São Paulo — Com a inadimplência em alta no Brasil, analistas expressam cautela com os resultados dos bancos brasileiros no terceiro trimestre deste ano. A safra de balanços do setor financeiro começa no próximo dia 26 de outubro, com a divulgação dos dados pelo Santander Brasil (SANB11). Já Bradesco (BBDC4) e Itaú Unibanco (ITUB4) reportam seus números somente em novembro (dias 8 e 10, respectivamente).
Em agosto, pelo oitavo mês consecutivo, a inadimplência voltou a crescer no país, chegando a 67.976.241 brasileiros, um aumento de 0,5% em relação a julho, segundo a consultoria Serasa Experian. A alta foi uma das menores registradas nos meses de crescimento consecutivo e pode ter sido contida pelo elevado número de negociações de dívidas realizadas em agosto, que chegou a 2,8 milhões, 22% a mais do que em julho, explicou a empresa, em nota.
Diante desse efeito colateral do ciclo de altas de juros (13,75% ao ano), interrompido pelo Banco Central no mês passado, analistas começaram a revisar suas projeções para o desempenho dos bancos brasileiros, incluindo mudança em recomendação para as ações.
Hoje, as ações do Bradesco atingiram a cotação intradiária mínima de R$ 20,08, queda de 4,25%, na manhã desta sexta-feira (7), após o banco norte-americano JPMorgan rebaixar a recomendação para os papéis de “overweight” (desempenho acima da média do mercado) para “neutro”, informou a Bloomberg News.
O analista Domingos Falavina viu um potencial de upside (valorização) limitado para as ações depois do rali pós-primeiro turno das eleições, no último domingo (2) e apontou ainda que os indicadores de inadimplência do banco devem continuar se deteriorando mais rápido do que seus pares.
Na avaliação do analista, as despesas com provisões do Bradesco de 2022 devem vir acima do topo do guidance do banco (entre R$ 17 bilhões e R$ 21 bilhões), provavelmente R$ 22,6 bilhões, segundo a Bloomberg News.
No resultado do segundo trimestre, o Bradesco já havia admitido que teve de vender carteira de crédito sem garantia (a partir de cinco anos de atraso).
As instituições bancárias disseram, em suas reuniões com analistas sobre os balanços, que os indicadores de inadimplência estão sob controle. Em recente entrevista à Bloomberg Línea, o gestor e sócio cofundador da Trígono Capital, Werner Roger, alertou, no entanto, que as instituições bancárias do país estão evitando lançar provisões mesmo sabendo que os devedores estão sem capacidade de honrar seus compromissos.
“Não acredito nas provisões dos bancos, que estão menos conservadores do que deveriam ser. Tudo para apresentar ao mercado um ROE [retorno sobre patrimônio, indicador de rentabilidade] de 20%”, disse Roger, que trabalhou como diretor de crédito durante nove anos em dois bancos estrangeiros (Citi e Chase).
No segundo trimestre, o Bradesco registrou a menor rentabilidade entre os pares, com ROE de 18,1%, abaixo do desempenho de Itaú (20,8%), Santander Brasil (20,8%) e Banco do Brasil (20,6%).
A preocupação dos analistas é com a saúde financeira das empresas que tomam dinheiro emprestado nos bancos e enfrentam dificuldades de rolar seus débitos devido ao impacto dos juros elevados. No mês passado, por exemplo, o Grupo Itapemirim teve a falência decretada pela Justiça de São Paulo, a pedido do Bradesco, um dos seus principais credores.
Já o Indicador de Inadimplência das Empresas da Serasa Experian revelou que, em agosto, das 5.540.767 micro e pequenos negócios (MPEs) com contas em atraso no Brasil, 53% eram do Sudeste, terceiro lugar no ranking das regiões, seguido pela Sul (16,4%), Nordeste (16,3), Centro-Oeste (9%) e Norte (5,3%). O estado de São Paulo se destaca com 1,8 milhão de empresas no vermelho, seguido por Minas Gerais com 543 mil e Rio de Janeiro com 483,2 mil.
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