Queda do minério de ferro é alerta para Vale e exportações do Brasil à China

Vendas da matéria-prima para o país asiático acumulam queda de 39% no ano; desaceleração da economia chinesa afeta o preço do produto

Dúvidas sobre a demanda chinesa afetam o preço do minério de ferro e as exportações do Brasil
04 de Outubro, 2022 | 07:46 PM

Bloomberg Línea — As exportações de minério de ferro do Brasil para a China representam não só uma das principais fontes de receita para a economia brasileira como servem de referência para os negócios da Vale (VALE3).

São vendas que acumulam queda de 39% nos primeiros nove meses de 2022 em relação ao mesmo período do ano passado. De janeiro a setembro, o Brasil exportou US$ 14,42 bilhões do produto para o país asiático, abaixo do total de US$ 23,45 bilhões nos nove primeiros meses de 2021, de acordo com dados do Ministério da Economia, que incluem as vendas para Hong Kong e Macau.

O resultado reflete principalmente a queda das cotações no último ano. Em 2021, o preço do metal chegou a bater um recorde de mais de US$ 220 por tonelada. Neste ano, a cotação tem ficado abaixo desse patamar. Na terça-feira (4), o minério de ferro era cotado a US$ 98, o menor valor registrado em 2022, com uma queda de 40% desde o pico no ano, de US$ 159, verificado em março.

Mas a queda acontece também em volume. Ao todo, o Brasil exportou 172,8 milhões de toneladas líquidas de minério para China neste ano até setembro (incluindo Macau e Hong Kong), uma queda de 3% em relação às 177,27 milhões de toneladas exportadas no mesmo período do ano passado.

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“Mais do que o volume, o preço é o que fez a diferença”, diz Tatiana Prazeres, diretora de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex) da Fiesp, que trabalhou na China entre 2019 e 2021.

Dados levantados pelo departamento da Fiesp para a Bloomberg Línea mostram que, no terceiro trimestre, a queda das exportações brasileiras de minério de ferro foi de 45% em relação ao mesmo período do ano passado, o que ilustra o efeito da desvalorização das cotações. Além disso, houve queda de 55,8% no preço de exportação de minério para China em relação ao pico em agosto de 2021.

“Considerando o peso do minério de ferro [na balança comercial], isso trouxe para baixo as nossas exportações para a China, que caíram pelo sexto mês consecutivo em setembro. Ainda assim, a China segue sendo o principal destino das nossas vendas externas”, afirmou a diretora da Fiesp.

As exportações para a segunda maior economia do mundo caíram 3% no acumulado do ano, somando ao todo US$ 70,9 bilhões de janeiro a setembro. As vendas de carne bovina (com alta de 48% no ano), soja (18%) e petróleo (6%) ajudaram a compensar a queda das exportações de minério. O Brasil é o segundo maior exportador mundial de minério de ferro, atrás apenas da Austrália, e a China é o principal destino das exportações do país.

Na avaliação de Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do governo federal, o preço do minério de ferro voltou a um nível mais realista, depois da disparada no ano passado, relacionada à recuperação da economia da crise da covid-19.

“Setembro é um mês em que o Brasil exporta muito minério de ferro. Tem uma questão climática, e normalmente é um mês de alta exportação. E neste ano [o país] também exportou muito. Foram 36 milhões de toneladas. A grande questão é que caiu o valor do minério de ferro em relação ao ano passado e isso refletiu nas exportações”, afirma.

Desaceleração da China

A queda dos preços do minério de ferro tem relação com a desaceleração da economia chinesa, prejudicada pelos lockdowns adotados para conter a covid-19 e também pela retração do mercado imobiliário, o que reduz a demanda de siderúrgicas chinesas pelo minério de ferro.

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O banco suíço UBS projeta um crescimento para a China de apenas 2,6% em 2022 e de 4,7% no ano que vem, bem abaixo da média histórica dos últimos 30 anos.

A desaceleração da China e a queda do minério de ferro têm afetado ações de mineradoras como a Vale (VALE3), que acumulam uma queda de 29% desde o pico em março até o valor de fechamento de segunda-feira (3). No ano, a redução é de 5,13%.

Em relatório divulgado a clientes, analistas do Santander (SANB11) avaliam que a atividade econômica chinesa deve continuar sendo uma preocupação-chave para investidores. No entanto medidas do governo de Pequim para estimular a economia e questões relacionadas à oferta de minério de ferro nos países produtores podem manter o preço do metal equilibrado.

“Os embarques de minério de ferro estão caindo 4% no acumulado do ano, em volume. Sobre as nossas projeções, consideramos [o preço de] US$100/t ao final do ano de 2023″, disse Rafael Barcellos, responsável pela cobertura dos setores de mineração, siderurgia e papel e celulose para a América Latina do Santander. Sinal de tempos difíceis para um dos principais produtos exportados pelo país.

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Filipe Serrano

É editor sênior da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.