Startup vê ‘aveia sexy’ como alimento do futuro e quer expandir na América Latina

Companhia de leite vegetal Nude, avaliada em R$ 125 milhões, começou a exportar para o Uruguai há menos de um ano e já mira mercados vizinhos

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Bloomberg Línea — Apesar de não ser uma matéria-prima tão atraente, ou “sexy”, como definem, a aveia chamou a atenção do casal de empreendedores Giovanna Meneghel e Alexander Appel quando pensaram em criar o próprio negócio. Dois anos depois e com a marca de leite vegetal Nude já nas prateleiras dos mercados, a empresa foi avaliada em R$ 125 milhões em rodada de investimentos em janeiro deste ano.

A bebida à base de aveia é produzida a partir da plantação da família de Meneghel, iniciada por seu pai há 30 anos no Paraná . De olho na demanda ESG, a companhia rastreia as fases da cadeia para medir a pegada de carbono do produto. O resultado é impresso nas embalagens de seus produtos.

A empresária com formação em direito contou à Bloomberg Línea que não pensava em trabalhar com o produto da família. “Nosso objetivo não é substituir o leite de origem animal, mas conscientizar consumidores sobre a saúde humana e do planeta”, disse Meneghel.

Appel, cofundador e responsável pela operação comercial da Nude, disse que, além dos princípios ambientais e de saúde, o sabor é o principal apelo junto aos consumidores. “Não adianta um leite vegetal que muda o sabor do café. Imagine um barista que selecionou com cuidado o tipo do café que usaria misturando aquilo com um leite que rouba a cena. Não seria legal”, disse.

Ainda que o cereal esteja presente na indústria e ao alcance do varejo há muitos anos, ela aposta no produto como “alimento do futuro” e que ainda vai se popularizar mais no país. “Aveia nunca foi vista como sexy”, disse Appel.

A companhia, que não abre os números da operação, diz apenas que projeta um crescimento de 350% do faturamento anual em 2022.

Em rodada de investimento Série A no início deste ano, a Nude recebeu aporte de R$ 25 milhões da Vox Capital junto com o fundo especializado no mercado plant based, o Lever VC, além da Endeavor Scale-up Ventures, da Ecoa Capital e da Angel Ventures.

Segundo Appel, a expectativa é chegar a uma Série B, mas isso não para este ano.

Um dos desafios da marca é ultrapassar a barreira dos veganos e alérgicos a lactose, ou seja, provar que não é preciso ter restrições ao consumo de leite animal para aderir ao produto vegetal. A distribuição também é um fator que a companhia busca aperfeiçoar, com o objetivo de reduzir a emissão de carbono da cadeia logística.

Começando pelo chamado last mile - a entrega até a casa do cliente -, a Nude iniciou em setembro a entrega de seus produtos por carro elétrico na capital de São Paulo para 300 cafeterias parceiras que servem seus produtos. O veículo deve rodar cerca de 120 km por dia, 22 dias por mês, e tem previsão de redução anual de emissão de carbono de 7,02 toneladas de CO2 equivalente.

Entre os últimos lançamentos de produtos da marca estão os proteinados - bebida com alta concentração de proteína à base de aveia -, que demandaram investimento de R$ 5 milhões para pesquisa e desenvolvimento, marketing, comunicação e capital de giro. A aposta também envolve ampliar a distribuição da Nude, já que a bebida proteica é distribuída em farmácias e mercados de bairro.

As estratégias para ampliar o conhecimento da marca também foram implementadas no lançamento da versão barista do leite, para alcançar cafeterias, e no creme de aveia - uma versão do creme de leite -, para chegar aos cozinheiros.

Ao todo, o leite Nude é distribuído em 500 cafeterias no país, por meio de parcerias como a que acertaram com a rede The Coffee - a ação em setembro permitiu a troca do leite animal pelo Nude gratuitamente no Brasil e pela marca Minor Figures fora do país. A iniciativa aumentou em três vezes o consumo do leite vegetal nas lojas da rede em comparação com o mesmo período do mês anterior.

Mercado do leite de aveia

Em um mercado ainda limitado - quando comparado ao de origem animal -, os leites vegetais estão em fase expansão, e a aveia ocupa uma parcela do mercado. A expectativa é que a demanda global por bebida de aveia cresça 8,2% ao ano até 2027, de acordo com um estudo da Future Market Insights.

Outro estudo, do Market Research Future (MRF), aponta que o mercado de produtos com base no cereal deve chegar a um valor global de quase R$ 11 bilhões até 2026, - o que a Nude enxerga como um cenário favorável para desenvolvimento e investimentos mais agressivos.

Os resultados de empresas como a sueca Oatly e a americana Chobani são o reflexo do crescimento do mercado global de aveia. A Oatly levantou US$ 1,4 bilhão com o seu IPO (oferta pública inicial) em maio deste ano, enquanto a Chobani atingiu uma fatia de 15,1% de participação do mercado desde que entrou no segmento de alimentos à base de aveia em dezembro de 2019.

Hoje essa categoria ganhou para a Chobani destaque comparável a que possui de de iogurtes, em que possui quase metade do volume de vendas nos Estados Unidos.

Exportação e IPO

Mesmo sem novas rodadas de investimentos no horizonte de curto prazo, os projetos de expansão da Nude já miram a expansão para países vizinhos.

Há menos de um ano, a marca começou a exportar produtos para o Uruguai, ainda que em fase de teste. “O mercado lá é quase do tamanho de Belo Horizonte, por exemplo, e ainda estamos entendendo. Mas exportar é o caminho e miramos a América Latina”, pontuaram.

Os planos de crescimento esbarram em barreiras como a ainda limitada aceitação do tipo do alimento no mercado brasileiro e, claro, a concorrência. Entre as bebidas vegetais distribuídas no país, a Ades (à base de soja, de propriedade da Coca Cola desde quando foi comprada da Unilever em 2016) e a Tal da Castanha são as dominantes do setor.

Na visão dos fundadores, a Nude tem o diferencial da aveia orgânica e produção integralmente no país (diferente do leite de amêndoa, por exemplo, que precisa importar a matéria-prima).

“Ainda temos muitas ideias de produtos”, contam. “Vamos continuar crescendo e investindo até chegar a um IPO, por que não?”

Questionados sobre o status de unicórnio, como foi o caso da NotCo, startup chilena de bebidas vegetais, eles responderam: “esperamos que sim, mas achamos que seria consequência, um resultado dos nossos esforços.”

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