Bloomberg Línea — João Amoêdo, fundador e ex-presidente do Partido Novo e candidato derrotado a presidente em 2018, declarou neste sábado (15) que vai votar no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições deste ano. “Apertar o botão ‘Confirma’ será uma tarefa dificílima. Mas vou me lembrar do presidente que debochava das vítimas na pandemia, enquanto milhares de famílias choravam a perda de seus entes queridos”, disse em entrevista publicada pelo jornal Folha de S.Paulo.
“A escolha que agora se apresenta na urna não é sobre os rumos que desejo para o Brasil, mas só a possibilidade de limitar danos adicionais ao nosso direito como cidadão. E é só isso que espero manter com essa eleição: o direito de ser oposição”, justificou-se.
O apoio público a Lula não pegou bem entre as lideranças do Partido Novo. A legenda divulgou uma nota no Twitter chamando a declaração de voto de “absolutamente incoerente e lamentável”. “A triste declaração constrange a instituição [o partido], que se mantém coerente com seus princípios e valores e reforça que Amoêdo não faz mais parte do corpo diretivo do partido desde março de 2020″, continua a nota, dividida em três tuítes.
O atual presidente do Novo, Eduardo Ribeiro, seguiu no mesmo tom. Também no Twitter, disse que foi “vergonhosa, constrangedora e incoerente a declaração de voto de João Amoêdo em Lula”. No Twitter, escreveu que “o PT e o Lula representam tudo o que o nosso partido sempre combateu”.
Já o cientista político Luiz Felipe D’Ávila, candidato derrotado a presidente pelo Novo nas eleições deste ano, disse que o voto de Amoêdo em Lula “é uma traição aos valores liberais, ao partido Novo e a todas as pessoas que criaram um partido para livrar o Brasil do lulopetismo”.
Em sua entrevista à Folha, Amoêdo disse que é oposição tanto a Lula quanto a Bolsonaro, mas “o atual presidente apresenta um risco substancialmente maior”. “Bolsonaro confirmou ser não apenas um péssimo gestor, como já prevíamos, mas também uma pessoa sem compaixão com o próximo. Ele é incapaz de dialogar, de assumir suas responsabilidades e não tem compromisso com a verdade. É um governante autocrático que se coloca acima das instituições.”
Desempenho fraco
O Partido Novo tem grande identificação com a Faria Lima por defender o liberalismo econômico e políticas de austeridade. Mas, nas eleições deste ano, seu desempenho deixou a desejar.
A legenda elegeu apenas três deputados federais e cinco deputados federais, e conseguiu reeleger Romeu Zema governador de Minas Gerais. D’Ávila, seu candidato a presidente, teve 559,6 mil votos, menos de 0,5% dos votos válidos.
Em 2018, havia elegido oito deputados federais e 12 deputados estaduais. Projetava, para 2022, conseguir chegar aos dez deputados, embora achasse possível chegar aos 16. Amoêdo, o então candidato a presidente pelo Novo, recebeu 2,6 milhões de votos, 2,5% dos votos válidos.
Com o resultado das urnas neste ano, o partido não atingiu a cláusula de barreira. É o número mínimo de votos e de deputados eleitos que cada partido deve atingir para conseguir acesso ao dinheiro dos fundos públicos e estrutura partidária na Câmara.
Sem isso, resta ao partido atuar sem liderança e sala de reuniões, por exemplo, ou se fundir com outras legendas.
A explicação das lideranças do partido foi que esse foi o destino de quem “não polarizou”, ou seja, não se aliou a Lula ou a Bolsonaro. No segundo turno, no entanto, a legenda apoia a reeleição de Bolsonaro.
Leia também:
Atlas divulga pesquisa: Lula tem 51,1% das intenções de voto, e Bolsonaro, 46,5%
Gustavo Franco: o desafio fiscal vai além da revisão do teto de gastos