As apostas da Faria Lima para as eleições e o que esperar dos mercados

Gestores, economistas e analistas do mercado financeiro se posicionam sobre o resultado das urnas neste domingo (2) entre Lula e Bolsonaro

Vista aérea da região da Faria Lima em São Paulo
01 de Outubro, 2022 | 08:22 AM

Bloomberg Línea — Acontece neste domingo (2) o primeiro turno da eleição presidencial de 2022. Em uma disputa de profunda polarização política e social, gestores e analistas seguem atentos aos resultados das urnas, com esperados reflexos nos preços dos ativos no pregão de segunda-feira (3).

Na semana que antecedeu o pleito, a divulgação de novas pesquisas de intenção de voto ajudou a provocar uma desvalorização de 2,5% do real, a segunda moeda com pior desempenho do mundo no período, enquanto os juros futuros de longo prazo subiram.

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Segundo a consultoria de risco político Eurasia, uma das mais respeitadas do mundo, as chances de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser eleito já neste domingo estão entre 20% e 25% – o dobro do que havia sido projetado anteriormente.

Para Fernando Siqueira, chefe de pesquisa da Guide Investimentos, a reação do mercado a uma vitória de Lula já no primeiro turno deve ser negativa, pois isso aumentaria materialmente o risco de Bolsonaro e seus apoiadores contestarem os resultados, em entrevista à Bloomberg News.

Já Sergio Zanini, sócio, CIO e gestor da Galapagos Capital, avalia que uma vitória de Lula no primeiro turno faria com ele saísse da campanha fortalecido e com menor necessidade de fazer concessões. Também reduziria a necessidade de ter que anunciar nomes amigáveis ao mercado para seu ministério, completou também em declarações à Bloomberg News.

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Confira, a seguir, o que outros gestores, economistas e analistas do mercado financeiro estão esperando para o resultado do primeiro turno das eleições:

Ativa Investimentos

Após o debate de quinta-feira (29) na TV Globo, Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, disse em nota que o debate eleva a probabilidade de ocorrência de um segundo turno da eleição.

BGC Liquidez

Levantamento da BGC Liquidez com 212 players institucionais brasileiros (entre gestores, traders, economistas e estrategistas) mostrou que, para os entrevistados, a probabilidade mediana de uma vitória de Lula no primeiro turno é de 20%.

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A possibilidade de Lula terminar à frente na votação de domingo, mas haver um segundo turno, contudo, é de 60%, segundo a pesquisa feita na quarta (28) e na quinta (29). Além disso, há 17% de chance de que Bolsonaro encerre o primeiro turno na liderança de acordo com os entrevistados.

Com relação à possível reação do mercado à votação (3 de outubro), os entrevistados estimam uma queda de 3% (na mediana das projeções) do Ibovespa e uma alta de 2% do dólar na segunda-feira (3 de outubro) caso Lula seja eleito no primeiro turno.

No caso de Bolsonaro ser eleito neste domingo, as projeções medianas dos entrevistados apontam para uma alta de 8% do Ibovespa e uma queda de 3% do dólar.

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Goldman Sachs

Em relatório de 22 de setembro, o Goldman Sachs (GS) escreveu que é improvável que as eleições mudem o mapa político e o equilíbrio geral das forças políticas de maneira “muito significativa” no Congresso e a nível local. O relatório é assinado pelo Head de Research para América Latina, Alberto Ramos.

Segundo o banco de Wall Street, embora o resultado das urnas possa não ter um grande impacto na direção e nas reformas macropolíticas de curto prazo, pode ter implicações mais profundas para o desempenho macroeconômico amplo, bem como para o sentimento dos investidores no médio prazo.

Isso porque Bolsonaro e Lula defendem visões macro diferentes sobre o tamanho do Estado e seu papel na economia, além de gastos do governo e o uso das empresas estatais como motores de crescimento e de investimento, escreveu o Goldman.

“A dinâmica recente das pesquisas sugere que ainda é provável que a eleição seja decidida apenas no segundo turno, embora uma vitória no primeiro turno do ex-presidente Lula não seja impossível, principalmente se considerações estratégicas de votação entrarem em jogo. O ex-presidente Lula também lidera as simulações de segundo turno”, disse o banco de investimento.

Com relação aos desafios do próximo presidente, o banco americano chama a atenção para a necessidade de fortalecer as contas fiscais estruturais e apoiar um impulso de aprofundamento de capital/investimento necessário para desencadear um ciclo de crescimento socialmente inclusivo e sustentável.

“Outras reformas para mudar um sistema tributário complexo, poroso, ineficiente e oneroso, bem como para um setor público inchado e ineficiente e impulsionar o crescimento geral da produtividade, também são necessárias para elevar o potencial de crescimento ainda muito modesto da economia”, completou.

Kairós Capital

Em nota a cotistas no início de setembro, a gestora Kairós Capital disse que uma eleição presidencial muito acirrada é o cenário mais provável no momento, podendo abrir margem para um “terceiro turno”, em que um dos lados não aceita a apuração oficial, trazendo muita volatilidade a ativos de risco.

“Um governo Lula seria um governo com maior preponderância do estado como indutor da economia e mais impostos, assim como cremos que um governo Bolsonaro seria de mais liberdade econômica e de menos impostos”, disse a gestora.

A Kairós também avalia que os governos do incumbente Jair Bolsonaro ou do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a partir de 2023 irão mudar o teto de gastos. “Teremos (com sorte) uma nova âncora fiscal e, na margem, a situação fiscal deverá piorar, só não sabemos a intensidade disso.”

Mauá Capital

Em entrevista à Bloomberg Línea, Luiz Fernando Figueiredo, sócio-fundador da Mauá Capital, destacou o fato de que houve pouca mudança nas pesquisas no último ano até hoje. “A terceira via deve ficar em terceiro ou quarto lugar. E o Brasil não conseguiu produzir alguém de centro. Alguém menos radical. Ficou essa eleição polarizada desde o início”, disse.

Segundo ele, os sinais são de tentativas dos dois lados (Lula e Bolsonaro) de se mostrar menos radical – “o que, no final, é o que deve acontecer em um eventual governo de qualquer um dos dois.”

Na avaliação de Figueiredo, se Lula for eleito, ele vai ter que compor uma base de sustentação política. “Não tem jeito. A esquerda não vai ter mais do que 140, 150 deputados. Para fazer qualquer coisa, precisa ter no mínimo uns 210, 220. E o restante, mais uns 150, você consegue projeto a projeto. Está muito longe disso”, afirmou.

“A necessidade de compor com o Congresso é muito maior do que era no primeiro mandato. Ele não vai conseguir eleger o presidente da Câmara. Vai ter que lidar com o presidente do Centrão. Ele não terá uma vida legislativa fácil se ele não compuser uma base mais estruturada. Ele sabe e está indo atrás disso.”

Morgan Stanley

Em relatório divulgado nesta semana, o Morgan Stanley (MS) disse que os investidores no Brasil não precisam temer uma forte deterioração nas contas públicas após as eleições.

Na avaliação do banco americano, independentemente do resultado das urnas, a perspectiva fiscal provavelmente vai piorar com o afrouxamento dos limites de gastos, mas o impacto deverá ser modesto.

Isso porque os dois favoritos, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, prometem aumentar os gastos públicos e programas sociais. Analistas do banco de Wall Street veem uma “fadiga política” com as normas rígidas impostas pelo teto de gastos criado em 2017.

“Prevemos um enfraquecimento da regra fiscal com qualquer um dos principais candidatos, mas em nenhum caso uma deterioração drástica da trajetória da dívida”, disseram analistas liderados pelo economista-chefe para América Latina, André Loes. “As diferenças que prevemos nas métricas fiscais e de dívida sob os dois principais candidatos não são tão diferentes.”

SPX Capital

Cofundador da SPX Capital, Rogério Xavier deu a visão do que acredita que vai acontecer com o mercado brasileiro a depender do vencedor das eleições, em entrevista para o Expert Talks, da XP, em agosto.

“O investidor estrangeiro vê o governo Bolsonaro como um governo que não olha para a Amazônia, que não olha para diferenças de gênero, que é um governo autoritário. Não é que eu concorde com ele, mas a visão do investidor estrangeiro é essa.” Segundo ele, fundos que investem de acordo com princípios ESG, por exemplo, estariam em desacordo com o mandato se escolherem ativos do país.

Por outro lado, um eventual governo Lula faria o investidor estrangeiro voltar para o Brasil por causa da esperada aderência a essas práticas ESG, como aconteceu em mandatos passados.

“O investidor brasileiro em geral olha mais para a questão econômica e dá menos valor para essas questões que são importantes para o estrangeiro.”

“Se der Lula, o investidor local vai estar pessimista, e o estrangeiro voltará a colocar dinheiro no país. E eu acho que o estrangeiro leva. Acaba sendo positivo [o balanço]. Se o Bolsonaro ganha, o investidor local já está meio dentro, não sei se tem tanto para se valorizar. Mas eu acredito que o estrangeiro vai continuar fora.”

Xavier destacou que não acredita que essa eleição possa ser um divisor de água tanto para um lado como para outro, mas que seria uma continuidade do que está hoje, mas com a perspectiva de volta do investidor estrangeiro caso Lula seja eleito - e ressaltou novamente que não é a opinião dele.

Em evento do Credit Suisse no começo do ano, o cofundador da gestora SPX já havia passado a mesma avaliação: “não matem o mensageiro: as pessoas gostam do Lula lá fora. E não gostam do Bolsonaro. É um fato isso”, disse. Segundo ele, o investidor estrangeiro vê o Brasil “com perspectiva de melhora com Lula assumindo o poder”.

“Os estrangeiros veem a troca de poder — supondo que a eleição do Lula esteja bem encaminhada — com um Lula responsável, que vai se dirigir ao centro”, disse Xavier. Ele acrescentou que, embora não concorde necessariamente que Lula será fiscalmente responsável, é improvável que um governo do Partido dos Trabalhadores faça “grandes transformações” no país. “Acho que o Brasil vai avançar pouco.”

Verde Asset

Luis Stuhlberger, CEO da Verde Asset, disse na semana passada (20) que há uma espécie de consenso dos três poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário de que o teto de gastos é um mecanismo fiscal ruim e que, se o ex-presidente Lula de fato ganhar como indicam as pesquisas, o país entraria em uma sintonia por mais gastos. As declarações foram dados em evento conjunto da B3 com a Anbima.

Nessa situação, segundo Stuhlberger, “Lula teria que lidar com o aumento de gastos sem tirar a credibilidade fiscal do Brasil, que naturalmente vai gerar uma taxa [de juros] de longo prazo maior”.

“Ninguém sabe o que o Lula quer. Ser uma esquerda raivosa ou passar a história como um estatista? Acredito que seja a segunda opção”, avaliou o gestor, que acredita na visão pragmática do ex-presidente há mais tempo.

Em fevereiro deste ano, durante evento organizado pelo Credit Suisse, Stuhlberger disse que Lula não iria, em sua avaliação, adotar políticas radicais em um eventual terceiro mandato.

“Lula é o favorito para ganhar a eleição – quase que já ganhou”, disse na ocasião. “Não acho que um Lula revanchista, ou Lula sindicalista, ou Lula de esquerda vão predominar.”

Warren

Em relatório divulgado pela Warren na sexta (30), o time de alocação destacou que, independentemente de quem vencer a disputa eleitoral, a regra do teto de gastos deve ser “substituída por outra regra crível e previsível debatida intensamente com o Congresso”, ainda que seja mais efetiva a partir de 2024 para comportar algum aumento de gasto social como a renovação do Auxílio Brasil em 2023.

A avaliação é a de que outras reformas poderão andar em 2023, como a administrativa e a tributária.

Nesse cenário, o time tem adotado uma postura de cautela nas alocações. A casa reduziu a exposição às ações globais e manteve a alocação na bolsa brasileira (sem aumentar o tamanho). Na renda fixa, o time aumentou o prazo dos títulos prefixados, antevendo o cenário de “juro alto por mais tempo”, bem como manteve visão neutra para títulos atrelados à inflação.

-- Com informações da Bloomberg News

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.