A visão de Figueiredo sobre o mercado de capitais após a fusão de Mauá e Jive

Nova casa nasce com R$ 14 bilhões de ativos sob gestão e simboliza aposta na continuação do desenvolvimento do mercado apesar dos juros altos

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Bloomberg Línea — Sócio-fundador e CEO da Mauá Capital, uma das gestoras mais tradicionais do país, Luiz Fernando Figueiredo está de mudança para um novo escritório após a fusão com a gestora Jive, anunciada em maio.

O negócio, que acaba de ser concluído, forma uma gestora independente com cerca de R$ 14 bilhões em ativos sob gestão. O foco é principalmente em investimentos alternativos – isto é, participações em projetos imobiliários, de infraestrutura e do setor agrícola e também distressed (em recuperação após dificuldades financeiras), uma área de especialidade da Jive.

Figueiredo, que passa a ser presidente do conselho da nova operação, disse em entrevista à Bloomberg Línea que a fusão com a Jive Investments consolida uma visão que ele tinha quando passou a investir em alternativos há cerca de uma década, apostando em ativos ligados à economia real.

A expectativa era a de que o mercado brasileiro iria evoluir e se tornaria mais parecido com os dos demais países, onde os ativos não líquidos têm mais relevância do que aqui e oferecem uma boa oportunidade de retorno. É uma visão de desenvolvimento do mercado de capitais de longo prazo.

“Com o juro muito alto, durante muitos anos os ativos líquidos tiveram sempre muito valor comparados com ativos não líquidos”, disse Figueiredo em entrevista no escritório da Mauá, antes da mudança para a sede da Jive.

“Tínhamos a visão de que, em algum momento, os ativos líquidos reduziriam um pouco a sua relevância para os ativos não líquidos de mais longo prazo, o que é o normal no mundo. No mundo, se você compra ativo de curto prazo, você ganha zero. Você só ganha dinheiro investindo se compra ativos de risco de mais médio e longo prazo.

Apesar dos juros elevados atualmente, em 13,75% ao ano, Figueiredo, que foi diretor de política monetária do Banco Central, disse acreditar que o Brasil continuará seguindo o caminho do desenvolvimento do mercado de capitais e da economia, aprovando reformas estruturais que melhoram o ambiente de negócios, independentemente do candidato vencedor nas eleições. A estratégia da Mauá, agora unida à Jive, continuará a ser essa.

“O Brasil está ficando mais parecido com o resto do mundo. O mercado de capitais se desenvolveu barbaramente. O Estado já não é mais a resposta para o capital de investimento de longo prazo. O próprio investimento cresceu”, disse Figueiredo.

“Por exemplo, o setor de infraestrutura tem um investimento contratado de quase R$ 1 trilhão para os próximos 10 anos. Como isso vai ser financiado? Empresas como a nossa estão aqui para ajudar a financiar”, afirmou.

Figueiredo diz que o valor de ativos sob gestão pode encerrar o ano perto de R$ 20 bilhões. As áreas de investimento continuam sendo infraestrutura, real estate, setor agrícola e a de distressed.

Segundo ele, as conversas com a Jive começaram em abril e já no mês seguinte foi assinado o term sheet. As equipes das gestoras vinham interagindo desde então e estavam se preparando para trabalhar juntas, agora no atual escritório da Jive.

“A Mauá estava crescendo, mas, para ter uma grande robustez, nós achávamos que iria acabar se juntando com alguém complementar. Do lado da Jive, fazia parte dos planos ampliar a base de negócios. No fim, para as duas fazia sentido tornar a empresa mais completa. E foi o que fizemos”, afirmou.

Em uma mensagem publicada no LinkedIn, Figueiredo se disse animado com a fusão e a mudança, que ele descreve como “uma nova fase na minha vida”.

“Essa fusão coroa o trabalho de 17 anos que tive liderando a Mauá, uma empresa que muito me orgulha pela sua excelência, capacidade e propósito. Vejo que o melhor ainda está por vir, principalmente pela soma de duas empresas, que serão capazes de nos levar muito mais longe que cada uma delas individualmente”, escreveu.

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