EXCLUSIVO: Amazon desiste de mudança para o Largo da Batata, em São Paulo

Gigante de tecnologia negociou por dois anos para ocupar 20 mil metros quadrados e ser um dos principais inquilinos do FL Plaza, que faz parte do FII XP Properties

Edifício localizado no Largo da Batata, em São Paulo, e que faz parte da carteira do fundo imobiliário XP Properties
05 de Outubro, 2022 | 08:08 AM

Leia esta notícia em

Inglês ou emEspanhol

Bloomberg Línea — Depois de dois anos de negociações, a Amazon (AMZN) desistiu de ocupar cerca de 20 mil metros quadrados no Edifício Faria Lima Plaza, o FL Plaza, a icônica nova torre no Largo da Batata, na ponta norte da Avenida Faria Lima, em São Paulo, disseram pessoas familiarizadas com o assunto à Bloomberg Línea.

A adaptação da empresa ao modelo de trabalho híbrido e remoto, o cenário de mercado desafiador com a alta global de taxas de juros e a desaceleração do crescimento das vendas de e-commerce estão entre as principais justificativas, disseram as pessoas em condição de anonimato.

PUBLICIDADE

A companhia fundada por Jeff Bezos seria um dos principais inquilinos do imóvel junto com a Shopee, gigante de e-commerce de Singapura, que aluga sete andares. A XP (XP) é dona de 40% do prédio por meio do fundo imobiliário XP Properties (XPPR11).

“Os grandes ocupantes ainda não viraram a página para a volta aos escritórios. Voltaram muito pouco percentualmente falando, porque o modelo híbrido está funcionando. São empresas com 15 mil metros quadrados para cima de ocupação”, disse uma das pessoas, que pediu para não ser identificada.

O plano da mudança da companhia da Vila Olímpia para a parte norte da Faria Lima, vista como uma nova fronteira da incorporação comercial da capital paulista, foi noticiado há mais de um ano, mas o contrato nunca foi assinado, apesar de negociações que se estenderam até por mais tempo.

PUBLICIDADE

Outra fonte a par das negociações, que pediu para não ser identificada, disse que a mudança eventual do cenário macroeconômico pode levar a Amazon a retomar os planos, se ainda houver andares vagos.

Procurada pela Bloomberg Línea, a Amazon disse que “não comenta sobre especulações e planos futuros”.

Nos Estados Unidos, a Amazon tem adotado e incentivado o modelo do trabalho remoto em certas áreas da empresa, como noticiado pela Bloomberg News há uma semana.

PUBLICIDADE

“Estamos oferecendo aos membros adicionais de nossa equipe de atendimento ao cliente a maior flexibilidade que veio com o trabalho virtual”, disse o porta-voz da Amazon, Brad Glasser, por e-mail, à Bloomberg News, esclarecendo que a companhia não comenta casos específicos.

“Estamos trabalhando com os funcionários para garantir que sua transição seja perfeita enquanto continuamos priorizando o melhor suporte da categoria para os clientes.”

FL Plaza e XP Properties

O fundo imobiliário XP Properties possui uma participação de 40% no Edifício Faria Lima Plaza, um edifício AAA (Triple A) localizado na Avenida Brigadeiro Faria Lima, 949, em São Paulo. Os 60% restantes do prédio são de propriedade do Grupo VR, do empresário Abram Szajman.

PUBLICIDADE

Entre os maiores inquilinos do edifício, segundo relatório gerencial mais recente do XPPR11, referente a agosto, estão a gigante do e-commerce Shopee (com sete andares e cerca de 5.700 metros quadrados locados), o escritório de advocacia Cescon Barrieu (com 1.251 metros quadrados) e a Warren Investimentos, com 841 metros quadrados.

No documento, o time de gestão do XPPR11 chama a atenção para o mercado desafiador de escritórios no cenário pós-pandemia.

“Apesar de se ter presenciado certa movimentação de locatários ao longo dos últimos semestres, o setor de lajes corporativas se mostrou bastante aquém das expectativas do mercado no geral como consequência direta do legado trazido pela pandemia (racionalização/otimização de custos, home office, sistema híbrido de trabalho, revisão do planejamento estratégico das companhias, processos decisórios mais lentos diante do contexto de incerteza, etc.) e pelo contexto macroeconômico desfavorável (pressão inflacionária global, incertezas sobre os rumos da economia e política doméstica, encarecimento das linhas de crédito, entre outras questões).”

O time de gestão também destacou impactos provenientes de uma concorrência decorrente do excesso de oferta de espaços e pressão baixista de preços, principalmente nas regiões de Alphaville e de São Paulo.

De acordo com o documento, a taxa de ocupação do FL Plaza estava em 47% ao fim de agosto. “A gestora atua ativamente na prospecção de locatários e conta com o apoio da CBRE e demais parceiros, com vistas à redução da vacância do FL Plaza e demais imóveis do fundo”, escreveu, na época.

Com relação às negociações, os gestores do FII afirmaram que nos últimos 12 meses até agosto foram conduzidos, junto com a CBRE, 81 processos de locação, mas que se mostraram “infrutíferos”.

Dentre os motivos, o time de gestão da XP cita a preferência por outra região (principalmente no município de São Paulo, no qual existem regiões com excesso de oferta e pressão baixista de preço); a suspensão ou cancelamento do processo em virtude da adoção do sistema híbrido de trabalho, resistência de colaboradores ao retorno presencial, incertezas econômicas e políticas; e prolongamento da análise e tomada de decisão em decorrência das considerações elencadas anteriormente.

Criado em 2019, o FII XP Properties possui pouco mais de 68 mil cotistas e, além do FL Plaza, conta também com participações em São Paulo nos edifícios Rebouças (ocupado pelo Nubank), Box 298 (na Vila Madalena), Santa Catarina (Avenida Paulista), bem como Corporate Evolution e iTower, em Barueri.

Nesta terça-feira (4), as cotas do XPPR11 encerraram o pregão em leve queda de 0,13%, a R$ 45,44, enquanto o Ifix, o índice que acompanha o desempenho dos principais FIIs listados em bolsa, fechou estável, aos 2.985 pontos. No ano, o desempenho do fundo também é negativo, em 32,67%, ante ganhos de 6,4% do benchmark.

Expansão em compasso de espera

O cenário de juros elevados e perspectivas de uma recessão à frente tem levado empresas no mundo todo a colocarem o pé no freio. A Meta (dona do Facebook), por exemplo, está planejando fechar um de seus escritórios em Nova York depois de reduzir seus planos de expansão na cidade.

À Bloomberg News, pessoas familiarizadas com o assunto disseram que a companhia está exercendo sua opção de rescindir seu contrato de aluguel na 225 Park Avenue South, em Manhattan.

Também nos Estados Unidos, o Airbnb colocou seu prédio de três andares em São Francisco para sublocação em meio à política do “work anywhere” (trabalhe de qualquer lugar, em tradução livre), segundo o jornal local San Francisco Business Times.

- Com a Bloomberg News

Leia também

Musk muda de ideia e diz quer seguir com compra do Twitter; ação dispara 22%

Para cortar custos, Amazon defende home office para funcionários de call center

Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.

Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.