Bloomberg — O Brasil terá um segundo turno entre o presidente Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva em 30 de outubro, depois que um desempenho mais forte do que o esperado do atual mandatário impediu que seu adversário de esquerda conseguisse os 50% mais um voto necessários para ganhar a votação.
Veja o que analistas políticos e economistas disseram sobre os resultados:
Cassiana Fernandez, economista-chefe do JPMorgan Chase para o Brasil:
- “A diferença entre os dois principais candidatos foi substancialmente menor do que os 10% que as pesquisas em média sugeriram, talvez sugerindo que o efeito de ‘eleitores envergonhados’ para Bolsonaro é subestimado pelos institutos de pesquisa.”
- “A disputa está apertada demais para apontar um resultado, mas as chances ainda parecem um pouco a favor de Lula neste momento.”
- “No Congresso, a atuação do partido de Bolsonaro, o PL, e da União Brasil, de direita, sugerem a força de visões mais conservadoras, levando a uma mudança no equilíbrio do Senado.”
- “Isso pode levar a mais moderação na agenda econômica de um eventual governo Lula e também pode levar a mais impasses se o governo não negociar adequadamente suas prioridades com os líderes.”
Thomas Traumann, consultor político:
- “É uma surpresa. As pessoas subestimaram Bolsonaro. Bolsonaro tem momentum não só porque conquistou estados importantes como São Paulo e Rio mas também pelos excelentes resultados no congresso.”
- “Lula está mais perto da vitória. Mas o fato é que Bolsonaro teve muitos milhões de votos a mais do que as pesquisas esperavam e um excelente desempenho no Senado.”
- “Embora Lula ainda seja o favorito, ele provavelmente precisará fazer alguns compromissos nas próximas semanas para garantir sua vitória.”
- “Se candidatos apoiados por Bolsonaro no Senado conseguem se organizar, ‘não há dúvida’ de que podem complicar um eventual mandato de Lula.”
Deysi Cioccari, professora de ciência política da PUC-SP:
- “Há um forte voto bolsonarista escondido, principalmente no interior de São Paulo, mas também em todo o país nas menores cidades fora do radar das pesquisas.”
- “Isso explica o resultado pró-Bolsonaro apesar de Lula ter ficado à frente no primeiro turno.”
James Green, professor de história latino-americana da Brown University
- “São várias questões: Primeiro, Lula nunca ganhou no primeiro turno, então mais uma vez ele vai ter que disputar o segundo turno. Em segundo lugar, ele obteve os 48% que as pesquisas apontaram. No final, estava completamente dentro da margem de erro.”
- “Bolsonaro foi mais forte do que imaginávamos e não foi apenas um erro de pesquisa; é uma falta de compreensão de que existe dentro da sociedade um voto envergonhado mas para a direita, e não para a esquerda. Não conversam com os pesquisadores, não revelam o que sentem mas têm uma grande identificação com Bolsonaro.”
- “O Brasil vive um mito de cordialidade, alegria, simpatia, e não é assim. É um país que tem muitos conservadores, sempre teve, e eles estão crescendo e não gostam dessas mudanças sociais e culturais que vinham acontecendo no país. Então eles apoiam Bolsonaro porque ele representa uma volta ao passado.”
- A polarização do Brasil é “como nos EUA. Os países estão cada vez mais parecidos em sua composição política”.
Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs
- “Candidatos pró-Bolsonaro e centro-direita trouxeram algumas surpresas de alto nível e, no geral, tiveram um desempenho significativamente melhor do que o esperado nas corridas para governador e senado.”
- “Estamos destinados a um segundo turno eleitoral competitivo e provavelmente também muito polarizado. Esperamos que as próximas pesquisas para o segundo turno mostrem uma diferença entre Lula e Bolsonaro abaixo dos 8 a 10 pontos apontados antes do primeiro turno.”
- “Nesse cenário de fundo, o foco/eficiência da campanha, a conexão com os eleitores, o apelo aos 20,9% dos eleitores que se abstiveram no primeiro turno e o ‘corpo-a-corpo’ no dia da eleição serão importantes e provavelmente determinarão o resultado da eleição presidencial.”
Carlos Melo, cientista político da Universidade Insper de São Paulo
- “Tudo o que é certo é que a extrema-direita é extremamente forte. E Jair Bolsonaro vai para o segundo turno em posição de força.”
Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Universidade FGV, em comentários do Twitter:
- “Lula ainda é o favorito para vencer o segundo turno. Mas, assim como Trump, Bolsonaro mostrou que seu apoio faz grande diferença para candidatos ao Senado, aos Estados e para o Congresso.”
- “Isso tornará mais difícil para os políticos de centro-direita desafiarem a hegemonia de Bolsonaro sobre a direita do Brasil.”
- Com assistência de Simone Iglesias e Maria Eloisa Capurro.
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