Bloomberg — O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o mandatário em exercício Jair Bolsonaro trocaram insultos e acusações de corrupção durante um tenso debate televisivo, no qual tentavam influenciar os eleitores antes do segundo turno eleitoral em 30 de outubro.
O encontro, organizado pela Band, representou a primeira vez que os dois candidatos se encontraram pessoalmente, dando-lhes muita margem para atacarem um ao outro, já que não tiveram que dividir tempo de antena com outros cinco concorrentes que se juntaram aos debates antes da votação do primeiro turno das eleições presidenciais.
Foi um momento chave para os candidatos alcançarem milhões de eleitores na reta final de uma eleição presidencial acirrada, quando cada voto conta. Ambos se apressaram para garantir o apoio dos concorrentes que não chegaram ao segundo turno, bem como dos principais governadores estaduais e prefeitos que podem reunir apoiadores em seus estados e municípios. Na semana passada, Lula e Bolsonaro cruzaram o Nordeste do Brasil para cortejar os eleitores pobres.
O debate começou com os concorrentes tentando explicar onde encontrariam dinheiro para cumprir as promessas feitas durante a campanha, incluindo mais generosos pagamentos em dinheiro de R$ 600 (US$ 113) por mês aos pobres. Ambos citaram uma proposta de reforma tributária como parte de uma estratégia para aumentar a receita do governo.
Bolsonaro disse que alguns dos fundos obtidos com as privatizações também seriam desviados para financiar programas sociais. Lula afirmou que reduziria a carga tributária para os pobres e a aumentaria para os ricos.
Esta foi uma das poucas vezes que a economia entrou em cena no debate de duas horas. Seguiu-se uma longa discussão sobre o manejo da pandemia por Bolsonaro, deixando o presidente em exercício visivelmente desconfortável em algumas ocasiões. Ambos se chamavam “mentirosos” e “corruptos” várias vezes. ”Você é um mentiroso, o rei das notícias falsas”, disse Lula. “Você desacreditou as vacinas, zombou das pessoas morrendo por falta de oxigênio; ninguém no mundo gozou da pandemia e da morte como você fez”. Bolsonaro respondeu dizendo que Lula “não fez nada pelo país”. ”Você só desviou fundos públicos para o seu bolso e de seus amigos”, disse ele.
Ao ser questionado se respeitaria a separação de poderes e se absteria de patrocinar projetos de lei para aumentar o número de ministro na mais alta corte do país, Lula disse que fazer mudanças na composição da corte para nomear amigos seria um retrocesso. Observou, também, que um mandato fixo para os juízes, em vez de termos vitalícios, poderia ser discutido no futuro.
Bolsonaro, que entrou em conflito com os juízes do STF ao longo de seus anos de mandato, chegando perto de uma crise institucional em algumas ocasiões, prometeu não patrocinar nenhum projeto de lei para aumentar o número de membros do tribunal.
O desempenho da Bolsonaro melhorou na segunda parte do debate, quando o presidente começou a questionar Lula sobre escândalos de corrupção passados envolvendo a Petrobras. O líder de esquerda procurou mudar o tema da discussão, comparando seu histórico ambiental com o de Bolsonaro. Isso permitiu que o presidente falasse por cinco minutos seguidos no final.
O discurso então logo se voltou para temas ideológicos e religiosos, associando Lula com outros líderes de esquerda na região, e acusando falsamente o ex-presidente de planejar o fechamento de igrejas se eleito. Durante a campanha, Bolsonaro trouxe a com frequência corrupção como tema, chamando Lula de “ex-condenado”.
No debate de domingo, ele teve um aliado improvável: o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, o juiz responsável pela investigação que levou Lula à prisão, impedindo-o de concorrer na corrida de 2018 que viu Bolsonaro ser eleito. Moro deixou o governo em 2020 em meio a uma amarga briga com seu chefe, que ele acusou de tentar interferir na Polícia Federal do país. Moro, que foi eleito senador em 2 de outubro, depois de abandonar uma candidatura sem sucesso à presidência, fez parte da equipe de assessores de Bolsonaro no debate, aparecendo mesmo ao lado do presidente em uma entrevista na TV após o evento.
Lula, que governou o país de 2003 a 2010, venceu o primeiro turno da votação com 48% de apoio no início deste mês. Bolsonaro obteve 43%. Como nenhum dos dois obteve a maioria simples necessária para vencer, eles se enfrentaram novamente em 30 de outubro.
Lula continua liderando a corrida presidencial, embora alguns pesquisadores de opinião digam que os resultados serão ainda mais apertados do que no primeiro turno, quando a maioria não conseguiu obter apoio total para o presidente de direita. Uma pesquisa da AtlastIntel publicada na quinta-feira apontou o líder esquerdista com 52,4% dos votos válidos, o que exclui votos em branco e anulados, e Bolsonaro com 47,6%. Já o Datafolha, no dia seguinte, mostrou uma disputa com 53% e 47%, respectivamente, dos votos.
(Tradução de Michelly Teixeira)