Volatilidade cria oportunidades e deve ser aliada, defendem gestores em NY

Heads de investimento de grandes assets apontam, no evento Bloomberg Invest, como obter retornos no momento atual de incertezas e aperto monetário

Estrategistas defendem estratégia do value investing na bolsa em meio ao desconto no preço de ações por causa da alta dos juros
13 de Outubro, 2022 | 08:08 AM

Nova York — Enquanto muitos investidores têm ampliado as proteções na carteira diante do momento de maior incerteza e volatilidade, outros têm aproveitado para aumentar apostas em oportunidades que surgem. É o que revelam estrategistas e heads de investimento de grandes gestoras do mercado americano.

É o caso de John Rogers, CIO da Ariel Investments, com cerca de US$ 16 bilhões sob gestão, que tem mantido uma estratégia de value investing e apostado em teses nas quais tem convicção, com foco no longo prazo.

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“Nunca vi uma volatilidade tão alta como agora, mas ela deve ser sua amiga. Aqueles que olham para frente, não para o curto prazo, vão conseguir bons retornos depois que a tempestade passar”, disse durante o evento Bloomberg Invest em Nova York na quarta-feira (12).

“A volatilidade cria oportunidades. Estamos negociando agora mais os nomes de que gostamos por menos custo.”

Rogers citou como exemplo as ações da gigante de mídia Paramount Global (PARA), nas quais continua investindo apesar do cenário desafiador e de parte do mercado não tão confiante com os papéis. “É preciso coragem para comprar quando todo mundo está com medo. É difícil”, disse.

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No crédito privado, Boaz Weinstein, fundador e CIO da gestora Saba Capital Management, também disse enxergar oportunidades criadas pelo momento de mercado.

Durante painel, ele chamou a atenção para o cenário de pouca visibilidade, pautado por uma série de eventos negativos e, consequentemente, por um comportamento do investidor mais avesso ao risco e com redução de posições mais agressivas.

Weinstein citou como exemplo papéis de dívida de grandes empresas dos Estados Unidos, como Coca-Cola (KO) e Johnson & Johnson, por exemplo, que têm oferecido spreads maiores do que os pagos no pico da crise da covid, apesar dos fundamentos mantidos.

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Com a avaliação de que há uma “distorção técnica” dos mercados, as maiores apostas da casa hoje na classe recaem sobre os setores de consumer finance, papel, exportadoras e setores cíclicos.

Fundos Macro de volta

Assim como no Brasil, que viu um frenesi da renda variável quando a taxa de juros chegou aos 2% ao ano em 2020 e 2021, nos Estados Unidos o longo histórico de juros perto de zero fez com que investidores evitassem estratégias macro, como fundos multimercado ou os chamados hedge funds.

O cenário, contudo, está mudando. Na tentativa de conter a inflação mais alta em 40 anos, o Federal Reserve tem elevado a taxa básica e o mercado segue projetando novos aumentos diante de dados que seguem mostrando uma economia sólida nos EUA.

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A taxa está no intervalo entre 3,00% e 3,25%, a mais alta desde 2008, e os próprios integrantes do Fed projeta, na mediana, que os juros vão chegar a 4,6% no próximo ano.

Nesse contexto, quem já estava exposto para capturar o movimento de alta dos juros tem conseguido se destacar. É o caso da Graham Capital Management, que tem cerca de US$ 18 bilhões sob gestão e cujos fundos têm apresentado altas da ordem de 20% a 50% no ano.

Durante o evento Bloomberg Invest em Nova York, Kenneth Tropin, fundador e presidente da Graham Capital Management, destacou os fortes movimentos dos mercados em meio às políticas de aperto monetário ao redor do mundo.

Segundo ele, a inflação ainda é um dos principais temas no cenário macroeconômico e dificilmente o banco central dos EUA conseguirá se livrar dela no curto prazo. “A inflação até pode cair no próximo ano, mas não vejo chegando próximo da meta [de 2% ao ano], só em 2025″, disse.

“Vai ser dolorido para a economia – uma outra forma de dizer que teremos uma recessão. Mas é uma das coisas que vamos ter que aceitar após anos e anos de afrouxamento da política monetária”, completou.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.