São Paulo — A ação da Natura (NTCO3) subiu 9,62% nesta terça-feira (18) e encerrou o pregão cotada a R$ 14,24. A disparada do preço refletiu o novo otimismo de investidores com a perspectiva de que um spin-off (separação do grupo) ou um IPO (oferta inicial de ações) da Aesop, sua marca australiana de luxo, como anunciado na noite de segunda (17), possa destravar valor para o papel.
O negócio, se concretizado, representa mais um passo da reestruturação da empresa brasileira de cosméticos e higiene com atuação global.
Segundo fato relevante divulgado no início da noite de ontem, o conselho de administração da Natura autorizou o início de um estudo comparativo entre um IPO da Aesop ou a sua separação do grupo, possivelmente seguida de uma oferta pública, para financiar o crescimento da subsidiária.
“Acreditamos que essa transação destravaria valor, uma vez que enxergamos a NTCO negociando a um valuation assimétrico, com a operação da Natura&Co LatAm negociando a um desconto de 40% (8,5x EV/EBITDA) aos pares globais, assumindo que todas as outras unidades de negócio (Avon Internacional, The Body Shop e Aesop) tenha seu valor zerado”, apontou Thiago Suedt, analista de varejo da XP, em relatório, que reiterou recomendação de compra para o papel.
Ele acrescentou que enxerga o comunicado confirmando os estudos como o primeiro movimento de reorganização da nova gestão da companhia, possivelmente abrindo caminho para novos anúncios.
Ativo premium
Para a analista Georgia Jorge, do BB Investimentos, em ambos os casos (spin-off ou IPO), haveria uma holding a ser listada nos EUA, que deteria as subsidiárias da Aesop.
“Vemos como positivo os estudos ora conduzidos para destravar valor da Aesop, um ativo premium com forte potencial de crescimento a ser explorado nos próximos anos e que pode conduzir à desalavancagem do Grupo Natura&Co, a depender da estrutura proposta após a conclusão dos estudos”, avaliou.
O BB Investimentos manteve, no entanto, a recomendação neutra para a ação da Natura, justificando que ainda vislumbra “um cenário de curto prazo bastante adverso para o grupo”.
Redução de custos
O conteúdo dos estudos (spin-off e IPO da Aesop), confirmados pela companhia, não chega a ser uma surpresa para o mercado.
“Essas alternativas já vinham sendo discutidas entre a gestão nos últimos meses como uma alternativa para financiar o crescimento acelerado da Aesop. Vemos o anúncio com bons olhos, que possibilitaria um destravamento de valor para a companhia”, observaram os analistas de varejo da Eleven Financial, Victoria Minatto e Guilherme Domingues, em relatório.
A Eleven manteve a recomendação neutra para NTCO3, com preço-alvo de R$ 20. A dupla de analistas destacou ainda que a Aesop foi a marca que apresentou os melhores resultados nos últimos trimestres, destoando das outras unidades, crescendo consistentemente e apresentando boa rentabilidade.
“O spin-off da Aesop possibilitaria que a Natura focasse seus esforços na integração com a Avon, que ainda precisa ser concluída e é nosso maior ponto de atenção, bem como na recuperação e no ganho de tração de seus outros negócios, que seguem sofrendo os efeitos da pandemia”, observaram Minatto e Domingues.
Eles apontaram ainda que o comunicado da Natura reforça que a companhia está em empenhada em realizar a restruturação organizacional com foco em redução de custos e simplificação da holding, considerando esses os dois problemas atuais da companhia.
Leia também
Cresce preocupação de gestores com situação fiscal no Brasil após eleição
