Esta empresa listada na Bolsa alavancou o resultado com as eleições. Veja como

Vencedora da licitação para fornecer 225 mil urnas eletrônicas, Positivo Tecnologia entrou no segmento dentro de estratégia de diversificação de fontes de receita

Positivo obteve cerca de 20% de sua receita no segundo trimestre com a venda de urnas eletrônicas
30 de Setembro, 2022 | 04:32 PM

São Paulo — As urnas eletrônicas ganharam espaço na campanha eleitoral em razão do questionamento de sua confiabilidade pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), ainda que sem provas concretas.

Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), serão utilizadas cerca de 577 mil urnas eletrônicas neste domingo (2) e no dia 30 de outubro nas localidades em que houver segundo turno. Serão urnas de seis modelos distintos para computar os votos dos eleitores. Desse total, 225 mil (cerca de 40% do total) serão utilizadas pela primeira vez, com processadores mais rápidos que a versão anterior, de 2015.

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É um negócio bilionário. As mais de 200 mil novas urnas eletrônicas foram produzidas por uma empresa com sede no Paraná, capital aberto e ações negociadas na B3 e que foi vencedora da licitação pública para o fornecimento de equipamentos para o pleito deste ano e para as eleições municipais de 2024: é a Positivo Tecnologia (POSI3), cuja ação acumula valorização da ordem de 30% em 12 meses, sendo uma alta de 25% neste ano. A venda de urnas eletrônicas para o TSE impulsionou os resultados da companhia.

“Atualmente o projeto especial mais significativo da Positivo é o de urnas eletrônicas, responsável por uma receita de aproximadamente R$ 909 milhões até o segundo trimestre, com R$ 1,2 bilhão contratado para 2023 e para as eleições de 2024″, apontou o analista Guilherme Corazza, da Eleven Financial.

“Um ponto de preocupação é o crescimento da companhia após a finalização do projeto de urnas, que representa uma parcela significativa da receita da companhia”, fez a ressalva.

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O analista manteve a recomendação de compra para o papel, com preço-alvo de R$ 15 (ao fim de 2022), em relatório divulgado no último dia 23. A POSI3 fechou cotada a R$ 12,57, na última quinta-feira (29).

Para o analista da Eleven, as diversas estratégias de diversificação e expansão de portfólio da companhia, associadas ao crescimento dos mercados potenciais, devem trazer resultados no médio prazo para manter o plano da empresa em vigor. “Monitoraremos de perto [para ver] se a expansão das demais linhas de negócio trará os resultados esperados nos nossos modelos de valuation”, escreveu Corazza.

Em entrevista à Bloomberg Línea, o CFO da Positivo, Caio de Moraes, detalhou que o projeto especial de urnas eletrônicas representou 21% da receita total do segundo trimestre e que o contrato para fornecer equipamentos para a eleição de 2024 vai contribuir para o faturamento no ano que vem.

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Ele disse que a Positivo tem contratos com outras instituições públicas, como secretarias de Educação nos âmbitos estadual e municipal, para entrega de computadores usados por estudantes.

“Temos outros grandes clientes de governo com volumes significativos. No segundo trimestre, vendemos para mais de 290 clientes públicos. Às vezes, o investidor fala que somos muito ‘concentrados’. Mas não há concentração. Temos bastante órgãos como clientes. E o ano de 2023 tende a ser, de novo, um ano muito forte na parte de negócios com governos, das licitações públicas”, disse o executivo.

A companhia toca, por exemplo, o projeto do quarto supercomputador da Petrobras, o Pégaso, em parceria com a Atos, que foi projetado para o mais rápido da América Latina.

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“Na linha de instituições públicas, a Positivo demonstra um track record muito bom, com vitórias em 60% das licitações participadas em 2021. Atualmente, esse setor é um dos mais expressivos no top line da companhia, responsável por aproximadamente 44% da receita. A Positivo tem um backlog [de encomendas] contratado de R$ 2 bilhões para 2022″, apontou o analista da Eleven.

Corazza disse que a transformação digital do setor público, com maior adoção do modelo de trabalho híbrido e novas soluções digitais de serviços estaduais e federal, além da manutenção e da renovação do parque tecnológico, devem proporcionar ainda mais oportunidades para a empresa nos próximos períodos.

Caio de Moraes, CFO da Positivo, diz que companhia teve 290 clientes públicos no 2º trimestre e que vai acelerar crescimento com produtos e serviços para os segmentos corporativo e varejista

Logística desafiante

O CFO da Positivo disse que a companhia cumpriu o cronograma de entrega das urnas ao TSE, a despeito de gargalos na importação de insumos, como componentes e semicondutores. As dificuldades refletem a ruptura das cadeias produtivas globais, com a escassez de contêineres e a disparada dos custos com frete marítimo. É um efeito colateral da pandemia da covid-19 e dos lockdowns.

“No ano passado, a questão do supply chain foi séria. A logística ficou conturbada e foi um limitador ao aumento de vendas. A situação já melhorou e deve normalizar completamente no fim do ano”, previu.

No meio de setembro, durante o seu Investor Day, a Positivo reforçou seu guidance (projeção corporativa) para 2022 de chegar a algo entre R$ 5,5 bilhões a R$ 6,5 bilhões em receita bruta, um intervalo acima da estimativa dos analistas Bernando Guttmann e Marco Nardini, da XP, que era de R$ 6 bilhões. Eles mantiveram a recomendação de compra com preço-alvo de R$ 16 para 2023.

“Continuamos otimistas com a companhia devido à capacidade de expandir o mix de portfólio de receita, à expansão de margem devido ao fortalecimento de vendas de serviços e à opcionalidade de M&A e, embora ainda com visibilidade limitada, a empresa forneceu um guidance de longo prazo acima de nossas estimativas anteriores”, escreveram os analistas em relatório, em que falam de expectativas sobre possíveis aquisições no segmento de serviços, que possuem margens maiores.

5G e maquininhas

O CFO confirmou que a Positivo deve acelerar seu ritmo de crescimento na prestação de serviços, no fornecimento de maquininhas inteligentes para adquirentes, como Cielo e Stone. A companhia também aposta na maior demanda por servidores devido à implantação da tecnologia 5G, iniciada neste segundo semestre no país, colocando no varejo brasileiro a marca chinesa de celular Infinix.

“O varejo está se recuperando gradualmente. No segundo trimestre, sua contribuição para a receita foi de 20%, acima dos 13% do primeiro trimestre. Temos confiança na recuperação do varejo e, por isso, pretendemos crescer com a marca de celular Infinix com o 5G”, disse Moraes.

Já os analistas da XP citaram que os segmentos da companhia (hardware, serviços e projetos especiais) têm um mercado potencial de R$ 150 bilhões e consideram que a diversificação é fundamental.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.