Opinión - Bloomberg

Com crise de energia, cobertores podem virar opção de investimento no Reino Unido

Contas de luz e custos de empréstimos mais altos, além de inflação prolongada, espremem o orçamento das famílias britânicas às vésperas do inverno

Cobertores, agasalhos, isolamentos e até comida congelada dominam as compras
Tempo de leitura: 3 minutos

Bloomberg Opinion — Não são apenas os governos e as empresas de energia que se preocupam em manter as luzes acesas neste inverno que se aproxima no hemisfério Norte. Os consumidores britânicos estão se preparando para passar alguns meses difíceis.

Os britânicos são espertos em se preparar para o pior. Embora o plano do governo de Liz Truss de limitar as contas de energia tire certa incerteza dos cálculos do custo de vida das famílias, o problema agora é a perspectiva de uma inflação que durará até o próximo ano e custos de empréstimo mais caros também.

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Na quinta-feira (29), Simon Wolfson, CEO da Next, advertiu sobre duas crises de custo de vida: uma proveniente de um aperto no fornecimento de energia e matérias-primas neste ano, e outra da queda na libra esterlina, que poderia aumentar ainda mais os preços em 2023.

Embora a perspectiva de um inverno congelante possa impulsionar as vendas de cobertores elétricos agora, os clientes podem acabar tendo menos dinheiro para gastar com as coisas que desejam.

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Há também o aviso do Deutsche Bank de que os varejistas britânicos enfrentam uma “bomba-relógio de hipoteca”, e não é de se admirar que a Next fez um alerta para o lucro após uma desaceleração em agosto. Wolfson advertiu que está muito mais preocupado com o próximo ano do que com os meses finais de 2022.

No momento, os consumidores estão se preparando para noites mais escuras e temperaturas mais baixas de várias maneiras. Os britânicos fizeram saltar as vendas de isolamento para impedir que o calor escape pelos telhados e produtos para impedir correntes de veto por janelas e portas.

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Em outros lugares, os varejistas relatam um aumento nas vendas de pijamas, roupões e suéteres. Isso está em parte ligado ao clima. As recentes manhãs frias podem estar impulsionando a demanda por jaquetas mais quentes. Ainda bem que casacos acolchoados estão na moda.

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Mas o nível de compras indica que tem algo mais acontecendo – como, por exemplo, as pessoas se abastecendo de macacões para usar dentro de casa para evitar ligar os aquecedores.

Na rede de lojas John Lewis, o campeão de vendas é uma peça que mistura agasalho com cobertor. Só na semana passada, a loja de departamento dobrou suas vendas de pijamas femininos e camisolas em comparação com o ano passado. No que diz respeito a roupas masculinas, as vendas de artigos térmicos triplicaram desde 2021.

Pesquisas na internet por cobertores que podem ser usados por pessoas para ampliar a sensação de aquecimento

Em meio a preços de alimentos mais altos, os britânicos também estão se voltando para refeições baratas, como mingau e sopa, para sustentar-se. As buscas no site do supermercado Waitrose por mingau subiram 218% em comparação com 2019. As buscas por sopa mais que dobraram.

Outra tendência que pode indicar o desconforto do consumidor é a demanda por alimentos congelados. As vendas de congelados em valor aumentaram 8,5% no período de 12 semanas encerrado em 10 de setembro, superando significativamente as vendas de alimentos embalados, que foram 2,3% maiores no mesmo período, de acordo com a NielsenIQ.

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Inflação dos alimentos

A carne congelada e os legumes muitas vezes têm boa relação custo-benefício. Os consumidores podem comprar embalagens maiores e mais baratas que duram o tempo necessário.

É claro que visitar a seção de congelados do mercado pode afetar o orçamento se houver apagões neste inverno. Mas os consumidores britânicos terão que pesar esse tipo de risco contra a necessidade mais imediata de economizar.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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Andrea Felsted é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre os setores de varejo e bens de consumo. Anteriormente, escrevia para o Financial Times.

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