Mercados em queda com prognósticos ruins para balanços e economia

Renda variável se sustenta em território negativo , petróleo recua com força e pressão vendedora no mercado de dívida é monitorada com atenção

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Barcelona, Espanha — (Esta é a versão atualizada de nota publicada originalmente às 6h34)

A pressão vendedora se faz presente em mais uma sessão, com os investidores moderando seu apetite por risco enquanto ponderam alertas sobre recessão nas grandes economias. A guerra da Rússia contra a Ucrânia vem ganhando tons mais dramáticos, o que também esfria o ânimo dos operadores. Além disso, a inflação nos Estados Unidos e os balanços corporativos do último trimestre, vetores desta semana, podem indicar ao mercado o rumo do ciclo de aperto monetário.

A cautela predomina no mercado acionário europeu, assim como nos futuros de índices nos Estados Unidos, que também recuavam momentos atrás. O desempenho no segmento acionário é acompanhado pelo aumento dos rendimentos dos títulos de dívida nos Estados Unidos, que denota temores em relação à inflação alta e à política agressiva do Fed e de outros bancos centrais para lidar com a pressão dos preços.

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Os prêmios dos bônus do Tesouro dos EUA a dois anos galgavam o nível mais alto desde 2007, enquanto seus pares de 10 anos subiam 6 pontos bases, para 3,94%. Já o rendimento dos títulos de 30 anos batia o maior patamar desde 2014.

O rendimento dos bônus do Reino Unido com vencimento em 10 anos recuavam instantes atrás quatros base para 4,44%, após terem acumulado ontem aumento de mais de 50 pontos base desde 4 de outubro, o que obrigou o Banco da Inglaterra (BoE) a uma atuação emergencial para enfrentar o que denominou de “dinâmica incendiária de vendas”.

O BoE está ampliando o uso de ferramentas para equilibrar a dinâmica de oferta x demanda do mercado, comprando também títulos da dívida do Reino Unido indexados à inflação. O objetivo é evitar o episódio de ontem, classificado pelo próprio BoE como “venda incendiária”, que ameaça a estabilidade financeira. Em resposta, o rendimento dos títulos indexados à inflação de 10 anos caiu até 12 pontos-base após o anúncio.

Também chama a atenção a desvalorização do barril do petróleo, que voltava a se situar abaixo de US$ 89, devolvendo parte da recuperação que a commodity registrou após o corte de produção anunciada pela OPEP+, na semana passada.

→ O que move os mercados hoje

📉 Balanços em risco. As perspectivas para a temporada de balanços não são nada alentadoras. Estrategistas de grandes bancos de investimento alertam que a desaceleração da demanda e os custos crescentes estarão refletidos no desempenho das companhias no terceiro trimestre. Outros riscos envolvem o dólar mais forte e o excesso de estoques, assim como mudanças tributárias. Além de resultados frustrantes, as empresas também podem trazer revisões negativas para este trimestre e para as estimativas de 2023, com potencial de adicionar estresse nos mercados.

🚘 Luxo sem crise. No mercado de carros de luxo, a demanda parece firme. As vendas da Mercedes-Benz AG aumentaram 21% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, com a demanda na China liderando um forte crescimento em todas as principais regiões. Mesmo na Europa, onde o aumento de gastos com energia afeta os compradores, as entregas subiram cerca de 18% após um período de produção afetada pela escassez de semicondutores.

👁️ Foco de atenção. O FMI divulga hoje seu relatório com as previsões para a economia mundial e as expectativas não são reconfortantes. Tanto o FMI como Banco o Mundial já alertaram ontem sobre “perigo real” de recessão, que se alimenta do ciclo insidioso de enfraquecimento das economias, persistência da inflação e atuação dura de bancos centrais para controlar preços. O prêmio Nobel de Economia e ex-presidente do Fed, Ben Bernanke, também disse ser necessário prestar “muita atenção” ao atual cenário.

🔻 Pressão no setor tech. Na manhã de hoje, os fabricantes de microprocessadores - e empresas que altamente dependentes deste componente - voltavam a encadear perdas. A administração Biden anunciou na semana passada que planeja restringir a exportação de tecnologia de semicondutores à China, uma tentativa de frear o impulso do país asiático para desenvolver sua própria indústria de chips. A medida aumenta a tensão entre os dois países e adiciona mais incertezas a uma indústria que enfrenta uma queda na demanda.

🪖 Tensão no front. Os ataques da Rússia contra alvos civis e de infraestrutura na Ucrânia ontem, que deixou ao menos 23 mortos, representam uma escalada importante e continuam hoje com mísseis alcançando Zaporizhzhia e Lviv, enquanto as sirenas de ataque aéreo soaram em toda a Ucrânia. O país interrompe as exportações de eletricidade a partir de hoje, depois que instalações de energia ucranianas foram atingidas. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu mais apoio com sistemas avançados de defesa aérea e a União Europeia denunciou os ataques de ontem como “crimes de guerra”. A China disse estar preocupada com o agravamento da situação.

🟢 As bolsas ontem (10): Dow Jones Industrials (-0,32%), S&P 500 (-0,75%), Nasdaq Composite (-1,04%), Stoxx 600 (-0,40%), Ibovespa (-0,37%)

As bolsas dos EUA encerraram o primeiro pregão da semana com perdas em meio a temores de uma possível recessão econômica. Na semana passada, os mercados fecharam no vermelho com a expectativa de que o Fed continuará seu ciclo de aperto monetário. Ontem essa perspectiva foi reforçada pela vice-presidente do Fed, Lael Brainard, que afirmou ser necessário sustentar o aperto da economia “por algum tempo” para garantir o retorno da inflação à meta.

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Na agenda

Esta é a agenda prevista para hoje:

EUA: Índice de Otimismo entre Pequenas Empresas NFIB/Set, Expectativa de Inflação ao Consumidor-Fed, Índice Redbook, Reuniões do FMI

Europa: Reino Unido (Taxa de Desemprego/Ago, Índice RICS de Preços de Imóveis/Set); Itália (Produção Industrial/Ago)

Ásia: Japão (Índice Economy Watchers/Set, Encomendas de Maquinaria/Ago)

América Latina: Brasil (IPCA/Set)

Bancos centrais: Discursos de Loretta Mester e Patrick Harker (Fed), Philip Lane e Andrea Enria (BCE), Andrew Bailey (presidente do BoE) e John Cunliffe (BoE)

📌 Para a semana:

Balanços: JPMorgan Chase & Co, Citigroup Inc, Morgan Stanley, BlackRock, Delta Air Lines, Fast Retailing, Infosys, PepsiCo, TSMC, Tata Consultancy, UnitedHealth, US Bancorp, Walgreens Boots, Wells Fargo, Wipro

Quarta: Ata do FOMC/Fed sobre a reunião de setembro. EUA (IPP/Set), Contratações de Hipotecas). Informe mensal da OPEP sobre o mercado de petróleo. Discursos de Michelle Bowman e Neel Kashkari (Fed) e de Christine Lagarde (presidente do BCE)

Quinta: EUA (IPC, Pedidos Iniciais de Seguro Desemprego). Reunião dos ministros de Finanças e dos bancos centrais do G-20.

Sexta: EUA (Vendas no Varejo/Set, Estoques das Empresas/Ago, Sentimento do Consumidor- Univ. de Michigan); China (IPC/Set, IPP/Set e Balança Comercial). Compra de emergência de bônus pelo Bank of England (BoE) prevista para terminar

(Com informações da Bloomberg News)