Bloomberg — A estatal russa Gazprom suspendeu as vendas de gás natural para a Itália neste sábado (1º) em uma aparente briga regulatória na Áustria, em mais um episódio que agrava a crise energética na Europa.
O corte no fornecimento deve atingir apenas a Itália, que recebe os suprimentos da Gazprom de um oleoduto que passa pela Áustria. Maiores volumes de gás russo foram alocados para a empresa OMV, com sede em Viena, disse Andreas Rinofner, porta-voz da OMV, que importa gás russo para a Áustria.
Embora a Itália esteja reduzindo as compras de gás russo, ela é um dos países europeus vulneráveis aos repetidos movimentos do presidente russo Vladimir Putin para sufocar o suprimento de energia para o continente. O impasse se intensificou nesta semana depois que vazamentos surgiram em um importante oleoduto para a Europa que alguns países atribuíram à sabotagem.
A Gazprom divulgou um comunicado dizendo que suspendeu os fornecimentos para a Itália porque a operadora austríaca se recusou a fornecer informações de transporte após mudanças regulatórias adotadas na Áustria no final de setembro.
O Ministério da Energia da Áustria disse que a Gazprom não aprovou as mudanças contratuais que refletem os ajustes das regras técnicas normalmente feitas no início de cada ano. A Gazprom, como outros participantes do mercado, sabia das mudanças há meses, disse o regulador austríaco E-Control em uma mensagem no Twitter.
Disputas sobre cláusulas contratuais e regulamentações ocorrem em meio ao colapso dos laços econômicos entre a Rússia e os países do Ocidente, enquanto Putin continua sua guerra contra a Ucrânia. No início deste ano, a demanda da Rússia por entregas de gás a serem pagas em rublo contribuiu para o aumento dos preços.
A Gazprom disse que está trabalhando para resolver o problema com os compradores italianos. A Eni SpA confirmou o corte e disse que estava entrando em contato com a Gazprom. O governo da Áustria também disse que está trabalhando no assunto em nível técnico.
Uma porta-voz da operadora de oleodutos Trans Austria Gasleitung não respondeu a um e-mail e ligações pedindo comentários.
Suprimentos alternativos
A Rússia costumava responder por 40% das importações de gás da Itália, mas o país vem reduzindo essa dependência desde a invasão em fevereiro. A Itália agora obteve suprimentos alternativos de gás do norte da África suficientes para compensar quaisquer déficits no próximo inverno se a Rússia cortar o fornecimento, disseram pessoas familiarizadas com o assunto à Bloomberg.
Um aumento nas compras de gás da Argélia e do Egito poderá cobrir os suprimentos restantes que a Itália ainda estava recebendo da Rússia, disseram eles.
O corte do gás italiano ocorre dias depois de explosões submarinas paralisarem os principais gasodutos Nord Stream que ligam a Rússia à Europa. O presidente dos EUA, Joe Biden, ecoou ontem a avaliação dos líderes da Europa Ocidental de que os oleodutos foram sabotados e acrescentou que as declarações russas sobre o incidente não devem ser confiáveis.
Em resposta, as forças armadas da Noruega intensificaram as patrulhas das instalações de energia do país e a Alemanha, a França e o Reino Unido se ofereceram para ajudar a proteger as instalações de petróleo e gás no Mar do Norte. A Otan também está usando suas forças navais e aéreas para monitorar os mares Báltico e do Norte.
Com o Nord Stream fora de operação, agora há apenas um grande gasoduto que leva gás natural direto para a Europa. E essa rota, que passa pela Ucrânia, parece cada vez mais vulnerável. Esse oleoduto já teve parte de seu suprimento cortado pela guerra e pode ser o próximo a fechar à medida que o conflito se prolongar.
A Gazprom no sábado também reduziu os níveis diários de fluxo de gás para a Moldávia através da Ucrânia e atribuiu a redução à Ucrânia.
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