A visão de Figueiredo sobre o mercado de capitais após a fusão de Mauá e Jive

Nova casa nasce com R$ 14 bilhões de ativos sob gestão e simboliza aposta na continuação do desenvolvimento do mercado apesar dos juros altos

Foco em ativos mais ligados à economia real e perfil de longo prazo
11 de Outubro, 2022 | 03:44 AM

Bloomberg Línea — Sócio-fundador e CEO da Mauá Capital, uma das gestoras mais tradicionais do país, Luiz Fernando Figueiredo está de mudança para um novo escritório após a fusão com a gestora Jive, anunciada em maio.

O negócio, que acaba de ser concluído, forma uma gestora independente com cerca de R$ 14 bilhões em ativos sob gestão. O foco é principalmente em investimentos alternativos – isto é, participações em projetos imobiliários, de infraestrutura e do setor agrícola e também distressed (em recuperação após dificuldades financeiras), uma área de especialidade da Jive.

Figueiredo, que passa a ser presidente do conselho da nova operação, disse em entrevista à Bloomberg Línea que a fusão com a Jive Investments consolida uma visão que ele tinha quando passou a investir em alternativos há cerca de uma década, apostando em ativos ligados à economia real.

A expectativa era a de que o mercado brasileiro iria evoluir e se tornaria mais parecido com os dos demais países, onde os ativos não líquidos têm mais relevância do que aqui e oferecem uma boa oportunidade de retorno. É uma visão de desenvolvimento do mercado de capitais de longo prazo.

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“Com o juro muito alto, durante muitos anos os ativos líquidos tiveram sempre muito valor comparados com ativos não líquidos”, disse Figueiredo em entrevista no escritório da Mauá, antes da mudança para a sede da Jive.

“Tínhamos a visão de que, em algum momento, os ativos líquidos reduziriam um pouco a sua relevância para os ativos não líquidos de mais longo prazo, o que é o normal no mundo. No mundo, se você compra ativo de curto prazo, você ganha zero. Você só ganha dinheiro investindo se compra ativos de risco de mais médio e longo prazo.

Apesar dos juros elevados atualmente, em 13,75% ao ano, Figueiredo, que foi diretor de política monetária do Banco Central, disse acreditar que o Brasil continuará seguindo o caminho do desenvolvimento do mercado de capitais e da economia, aprovando reformas estruturais que melhoram o ambiente de negócios, independentemente do candidato vencedor nas eleições. A estratégia da Mauá, agora unida à Jive, continuará a ser essa.

“O Brasil está ficando mais parecido com o resto do mundo. O mercado de capitais se desenvolveu barbaramente. O Estado já não é mais a resposta para o capital de investimento de longo prazo. O próprio investimento cresceu”, disse Figueiredo.

“Por exemplo, o setor de infraestrutura tem um investimento contratado de quase R$ 1 trilhão para os próximos 10 anos. Como isso vai ser financiado? Empresas como a nossa estão aqui para ajudar a financiar”, afirmou.

Figueiredo diz que o valor de ativos sob gestão pode encerrar o ano perto de R$ 20 bilhões. As áreas de investimento continuam sendo infraestrutura, real estate, setor agrícola e a de distressed.

Segundo ele, as conversas com a Jive começaram em abril e já no mês seguinte foi assinado o term sheet. As equipes das gestoras vinham interagindo desde então e estavam se preparando para trabalhar juntas, agora no atual escritório da Jive.

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“A Mauá estava crescendo, mas, para ter uma grande robustez, nós achávamos que iria acabar se juntando com alguém complementar. Do lado da Jive, fazia parte dos planos ampliar a base de negócios. No fim, para as duas fazia sentido tornar a empresa mais completa. E foi o que fizemos”, afirmou.

Em uma mensagem publicada no LinkedIn, Figueiredo se disse animado com a fusão e a mudança, que ele descreve como “uma nova fase na minha vida”.

“Essa fusão coroa o trabalho de 17 anos que tive liderando a Mauá, uma empresa que muito me orgulha pela sua excelência, capacidade e propósito. Vejo que o melhor ainda está por vir, principalmente pela soma de duas empresas, que serão capazes de nos levar muito mais longe que cada uma delas individualmente”, escreveu.

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Filipe Serrano

É editor da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.