Truss cede à pressão e desiste de corte de imposto a mais ricos no Reino Unido

Primeira-ministra britânica está no alvo de críticas políticas e da população depois que plano agressivo de redução de tributos derrubou a libra e encareceu os empréstimos

Liz Truss (à direita), primeira-ministra do Reino Unido, ao lado de Kwasi Kwarteng (centro), secretário de Finanças, e James Cleverly, secretário de Relações Exteriores, no encontro anual do Partido Conservador em Birmingham no domingo (2)
Por Alex Morales e Kitty Donaldson
03 de Outubro, 2022 | 11:35 AM

Bloomberg — A primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, demonstrou apoio ao secretário de Finanças de seu governo, Kwasi Kwarteng, depois que a ameaça de uma rebelião no Partido Conservador os obrigou a uma humilhante reversão do plano de cortar impostos para os britânicos mais ricos.

Kwarteng anunciou a decisão em tuíte nesta segunda-feira (3) com a mensagem: “Entendemos e ouvimos”. O secretário com status de ministro disse que o plano anunciado há apenas dez dias para eliminar a alíquota de 45% do imposto de renda se tornou uma “distração”.

A inversão de marcha é um grande constrangimento para Truss e Kwarteng, que passaram dias defendendo a declaração fiscal do ministro em 23 de setembro.

No domingo (2), Truss disse que estava comprometida com o pacote. Em seu discurso na conferência anual do Partido Conservador em Birmingham nesta segunda-feira, a expectativa era a de que Kwarteng dissesse que seu partido deveria “manter o curso” e que o plano era “o certo”.

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O porta-voz de Truss, Max Blain, disse a repórteres nesta segunda que a premiê mantém a confiança no ministro das Finanças, que agora terá que mudar o discurso programado para a conferência nesta tarde.

Ainda assim, a reversão de uma política tão importante apenas um mês depois do início do seu mandato inevitavelmente deve provocar especulações sobre o futuro de Truss e Kwarteng.

Embora o ministro das Finanças tenha dito à BBC que não considerou renunciar por causa do assunto, o corte de impostos foi uma parte importante de sua abordagem econômica. No Partido Conservador, os dois são vistos como uma dupla que passou anos pedindo desregulamentação e impostos baixos e se preparava para colocar isso em prática.

No entanto a reação do mercado e as consequências políticas da semana passada foram drásticas, e já se fala no partido sobre se Truss e Kwarteng poderiam aguentar. O ex-ministro Grant Shapps, demitido por Truss quando formou sua equipe principal, disse à emissora: “Quero que a primeira-ministra sobreviva”.

Recuo

Outros conservadores, incluindo Tobias Ellwood e Andrew Bowie, foram ao Twitter para elogiar a mudança de planos. Em entrevista à Times Radio, o ex-ministro Michael Gove indicou que apoiaria o pacote geral agora que o corte de impostos para os mais ricos havia sido removido.

O pacote de Kwarteng, apelidado de “plano de crescimento” do governo, representou o maior pacote de cortes de impostos - sem apresentação de como seria financiado - em 50 anos.

As medidas sacudiram o mercado, o que levou a libra a uma mínima histórica em relação ao dólar e obrigou o Banco da Inglaterra, o banco central do país, a uma intervenção drástica para evitar um colapso dos gilts, os títulos públicos britânicos.

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Em uma rodada de entrevistas transmitidas na segunda-feira (3), Kwarteng procurou desviar a culpa das reações do mercado britânico para as forças globais e, em particular, para o aumento das taxas de juros dos EUA. Ele se opôs à ideia de que suas políticas levaram à cobrança de uma espécie de “prêmio Kwarteng” nas hipotecas.

Culpa do Fed

“As altas taxas de juros foram impulsionadas pelo Fed durante todo o ano”, disse Kwarteng. “O que isso significa é que há um dólar forte e outros bancos também estão subindo as taxas de juros.”

Como o corte de impostos representa apenas um pequeno percentual do pacote fiscal anunciado por Kwarteng, ainda restam dúvidas sobre como será financiado. Os ministros têm sugerido potenciais reduções nos benefícios sociais de bem-estar.

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