Bloomberg Línea — O Brasil pode reestabelecer sua credibilidade internacional rapidamente desde que o foco seja um só: apresentar uma solução efetiva para eliminar o desmatamento ilegal na Amazônia. A afirmação é do presidente da Suzano (SUZB3), Walter Schalka, durante um encontro com empresários e autoridades sobre a agenda do Brasil na COP deste ano, promovido pela Amcham Brasil e a ICC Brasil na manhã de sexta-feira (14).
A COP (Conferência das Partes, na tradução livre) é uma reunião anual que discute assuntos relacionados à Convenção do Clima da ONU, a Organização das Nações Unidas. A vigésima sétima edição está prevista para acontecer entre os dias 6 e 18 de novembro em Sharm El-Sheihk, no Egito, e o Brasil, como sempre, terá um papel chave nas discussões.
É esperado que o país destaque para o mundo o seu compromisso de ser um país fonte de energia renovável e abra caminho para investimentos por suas condições favoráveis para produção de energia limpa. Na edição do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que o governo brasileiro estava comprometido a neutralizar as emissões de dióxido de carbono até o meio do século e erradicar o desmatamento ilegal até 2028.
“O Brasil tem uma oportunidade inacreditável na inserção geopolítica global através da questão ambiental. Para isso precisamos mostrar efetividade nas ações que serão tomadas para reverter a tendência de desmatamento ilegal na Amazônia”, disse Schalka em um painel sobre o papel do setor empresarial na agenda de sustentabilidade. Participaram também Denise Hills, diretora global de Sustentabilidade da Natura (NTCO3), o CEO Brasil da Schneider Electric, Marcos Matias e Cristina Palmaka, presidente da SAP no Brasil.
Schalka destacou que a atual legislação ambiental brasileira é “muito boa”, mas que é preciso cumpri-la para resolver, nas cálculos dele, pelo menos 97% do desmatamento ilegal na região. “Poucos lucram com o desmatamento ilegal da Amazônia, mas muitos vivem do desmatamento ilegal da Amazônia”, disse, citando que a solução para isso está no mercado de carbono.
Para ele, o Brasil precisa participar ativamente do mercado regulado de carbono e “gerar créditos pela preservação da Amazônia que possam ser aplicados na questão social da população local”. Schalka afirma que a Suzano calculou e apresentou ao governo números que somam US$ 10 bilhões por ano que poderiam ser gerados por este mercado no país.
Este foi um tema levantado pela Suzano antes da COP26, ainda em 2021. Na ocasião, a empresa já defendia que era preciso financiar soluções de descarbonização de forma rápida, e que o modo de fazer isso seria através do mercado de carbono.
À Bloomberg Línea, Gabriella Dorlhiac, diretora executiva da ICC Brasil, disse que o Brasil será cobrado nesta edição da COP - assim como todos os outros países. “O Brasil sempre terá um papel chave porque somos um país com ‘pedigree’ de sustentabilidade nato, em termos de florestas, recursos naturais e matriz energética”, disse.
Dorlhiac ressaltou também que o contexto pós-pandemia, somado a um cenário de inflação global e ao conflito armado na Ucrânia tornou o avanço da agenda ambiental ainda mais desafiador para todos os países, e que o foco da COP deste ano deve girar em torno de “como gerar recursos para essa transformação de sustentabilidade global, que não é barata”.
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