Lula e Bolsonaro empatados? Economist retifica dado que viralizou na Faria Lima

Versão do agregador de pesquisas da publicação britânica divulgada na segunda-feira apontava atual presidente com viés de alta; revista justifica alteração

Eleição apertada no segundo turno continua a atrair a atenção no mercado financeiro e entre brasileiros em geral
11 de Outubro, 2022 | 07:34 PM

Bloomberg Línea — A renomada revista britânica The Economist realizou um ajuste em seu agregador de pesquisas eleitorais para o Brasil nesta terça-feira (11) e divulgou um resultado em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece com 54% das intenções de voto, e o presidente Jair Bolsonaro (PL), com 46%.

O resultado destoa da versão que viralizou entre investidores e gestores na Faria Lima na segunda-feira (10), em que o agregador da publicação, chamado de poll of polls (pesquisa das pesquisas, na tradução livre), mostrava Lula e Bolsonaro empatados com 50%, mas o petista com viés de baixa, e o atual presidente da República com viés de alta.

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Para alguns analistas políticos e do mercado financeiro, isso indicava que Bolsonaro estava a caminho de uma inédita virada no segundo turno de uma eleição presidencial.

Esse é um resultado que circula entre alguns gestores da Faria Lima que fazem seus trackings e com os quais a Bloomberg Línea conversou nos últimos dias. Esses gestores, que pediram para não serem identificados, comparam a ascensão de Bolsonaro com a que teve Aécio Neves no começo da campanha do segundo turno da eleição de 2014: na ocasião, o tucano chegou a aparecer na frente da então presidente Dilma Rousseff depois de ter superado apenas na véspera do primeiro turno a candidata Marina Silva.

O primeiro turno em 2022 terminou com Lula à frente, com 48,43% dos votos válidos, contra 43,2% do presidente, com 6 milhões de votos a mais, o que em tese coloca o petista na posição de favorito. Mas Bolsonaro, ao que tudo indica, segundo as pesquisas, reduziu a diferença na reta final antes da votação.

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A Economist revisou seus cálculos. Em nota divulgada nesta terça na página de seu agregador, a revista disse: “Em dias sem pesquisas, calculamos nossa média extrapolando tendências conforme pesquisas recentes. Uma versão anterior da nossa média fez com que essa extrapolação ficasse muito distante das últimas pesquisas. Combinamos as pesquisas para evitar tais discrepâncias”.

A Bloomberg Línea procurou a The Economist para mais informações, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

A mudança não passou despercebida. O cientista político Andrei Roman, CEO do instituto Atlas Intelligence (o que chegou mais perto de acertar o resultado do primeiro turno), disse que o agregador da Economist foi reajustado para corrigir o “erro” das pesquisas brasileiras para o primeiro turno.

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Até sábado (1), véspera da votação, a maioria dos institutos dizia que Bolsonaro teria menos de 40% das intenções de voto - apenas o Ipespe apontou 40%, e o Atlas indicou 41%. Para Roman, a diferença aconteceu porque os institutos mais conhecidos teriam jogado para cima o peso dos eleitores de baixa renda, o que teria superestimado o desempenho de Lula e subestimado o de Bolsonaro.

As pesquisas mais recentes do Ipec (ex-Ibope) e do Datafolha, os dois maiores institutos brasileiros, reajustaram as intenções de voto de Bolsonaro entre o primeiro turno e as últimas pesquisas.

O resultado disso foi uma aparente tendência de alta nas intenções de voto em Bolsonaro, segundo Roman - um veículo chegou a publicar que a diferença entre os dois concorrentes no segundo turno havia caído de 16 para 5 pontos. “Não era precisamente um erro metodológico do agregador do The Economist, mas de fato das pesquisas que estavam sendo agregadas”, disse no Twitter.

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Para o CEO do AtlasIntel, os institutos fizeram um “ajuste de nível” para corrigir o “erro sistemático anterior”. Como o agregador da Economist procura usar as pesquisas para projetar tendências e chegar a uma estimativa, esse “erro sistemático estava poluindo o agregador” da revista, de acordo com o cientista político.

O que a Economist teria feito agora, portanto, foi incorporar a correção realizada pelos institutos ao seu agregador, chegando a um suposto retrato mais fiel da situação atual dos candidatos.

O agregador da PollsterGraph, que só usa pesquisas feitas depois do primeiro turno, mostra Lula com 49,3% das intenções de voto, e Bolsonaro, com 43,5%. Considerando os “votos válidos” (conta que exclui quem disse que vai votar em branco ou nulo), o placar fica 53,2% a 46,8%.

Já o agregador do jornal O Estado de S. Paulo, que junta resultados de diversas pesquisas, inclusive de institutos menores, mostra Lula à frente com 49% das intenções de voto, contra 42% de Bolsonaro. Considerando os votos válidos, Lula fica à frente com 54% a 46%.

O que dizem os institutos

A Bloomberg Línea procurou o Datafolha, o Ipec e a Quaest nos últimos dias, mas não obteve resposta. A Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), que reúne os institutos brasileiros, afirmou em nota na quarta-feira da semana passada (5) que “pesquisas de intenção de voto são diagnósticos, e não projeções dos resultados apurados nas urnas”.

“Pesquisa de intenção de voto não se presta a medir o comportamento do eleitor na hora de votar, mas confere a sua tendência através da verbalização sobre o que pretende fazer. A tradução das intenções de voto em comportamento está sujeita a diversos fatores até o momento da votação, entre eles alterações na vontade do eleitor ou o seu não comparecimento às urnas”, disse a Abep na nota.

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Pedro Canário

Repórter de Política da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero em 2009, tem ampla experiência com temas ligados a Direito e Justiça. Foi repórter, editor, correspondente em Brasília e chefe de redação do site Consultor Jurídico (ConJur) e repórter de Supremo Tribunal Federal do site O Antagonista.