Bloomberg News, à medida que os negócios se adaptaram totalmente ao ambiente global, mas também caíram rapidamente e tiveram que se ajustar ao novo normal após a reabertura econômica.
Stéphane Bancel (Moderna), Eric Yuan (Zoom) e Ernie García (Carvana) estão em uma lista de 58 bilionários que viram sua riqueza crescer vertiginosamente devido às mudanças introduzidas pela covid-19 e posteriormente cair ainda mais rápido. O grupo foi denominado “bilionários da covid”, pois suas fortunas foram diretamente impulsionadas pela pandemia.
Estes são os casos mais representativos da ascensão e da queda do patrimônio líquido das pessoas que tiveram aumento de patrimônio como resultado da pandemia de covid-19:
- Stéphane Bancel, CEO da Moderna: fez sua fortuna quando sinalizou que suas vacinas de mRNA funcionariam contra a covid-19. Em agosto de 2021, as ações da empresa atingiram recorde e seu patrimônio líquido bateu os US$ 15 bilhões. Entretanto, com o fim dos piores momentos da pandemia e o efeito da variante ômicron sobre a proteção vacinal, seu patrimônio, em 30 de setembro de 2022, caiu 75%, chegando a US$ 3,7 bilhões.
- Eric Yuan, presidente da Zoom: a plataforma de videoconferência foi uma das mais utilizadas durante a pandemia e na implementação do trabalho remoto. Em meio à crise sanitária, a fortuna de Yuan atingiu US$ 29 bilhões, mas, após o retorno ao trabalho presencial e a escolas, universidades e empresas, seu patrimônio caiu para US$ 4,6 bilhões – 84% a menos que seu auge. Em 2021, Yuan doou cerca de um terço de sua participação na empresa.
- Forrest Li, presidente da Sea: a empresa de e-commerce viu suas ações explodirem 2.300% entre 2017 e 2021. Mas agora, com os gastos dos consumidores diminuindo devido à inflação, a empresa está cortando funcionários e seus executivos estão abrindo mão de seus altos salários. A fortuna de Li atingiu um pico de US$ 21,9 bilhões durante a pandemia e regrediu para US$ 3,8 bilhões em 30 de setembro.
- Ernie García, co-fundador da Carvana: as vendas de carros usados online aumentaram durante a pandemia, pois a entrega de veículos novos foi atrasada por interrupções na cadeia de abastecimento global. A startup Carvana chegou a valer quase US$ 22 bilhões e agora o patrimônio líquido de García é de US$ 4 bilhões.
- Bom Kim, fundador da Coupang: sua fortuna passou de um pico de US$ 8,9 bilhões na pandemia para US$ 3 bilhões líquidos em 30 de setembro de 2022. A empresa sul-coreana de e-commerce viu a queda em seu valuation após críticas de sindicatos e vendas massivas de ações por parte de investidores nos últimos meses.
Dos 58 bilionários da covid, 26 são asiáticos, 18, dos Estados Unidos e Canadá, e 10 da Europa, conforme a Bloomberg News.
Qual foi o motivo da queda?
Para a fundadora da empresa de investimentos Bokeh Capital Partners, Kim Forrest, essas empresas “preenchiam um nicho que precisava ser atendido, mas não era algo a longo prazo”, disse ela à Bloomberg News.
Embora nenhum bilionário tenha saído ileso dos aumentos de juros dos bancos centrais para conter a inflação, observa-se que as fortunas ligadas à pandemia caíram a um ritmo mais “vertiginoso”. Por exemplo, o índice MSCI All-Country World de ações globais caiu cerca de 25% até agora em 2022.
O levantamento mostra que o patrimônio líquido médio desses bilionários ainda é maior do que antes da pandemia, mas seus “enormes ganhos desapareceram”.
Por outro lado, há um grupo de 131 indivíduos no Bloomberg Billionaires Index cujo patrimônio dobrou desde o início da pandemia, mas que conseguiram manter sua riqueza porque não dependiam das mudanças causadas pela covid-19 nos padrões de vida e trabalho do mundo.
Perspectiva
A alta inflação continua, e as perspectivas econômicas não são as melhores para 2023, com organizações internacionais prevendo que o mercado de trabalho será afetado pelo aumento dos preços e por uma desaceleração na demanda de bens e serviços nos principais países do mundo.
Um relatório recente do Banco Mundial afirmou que havia pelo menos 70 milhões de pessoas em pobreza extrema no mundo em 2020, vivendo com menos de US$ 2,15 por dia, que é o novo limiar definido pela organização, uma causa direta da pandemia.
Para a América Latina especificamente, o Banco Mundial aumentou sua previsão de crescimento econômico para 2022 para 3% (ante 2,5%), mas baixou sua previsão para 2023 para 1,6% (ante 1,9%).
Uma previsão semelhante foi divulgada na semana passada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que elevou o crescimento econômico da região neste ano para 3,5% (ante 3,0%), mas disse que em 2023 será apenas 1,7% (ante 2,0%), como um efeito da desaceleração e possível recessão que será sofrida em diferentes regiões.
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