O dólar vai cair depois do 1º turno? Veja o que esperar

Moeda americana abre a semana em queda, seguindo o resultado mais acirrado que o esperado pelo mercado entre Lula (PT) e Bolsonaro (PL)

Moeda era negociada em queda de mais de 2% na abertura nesta segunda, na casa de R$ 5,30, por volta das 9h10
03 de Outubro, 2022 | 09:39 AM

Bloomberg Línea — O dólar deu o pontapé inicial nesta semana em queda, acompanhando a reação dos investidores após o primeiro turno das eleições no Brasil em 2022.

O recuo de 2,36% logo nos primeiros minutos de abertura do mercado, com a moeda americana negociada a R$ 5,30, é reação ao cenário para além do amplamente esperado entre analistas até a última semana: um segundo turno entre os dois principais candidatos a presidência, mas com uma diferença de pontos entre Lula e Bolsonaro menor do que a prevista pelos institutos de pesquisa.

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) liderou as votações, como previsto, fechando a primeira fase do pleito com 48,43% dos votos (pouco mais de 57 milhões). A surpresa veio com o atual mandatário, Jair Bolsonaro (PL), que chegou na segunda colocação com 43,20% (pouco mais de 51 milhões), em uma posição mais vantajosa do que o divulgado pelas pesquisas até então.

Mesmo com a margem de erro, os quatro institutos seguidos pela Bloomberg Línea durante a cobertura - Datafolha, Ipec (ex-Ibope), Quaest/Genial Investimentos e FSB/BTG Pactual - erraram: Datafolha e Ipec apontaram que a diferença poderia ter chegado a 10 pontos percentuais, enquanto Quaest/Genial e FSB/BTG indicaram que a diferença entre os dois candidatos poderia ter chegado a 7 pontos percentuais. No final, a diferença foi de pouco mais de 5 pontos percentuais.

Os investidores estavam esperando o pleito no domingo para avaliar o segundo turno e o mercado não tinha ainda uma direção exata sobre essas pesquisas, disse Fabrizio Velloni, economista-chefe na Frente Corretora de Câmbio, em entrevista.

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Para ele, que reside e trabalha na Flórida, nos Estados Unidos, o principal foco dos investidores estrangeiros nas semanas que se estenderão até o segundo turno, em 30 de outubro, serão as propostas de ambos os candidatos em relação aos gastos públicos.

“Independe tanto do candidato A ou B. O que investidores querem efetivamente é ver como o Brasil vai fechar os gastos públicos no próximo ano. Alguns fundos aqui nos EUA têm algumas travas com a nota de risco e, com uma tendência de rebaixamento [da nota de crédito] do Brasil, é mandatório fazer a saída. Nestas eleições, mais do que nunca, não tivemos uma discussão mais aprofundada de como vai ser o plano de governo.”

Durante os dois meses que antecederam o primeiro turno das eleições, o câmbio teve uma variação positiva de 4,67%, em parte absorvendo o cenário nebuloso sobre o próximo presidente e suas propostas para a economia - além de um cenário mais adverso no exterior para emergentes à medida que a moeda americana se fortalece globalmente como um refúgio contra as altas de juros.

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Ainda assim, quando comparada com outros pares, a desvalorização do real entre agosto e setembro não foi tão ostensiva como nos mercados indiano e sul-africano (quedas acumuladas de 9,07% e 9,3%, respectivamente). Já na comparação com moedas mais fortes, como o iene japonês e a libra, houve recuos de 8,68% e 8,9%, respectivamente.

Para André Rolha, diretor da Venice Investimentos, isso é explicado, em parte, pelo avanço que o Brasil conseguiu no combate à inflação e pela melhora nas previsões de crescimento do país revisadas nas últimas semanas.

“O real está sofrendo menos do que deveria frente a outras moedas do globo. Essa escalada do dólar americano castigou as moedas mais fortes, mas o real acabou resistindo”, disse. “Os fundamentos locais estão melhorando. Cresce o emprego, casas revisando expectativas de crescimento para perto de 3%, inflação para perto de 6%. Estamos indo na contramão do mundo.”

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Na última sexta, o IBGE divulgou que a taxa de desemprego no Brasil caiu em agosto pelo sexto mês consecutivo para o nível mais baixo desde 2015, à medida que o mercado de trabalho continua a se recuperar.

Enquanto isso, nesta segunda-feira, o boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, mostrou uma previsão de inflação medida pelo IPCA de 5,74%, a 14ª alta seguida, enquanto o PIB do país deve avançar 2,7% no final do ano - também a 14ª revisão para cima consecutiva. Há quatro semanas, o consenso esperava um crescimento de 2,26%.

O que esperar do câmbio

Negociado na máxima de R$ 5,41 dos últimos dois meses, o dólar deve ter dias de alívio no período imediatamente posterior ao primeiro turno, acompanhando a melhora de Bolsonaro no primeiro turno - o candidato favorito entre os agentes de mercado em relação às políticas econômicas.

Para Tatiana Nogueira, economista sênior da XP Investimentos, uma das explicações é que a mudança na condução econômica do atual governo deve ter pouca volatilidade, com a manutenção da mesma equipe. “Já outro governo teria um pouco mais turbulência. Mas, em ambos os casos, a expectativa é muito mais em termos de negociação do que em termos de conteúdo. O que vão colocar como mais gasto é a grande incógnita.”

Nas últimas comunicações de Lula e Bolsonaro, os agentes de mercado consultados pela Bloomberg Línea colocaram como inconclusivos o que ambos devem fazer em termos de reformas econômicas a partir de janeiro de 2023.

O último debate entre os candidatos a presidente, realizado na noite da quinta-feira (29) pela TV Globo, teve o mesmo tom agressivo do primeiro, transmitido pela Band. O ex-presidente e o atual mandatário protagonizaram confrontos entre si, mas também sofreram ataques dos demais candidatos. Foram apresentadas poucas propostas de governo, a maioria delas já conhecidas dos eleitores na reta final das eleições.

Para Velloni, da Frente Corretora, mesmo com as melhoras econômicas, ainda há falta de clareza quanto à condução das contas públicas.

“Não sabemos do business plan do Brasil para os próximos anos. O mercado externo está bastante arisco. Mesmo com inflação controlada, estimativa de crescimento e desemprego caindo, o investidor ainda não voltou totalmente para cá”.

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Ana Siedschlag

Editora na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero e especializada em finanças e investimentos. Passou pelas redações da Forbes Brasil, Bloomberg Brasil e Investing.com.