Por que as pesquisas não capturaram o apoio a Bolsonaro? Veja qual chegou mais perto

Presidente teve no primeiro turno 43,2% dos votos válidos, enquanto principais institutos apontavam no máximo 40% com margem de erro; Lula ficou dentro da margem

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Bloomberg Línea — Um dos assuntos mais comentados nos grupos de WhatsApp na noite de domingo (2) foi a diferença de desempenho entre o que apontavam os principais institutos de pesquisa e os resultados das urnas.

Durante a campanha, a Bloomberg Línea decidiu publicar os resultados de quatro institutos/empresas associadas: Datafolha, Ipec (ex-Ibope), Quaest/Genial Investimentos e FSB/BTG Pactual, com base na existência de um histórico de realização de pesquisas que servisse de referência.

Nenhuma conseguiu captar a força do atual presidente Jair Bolsonaro nas urnas, que encerrou o primeiro turno com 43,20% dos votos válidos - com 99,99% das seções totalizadas. A que chegou mais perto foi a da Quaest/Genial Investimentos, que apontou que o presidente poderia chegar a 40%, contando a margem de erro.

Uma possível explicação é que Bolsonaro manteve ou até acelerou na reta final de campanha do primeiro turno a trajetória de ascensão demonstrada nas urnas.

“Há um forte voto bolsonarista escondido, principalmente no interior de São Paulo, mas também em todo o país nas menores cidades fora do radar das pesquisas”, disse Deysi Cioccari, professora de ciência política da PUC-SP, em entrevista à Bloomberg News. “Isso explica o resultado pró-Bolsonaro apesar de Lula ter ficado à frente no primeiro turno.”

Para James Green, professor de história latino-americana da Brown University, “Bolsonaro foi mais forte do que imaginávamos e não foi apenas um erro de pesquisa; é uma falta de compreensão de que existe dentro da sociedade um voto envergonhado mas para a direita, e não para a esquerda. Não conversam com os pesquisadores, não revelam o que sentem mas têm uma grande identificação com Bolsonaro”, segundo disse à Bloomberg News.

É uma visão de certa forma corroborada pelos números da apuração. Se não conseguiram captar com precisão o voto em Bolsonaro, o mesmo não aconteceu com o seu oponente.

As pesquisas acertaram as intenções de voto no ex-presidente Lula, que chegou à fase final da apuração com 48,43% dos votos válidos, contando a margem de erro. A pesquisa que ficou mais próxima foi a da FSB/BTG Pactual, que apontou que Lula atingiria 48% - realizada uma semana atrás.

Como resultado das urnas, a diferença entre Lula e Bolsonaro ficou em 5,2 pontos percentuais.

Mesmo com a margem de erro, os quatro institutos citados acima erraram: Datafolha e Ipec apontaram que a diferença poderia ter chegado a 10 pontos percentuais, enquanto Quaest/Genial e FSB/BTG indicaram que a diferença entre os dois candidatos poderia ter chegado a 7 pontos percentuais.

Veja o que cada instituto apontou em sua última pesquisa divulgada:

Datafolha

  • Lula: 50% dos votos válidos (48% a 52% com a margem de erro)
  • Bolsonaro: 36% (34% a 38% com a margem de erro)

O Datafolha ouviu de forma presencial 12.800 pessoas de 16 anos ou mais de idade em 310 municípios na sexta-feira (dia 30 de setembro) e no sábado (1º de outubro). A margem de erro era de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. O registro no Tribunal Superior Eleitoral foi BR-00245/2022.

Ipec

  • Lula: 51% dos votos válidos (49% a 51% com a margem de erro)
  • Bolsonaro: 37% (35% a 39% com a margem de erro)

A última pesquisa do Ipec (ex-Ibope) ouviu 3.008 pessoas entre a quinta-feira (29 de setembro) e o sábado (1º de outubro). A margem de erro era de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o índice de confiança era de 95,45%. O registro no Tribunal Superior Eleitoral foi BR-00999/2022.

Quaest/Genial Investimentos

  • Lula: 49% dos votos válidos (47% a 51% com a margem de erro)
  • Bolsonaro: 38% (36% a 40% com a margem de erro)

A Quaest ouviu 3.600 pessoas em seus domicílios entre sexta-feira (30 de setembro) e sábado (1 de outubro). A margem de erro era de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o índice de confiança era de 95%. O registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi BR-02444/2022.

FSB/BTG Pactual

  • Lula: 48% dos votos válidos (46% a 50% com a margem de erro)
  • Bolsonaro: 37% (35% a 39% com a margem de erro)

A pesquisa ouviu duas mil pessoas por telefone entre os dias 23 e 25 de setembro. A margem de erro era de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o índice de confiança era de 95%. O registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi BR-08123/2022.

Fora dos quatro institutos acima citados, o Atlas Intel, em parceria com a consultoria política Arko Advice, chegou mais perto do resultado do presidente. Em pesquisa divulgada na sexta-feira (30), o Atlas/Arko apontou que Lula tinha 50,7% dos votos válidos (49,7% a 51,7% com a margem de erro), enquanto Bolsonaro teria 41% (40% a 42% com a margem de erro) - ou seja, ainda sem acertar os 43,26%.

A pesquisa da Atlas/Arko coletou respostas de 4.500 pessoas pela internet entre os dias 24 e 28 de setembro. Os entrevistados foram recrutados organicamente durante a navegação de rotina na web em territórios geolocalizados em qualquer dispositivo (smartphones, tablets, laptops ou PCs).

A margem de erro do levantamento foi de um ponto percentual. O levantamento tinha 95% de confiança. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-01318/2022.

O que explica as diferenças?

Não é a primeira vez que um candidato de direito tem a sua votação estimada para baixo nas pesquisas de intenção de voto. Há quatro anos, Bolsonaro chegou à véspera do primeiro turno com 40% dos votos válidos segundo o Datafolha, enquanto o segundo colocado, Fernando Haddad (PT), tinha 25%. A apuração mostrou desempenho superior de ambos, especialmente de Bolsonaro: 46%, versus 29,3% de Haddad.

Antes do primeiro turno, alguns especialistas e executivos de institutos de pesquisa ponderavam questões que poderiam levar ou evitar uma precisão maior das sondagens: uma delas é a dificuldade de definição de grupos amostrais de eleitores que sejam menos próximos da pirâmide social brasileira por faixa de renda e escolaridade, mas mais semelhantes daqueles que efetivamente vão às urnas.

Em tese, estratos de classes mais baixas tendem a direcionar o voto a candidatos de esquerda, mas a presença nas urnas tende a ser menor do que efetivamente é na população.

- Com a Bloomberg News.

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