Os recados que os eleitores passaram no 1º turno, segundo 7 analistas

Especialistas de mercado e de política comentam questões como a força dos ideais conservadores defendidos por Bolsonaro e os desafios que Lula vai enfrentar

Manifestação de brasileiros em Salvador em dia de ato político do presidente Jair Bolsonaro no meio do ano de 2022
Por Andrew Rosati - Isadora Calumby
03 de Outubro, 2022 | 08:25 AM

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Bloomberg — O Brasil terá um segundo turno entre o presidente Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva em 30 de outubro, depois que um desempenho mais forte do que o esperado do atual mandatário impediu que seu adversário de esquerda conseguisse os 50% mais um voto necessários para ganhar a votação.

Veja o que analistas políticos e economistas disseram sobre os resultados:

Cassiana Fernandez, economista-chefe do JPMorgan Chase para o Brasil:

  • “A diferença entre os dois principais candidatos foi substancialmente menor do que os 10% que as pesquisas em média sugeriram, talvez sugerindo que o efeito de ‘eleitores envergonhados’ para Bolsonaro é subestimado pelos institutos de pesquisa.”
  • “A disputa está apertada demais para apontar um resultado, mas as chances ainda parecem um pouco a favor de Lula neste momento.”
  • “No Congresso, a atuação do partido de Bolsonaro, o PL, e da União Brasil, de direita, sugerem a força de visões mais conservadoras, levando a uma mudança no equilíbrio do Senado.”
  • “Isso pode levar a mais moderação na agenda econômica de um eventual governo Lula e também pode levar a mais impasses se o governo não negociar adequadamente suas prioridades com os líderes.”

Thomas Traumann, consultor político:

  • “É uma surpresa. As pessoas subestimaram Bolsonaro. Bolsonaro tem momentum não só porque conquistou estados importantes como São Paulo e Rio mas também pelos excelentes resultados no congresso.”
  • “Lula está mais perto da vitória. Mas o fato é que Bolsonaro teve muitos milhões de votos a mais do que as pesquisas esperavam e um excelente desempenho no Senado.”
  • “Embora Lula ainda seja o favorito, ele provavelmente precisará fazer alguns compromissos nas próximas semanas para garantir sua vitória.”
  • “Se candidatos apoiados por Bolsonaro no Senado conseguem se organizar, ‘não há dúvida’ de que podem complicar um eventual mandato de Lula.”

Deysi Cioccari, professora de ciência política da PUC-SP:

  • “Há um forte voto bolsonarista escondido, principalmente no interior de São Paulo, mas também em todo o país nas menores cidades fora do radar das pesquisas.”
  • “Isso explica o resultado pró-Bolsonaro apesar de Lula ter ficado à frente no primeiro turno.”

James Green, professor de história latino-americana da Brown University

  • “São várias questões: Primeiro, Lula nunca ganhou no primeiro turno, então mais uma vez ele vai ter que disputar o segundo turno. Em segundo lugar, ele obteve os 48% que as pesquisas apontaram. No final, estava completamente dentro da margem de erro.”
  • “Bolsonaro foi mais forte do que imaginávamos e não foi apenas um erro de pesquisa; é uma falta de compreensão de que existe dentro da sociedade um voto envergonhado mas para a direita, e não para a esquerda. Não conversam com os pesquisadores, não revelam o que sentem mas têm uma grande identificação com Bolsonaro.”
  • “O Brasil vive um mito de cordialidade, alegria, simpatia, e não é assim. É um país que tem muitos conservadores, sempre teve, e eles estão crescendo e não gostam dessas mudanças sociais e culturais que vinham acontecendo no país. Então eles apoiam Bolsonaro porque ele representa uma volta ao passado.”
  • A polarização do Brasil é “como nos EUA. Os países estão cada vez mais parecidos em sua composição política”.

Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs

  • “Candidatos pró-Bolsonaro e centro-direita trouxeram algumas surpresas de alto nível e, no geral, tiveram um desempenho significativamente melhor do que o esperado nas corridas para governador e senado.”
  • “Estamos destinados a um segundo turno eleitoral competitivo e provavelmente também muito polarizado. Esperamos que as próximas pesquisas para o segundo turno mostrem uma diferença entre Lula e Bolsonaro abaixo dos 8 a 10 pontos apontados antes do primeiro turno.”
  • “Nesse cenário de fundo, o foco/eficiência da campanha, a conexão com os eleitores, o apelo aos 20,9% dos eleitores que se abstiveram no primeiro turno e o ‘corpo-a-corpo’ no dia da eleição serão importantes e provavelmente determinarão o resultado da eleição presidencial.”

Carlos Melo, cientista político da Universidade Insper de São Paulo

  • “Tudo o que é certo é que a extrema-direita é extremamente forte. E Jair Bolsonaro vai para o segundo turno em posição de força.”

Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Universidade FGV, em comentários do Twitter:

  • “Lula ainda é o favorito para vencer o segundo turno. Mas, assim como Trump, Bolsonaro mostrou que seu apoio faz grande diferença para candidatos ao Senado, aos Estados e para o Congresso.”
  • “Isso tornará mais difícil para os políticos de centro-direita desafiarem a hegemonia de Bolsonaro sobre a direita do Brasil.”

- Com assistência de Simone Iglesias e Maria Eloisa Capurro.

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