O que esperar da inflação após 3 meses de queda? Economistas apontam cenários

Recuo de preços de combustíveis perde força, enquanto categoria de alimentos deve voltar a pressionar o índice ao consumidor

Por

Bloomberg Línea — O índice oficial de inflação ao consumidor no país registrou em setembro deflação pelo terceiro mês consecutivo, segundo divulgado pelo IBGE nesta semana. A notícia se insere em um contexto em que parte do mercado está antecipando para março do ano que vem as apostas de início de corte de juros pelo Banco Central, junto com fatores como a desaceleração da economia, a queda das expectativas de inflação e a eleição mais apertada do que o esperado, o que em tese pode conter políticas fiscais mais expansionistas no próximo governo, conforme noticiado pela Bloomberg News.

Economistas consultados pela Bloomberg Línea, no entanto, ressalvam: a queda atual tem caráter temporário e o Banco Central vai acompanhar a evolução desse quadro nos próximos meses, bem como as expectativas de mercado. Uma das categorias mais observadas será a de alimentos e bebidas.

Para Tatiana Nogueira, economista da XP (XP), os preços dos alimentos devem seguir em trajetória de queda nos próximos meses, diante de uma dinâmica “um pouco mais benigna para a inflação”, porém não no mesmo ritmo observado em setembro.

Para a XP, a expectativa é que a inflação medida pelo IPCA volte para o cenário de alta, porém com uma variação mais baixa do que a observada no fim de 2021 e no primeiro semestre de 2022.

Carlos Macedo, economista e especialista em alocação de investimentos da Warren, também enxerga maior probabilidade de continuidade da moderação da inflação, ainda que não mais deflacionária e com ritmo de queda diferente entre as categorias. “Está claro que o pior da inflação já passou e a questão agora é acompanhar a velocidade dessa melhora”, diz.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro teve queda de 0,29% depois de ter recuado 0,36% em agosto e 0,68% em julho. No ano, o IPCA acumula alta de 4,09%, e nos últimos 12 meses, de 7,17%.

Apesar da desaceleração, no acumulado em 12 meses, o índice ainda continua acima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), do Banco Central, de 3,5% para o ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual.

Como já era esperado, o grupo de transportes registrou queda pelo terceiro mês consecutivo, recuo de 1,98% em setembro, contribuindo novamente com o impacto negativo mais intenso sobre o IPCA do mês. Foi uma consequência da queda de 8,50% no preço dos combustíveis no período.

Mas, além de combustíveis, outra categoria chamou a atenção dos economistas consultados pela Bloomberg Línea: o de alimentos e bebidas.

Os preços da categoria tiveram queda de 0,51% no mês - a primeira desde novembro de 2021 -, puxado por alimentação no domicílio, com recuo de 0,86%. A deflação chama a atenção porque esses preços estão entre os que mais subiram no acumulado do ano: 9,54% até setembro, segundo o IBGE.

Para Eduardo Vilarim, economista do Banco Original, o resultado de setembro representa algum alívio ao consumidor, dado que as deflações observadas na última leitura do IPCA compõem a maior parte da cesta individual de cada família, ou seja, alimentos e combustíveis.

Mas, para ele, o movimento é passageiro, uma vez que os preços dos alimentos devem voltar a acelerar, respeitando a sazonalidade dos itens, com um período de preços maior tanto no começo quanto no fim do ano em decorrência do período de chuvas, que afetam as safras.

Além disso, ele lembra ainda que as demais contribuições negativas para o índice vistas nos grupos de combustíveis e comunicação (queda de 2,08%) devem diminuir neste mês, o que leva o banco a projetar uma alta na inflação para outubro. “Com os dados de hoje, projetamos uma alta de 0,3% para o IPCA em outubro”, disse Vilarim.

O que esperar na prática

Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos, diz que, apesar do período de grande instabilidade nos preços, o cenário é mais favorável para o consumidor. “Para o dia-a-dia do brasileiro, a sensação de perda do poder de compra perde força, apesar de ainda persistir”, diz.

A economista faz a ressalva de que há um comportamento heterogêneo na categoria de alimentos, uma vez que alguns itens mostram alta expressiva, sobretudo no acumulado do ano, enquanto outros mostram queda, sem uma direção única ou estabilidade.

Sá atribui esse comportamento à sazonalidade, por causa de questões climáticas, e ao cenário internacional, com destaque para os efeitos ainda existentes da guerra da Rússia contra a Ucrânia. O conflito afeta diretamente o preço do trigo e ajuda também a puxar as cotações do milho e da soja.

A Rico Investimentos projeta que a inflação oficial ao consumidor encerre o ano em 5,60%, bem abaixo dos dois dígitos vistos na primeira metade do ano. No entanto Rachel de Sá também aponta para uma nova dinâmica dos preços de agora em diante.

“A projeção de queda da inflação não significa que os preços seguirão caindo, como vimos em alguns itens em setembro, mas, sim, que subirão mais lentamente”. Assim, a corretora também projeta a volta da inflação para o terreno positivo já nos próximos meses.

Leia também

Lula e Bolsonaro empatados? Economist retifica dado que viralizou na Faria Lima