Bloomberg Opinion — Kwasi Kwarteng foi um grande elefante branco no cargo de ministro das Finanças. Ele errou muitas vezes, mas nunca teve dúvidas. Sua concepção central era que a confiança – seja de seu partido, do público ou dos mercados – podia ser pressuposta, não conquistada. Demiti-lo pode ser a primeira atitude inteligente de Liz Truss como primeira-ministra.
Mas embora Kwarteng tenha sido substituído por Jeremy Hunt, Truss não está fora de problemas. Nenhuma dupla de primeiro-ministro e ministro de Finanças recente estava mais alinhada política e ideologicamente – ou talvez apenas mais próxima pessoalmente. Ao perder Kwarteng, Truss teve efetivamente que abandonar todo o seu projeto de governo.
Ela não admite isso. Truss claramente é da corrente de pensamento de “nunca peça desculpas, nunca explique”. Mas isso só funciona se os erros forem pequenos e o poder detido for substancial, ou se o líder for apreciado e amplamente confiável. Truss perdeu o apoio da grande maioria de seus colegas parlamentares, tem os menores índices de aprovação pública registrados e destruiu a credibilidade de seu governo junto aos mercados. Sua única esperança é mostrar que ela entende seus erros e tem planos para corrigi-los.
Mas ela ainda não chegou lá. Na sexta-feira (14), ela parecia culpar os mercados por seus problemas, dizendo que partes de seu programa “foram mais longe e mais rápido do que os mercados estavam esperando”. Ela restabeleceu o plano de Rishi Sunak de aumentar os impostos corporativos para 25%, algo que seu governo havia eliminado. Mas não havia nenhuma indicação em sua declaração ou respostas de que ela entendia porque o mercado reagiu como fez, aumentando as taxas de hipoteca e os custos de dívida do governo.
A Trussonomics, como veio a ser chamado o plano de Truss, tomou como base o pressuposto de que uma política de cortes fiscais agressivos financiados por empréstimos de baixo custo e combinados com reformas do lado da oferta produziriam uma taxa mais alta de crescimento econômico. Se ela tivesse adotado uma abordagem mais gradual na implementação de medidas e tivesse feito um maior balanço das condições de mercado em mutação, essa agenda política ainda poderia estar viva. Em vez disso, a dupla Truss-Kwarteng atingiu múltiplos alvos de uma só vez, mirando de forma descuidada. O resultado foi mais danos para as famílias (principalmente aquelas com hipotecas), para a posição fiscal do governo e para a reputação internacional da Grã-Bretanha. Não é de se admirar que ela não respondesse à pergunta de por que ela estava ficando se ele estava indo.
Que tipo de ministro será Jeremy Hunt? Em resumo, um poderoso em um governo em fase terminal. Primeiros-ministros e ministros das Finanças normalmente são centros de poder concorrentes. Mas, neste caso, não há competição real. Truss não pode se dar ao luxo de perder outro ministro das Finanças ou cair mais nas pesquisas. Isso faz de Hunt o chefe de governo de fato, independentemente de seu cargo. Ter uma liderança coerente depende de Hunt, Truss e o gabinete mais amplo chegarem a um acordo sobre uma estratégia revisada.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Therese Raphael é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre saúde e política britânica. Foi editora da página editorial do Wall Street Journal Europe.
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