São Paulo — A cidade de São Paulo deve ganhar um novo ícone em sua paisagem urbana, a fim de ampliar as opções de lazer e fomentar o turismo na capital paulista. Recentemente, foi concluída a montagem do aro da roda-gigante de 91 metros de altura e 80 metros de diâmetro, com 42 cabines. Quando for inaugurada, o que é previsto para dezembro, a Roda SP será a maior da América Latina, segundo seus idealizadores.
O projeto apresentado pelo escritório Levisky Arquitetos faz parte do plano de revitalização do rio Pinheiros e já foi alvo de duas ações populares na Justiça e de questionamentos por parte de especialistas em urbanismo, que criticam, entre outros pontos, a entrega do equipamento para a gestão da iniciativa privada e o possível uso do espaço para ações de publicidade.
A empresa SPBW (São Paulo Big Wheel), vencedora da concorrência pública realizada pelo governo de São Paulo em 2020, ainda não divulgou o valor do ingresso a ser cobrado para um passeio de no mínimo 25 minutos. A roda-gigante está posicionada dentro do parque Candido Portinari, ao lado do Villa-Lobos, na zona oeste, ocupando uma área correspondente a 3% do parque.
Segundo o projeto, cada cabine comportará até 10 pessoas e terá ar-condicionado, monitoramento por câmeras, interfones, wi-fi, som e luzes. O equipamento pesa 700 mil quilos. O volume total de aço utilizado foi de 1.000 toneladas, com o insumo importado de países asiáticos.
“As rodas-gigantes deixaram de ser simples brinquedos e passaram a ser atrações turísticas em diversas cidades do mundo. Acreditamos que a roda-gigante de São Paulo terá o mesmo impacto”, disse Marcelo Mugnaini, diretor de operações da Roda SP, à Bloomberg Línea.
Ele prevê que a estrutura deve receber entre 600 mil e 1 milhão de visitantes por ano, cerca de 10% do atual público frequentador dos parques estaduais vizinhos Candido Portinari e Villa-Lobos. Em comparação, a London Eye é uma das atrações mais visitadas da capital britânica, com cerca de 3,5 milhões de frequentadores por ano, segundo a SPBW.
Naming rights
Mugnaini afirma que o contrato firmado com o governo do Estado permite o patrocínio de empresas por meio de um acordo de naming rights. " O processo está em desenvolvimento e em breve vamos apresentar ao mercado”, afirma o executivo.
Exibir a marca de uma empresa nesse tipo de atração tem se tornado frequente no Brasil. O iFood, aplicativo de entrega de comida, já associou sua marca a uma roda-gigante instalada, no ano passado, no parque do Ibirapuera, em São Paulo, enquanto o Itaú Unibanco, maior banco privado do país, patrocinou o equipamento usado no festival de música Rock in Rio, na capital fluminense, neste ano.
A SPBW não divulgou os nomes das empresas interessadas em patrocinar a Roda SP.
Quando o projeto foi aprovado em 2020 na Comissão de Proteção da Paisagem Urbana (CPPU), da Prefeitura, havia a determinação de que o equipamento não poderia receber nenhum tipo de propaganda. O placar foi de seis votos a favor, um contra e duas abstenções.
Veja como foi a aprovação do projeto Roda SP em comissão da Prefeitura:
A SPBW é uma sociedade de fim específico que tem entre seus sócios a Interparques Holding, empresa de Santa Catarina. Fundada em 2012, ela é a responsável pela FG Big Wheel, uma roda-gigante com 65 metros de altura de frente para o mar em Balneário Camboriú (Santa Catarina).
Além disso, o Interparques Holding criou e administra uma nova atração, o Alles Park, um parque temático localizado na cidade catarinense de Pomerode, em uma área de 5.000 metros quadrados.
Sobre o custo de manutenção da Roda SP, o diretor da SPBW disse que só terá os números reais com o funcionamento do empreendimento.
Segundo a empresa, no total, cerca de 200 trabalhadores estão envolvidos na construção e montagem. “A operação do empreendimento, quando pronto, também deve gerar 80 empregos diretos e outras 80 posições de trabalho indiretas”, disse Mugnaini.
Atrasos na construção
O início de operação havia sido inicialmente previsto para dezembro de 2021, mas houve atrasos no fornecimento do aço no mercado internacional, segundo a empresa.
A roda é do tipo estaiada, ou seja, unida por estais (cabos de suspensão), similar a uma roda de bicicleta. Segundo a SPBW, esse tipo de estrutura permite a construção de rodas gigantes de grandes diâmetros, com melhor integração à paisagem.
O parque Candido Portinari foi escolhido para abrigar o equipamento por estar localizado em um dos principais acessos da cidade, em uma área ampla e privilegiada com visão dos parques, do rio Pinheiros e da USP (Universidade de São Paulo), segundo a SPBW.
Segundo a empresa, a invenção da roda-gigante é atribuída a George Washington Gale Ferris Jr., um engenheiro americano, para a World’s Columbian Exposition em Chicago de 1893. Ele tinha a pretensão de rivalizar com a Torre Eiffel, ícone de Paris, proporcionando contemplação e diversão, uma experiência que simulasse a visão dos pássaros (visão panorâmica) de toda a cidade.
Críticas
A professora Viviane Manzione Rubio, doutora pelo Programa de Pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, votou contra o projeto na CPPU.
“A roda chega antes da despoluição do rio. Seria mais útil para a cidade implantar um parque linear, um instituto de pesquisas ambientais. Este projeto é deslocado, desconexo. É meio propaganda, me aflige em uma cidade que precisa de milhares de outros equipamentos antes de um de diversão”, afirmou.
Membros da comissão favoráveis ao empreendimento e a arquiteta Adriana Levisky, que defendeu o projeto, destacaram os esforços do governo paulista de despoluir o manancial e de revitalizar a região, com benefícios para segmentos do comércio e serviços, como gastronomia, turismo e mobilidade, além das contrapartidas sociais e educacionais, como visitas de alunos de escolas públicas ao parque.
“Acho o projeto interessante, pois nos dá a possibilidade de ter uma vista de cima para entender o traçado urbano, entender as construções da cidade”, disse a presidente da CPPU, Regina Monteiro, que votou a favor da Roda SP, mas sem que haja exploração comercial de publicidade.
Procurada pela reportagem para comentar esse ponto, a assessoria da SPBW enviou à Bloomberg Línea a seguinte resposta: “Entendemos que não é vetada a publicidade pela CPPU. O que precisamos é ter a aprovação de como ela será feita seguindo as regras. Senão, nenhuma empresa poderia divulgar o seu nome na fachada, certo? Inclusive a marca ficará no prédio, e não na roda em si”.
Concessão
A concorrência pública da Roda SP realizada pelo governo do Estado de São Paulo em 2020, que resultou na escolha da SPBW, foi anterior à concessão dos dois parques estaduais (Candido Portinaria e Villa-Lobos) para grupo privado Reserva Novos Parques Urbanos, que assumiu esses espaços neste ano com o compromisso de promover investimentos mínimos de R$ 46 milhões nos primeiros cinco anos, como o aumento da oferta de serviços, reformas, zeladoria, corte do mato, entre outras ações.
“No contrato com a nova administradora do parque foi estabelecida a manutenção do equipamento, bem como a destinação dos valores recebidos de outorga – R$ 170 mil em valores atualizados ou 10% da renda – para a conta centralizadora da concessão na qual todas as receitas da área são divididas. Conforme previsto em edital, do total, 3% desta outorga é destinada ao poder concedente”, informou a SPBW.
Por ter sido lançado no início da pandemia da covid-19, o projeto acabou virando alvo de uma ação popular, movida por um deputado estadual, sustentando que não havia interesse público no equipamento e que a Roda SP provocaria aglomerações (época da pandemia), entre outros pontos criticados.
Outro questionamento também foi feito no Judiciário paulista. A Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo informou, por meio de sua assessoria, ter ciência das duas ações populares e que uma delas já foi derrubada na Justiça, descartando o risco de revés ao projeto.
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