Atenção do mercado se divide entre inflação, rumo dos juros e PIB

Após semana tensa e mês turbulento, mercados tentam recuperação, mas preocupações com a política monetária e possível recessão continuam assombrando

Estes são os eventos que orientam os investidores hoje
Por Michelly Teixeira - Bianca Ribeiro
30 de Setembro, 2022 | 08:04 AM

Barcelona, Espanha — As notícias estão longe de serem alentadoras, com inflação alta na Europa e crescimento baixo dos Estados Unidos e Inglaterra. Mas o rumo é de alta nas bolsas europeias e entre os índices futuros norte-americanos. A correção se dá também no mercado de dívida, com os prêmios dos títulos norte-americanos de 10 anos recuando, e movimento similar ao observado com os títulos do Reino Unido. Entre as moedas, nota-se um pouco mais de estabilidade, sem variações muito fortes, e a cotação do petróleo também se recuperava.

→ O que move os mercados hoje

Setembro termina dominado pelo assombro de maiores altas de juros. Hoje, o principal catalisador da política monetária global, a inflação, volta a dominar as atenções. A repercussão de indicadores de preços na Europa e nos Estados Unidos se mescla com as repetidas advertências dos bancos centrais de que o controle da inflação é a prioridade número 1. Enquanto isso, nesta manhã os investidores buscam oportunidades após perdas expressivas da véspera.

PUBLICIDADE

🔍 Preços em foco. James Bullard (Fed de St. Louis) reforçou que o banco central está determinado a levar o juro para um nível ideal que reduza a inflação e indicou que agora isso estaria mais claro para os mercados. Na mesma direção, Loretta Mester (Fed-Cleveland) reforçou que os dirigentes miram um patamar considerado ‘restritivo’ para o juro dos EUA. Será imperativo para os investidores, portanto, olhar o rumo dos preços, sobretudo o deflator do PCE, índice de preços de bens e serviços que baliza a política monetária do Fed.

🔥 Preços ardentes. Na Zona do Euro, os preços seguem seu curso de alta. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) de setembro subiu +10% na comparação anual, contra uma expectativa de +9,7% e os +9,1% da medição anterior. O salto do IPC representa uma novo máximo histórico, pressionado pelos preços da energia e dos alimentos. Ontem, a Alemanha, principal economia do bloco, decepcionou ao entregar preços 10% maiores, frente a projeções de +9,5% e os +7,9% de agosto.

🌪️ Clima tenso. O furacão Ian, que devastou a Flórida ontem, já levou o governo norte-americano a declarar estado de emergência agora na Carolina do Sul. O custo desse evento climático ainda será calculado, mas é possível prever um peso inflacionário derivado da potencial escassez de bens e serviços na região.

PUBLICIDADE

🔙 Mudança de rota. No campo corporativo, as notícias tampouco são animadoras. Mark Zuckerberg, presidente da Meta, revelou planos de corte no orçamento e redução do número de funcionários pela primeira vez desde a fundação do Facebook, em 2004. E analistas estão pessimistas com a gigante de comércio eletrônico Alibaba. O JPMorgan cortou sua previsão de preço alvo dos papéis da empresa de US$ 145 para US$ 135, depois que o Morgan Stanley já havia rebaixado sua estimativa de US$ 140 para US$ 110. Ambos e se mostram mais pessimistas sobre o consumo na China e o efeito disso sobre as vendas da empresa

🗿 Gigantes em marcha lenta. Ao mesmo tempo, o mercado avalia a atividade econômica no Reino Unido, onde o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre cresceu ligeiramente (+0,2%, uma melhora ante o +0,1% da primeira estimativa) e de certa forma surpreendeu por contrariar a expectativa de que já apontaria uma recessão técnica. Mas esse cenário ainda pode se consolidar no terceiro trimestre, tendo em vista a semana de luto pela morte da Rainha Elizabeth. Na terceira estimativa, o PIB real dos EUA diminuiu a uma taxa anualizada de -0,6% no segundo trimestre. No trimestre anterior, havia encolhido -1,6%.

Gás preocupa. Os preços do gás recuam nesta sexta-feira enquanto os ministros de energia da União Europeia discutiam um pacote de medidas para lidar a crise do gás que inclui uma meta de redução da demanda de energia e uma captura de lucros das empresas de energia. A busca por uma solução está pressionada pela chegada das estações frias.

PUBLICIDADE

🎴 Ásia em ação. O quadro de volatilidade e descompasso entre políticas monetárias continua se refletindo na Ásia. Hoje, o Banco do Japão ampliou sua compra planejada de títulos da dívida para limitar a pressão sobre os prêmios, enquanto o primeiro-ministro do país encomendou um pacote de estímulo econômico. Na China, há temores de que a feriado da Semana Dourada possa levar a uma desvalorização ainda maior do yuan, justo num momento em que o banco central não poderá orientar o mercado. Já prevendo isso, o Banco Popular da China ampliou a liquidez e injetou o equivalente a US$ 122 bilhões no sistema bancário nesta semana.

→ Leia também o Breakfast, uma newsletter da Bloomberg Línea: E depois de domingo?

Os mercados esta manhã
🟢 As bolsas ontem: Dow Jones Industrials (-1,54%), S&P 500 (-2,11%), Nasdaq Composite (-2,84%), Stoxx 600 (-1,67%), Ibovespa (-0,73%)

As bolsas norte-americanas voltaram a cair depois que o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, e a chefe do Fed de Cleveland, Loretta Mester, insistiram que o tom agressivo de política monetária continuará até que a inflação esteja sob controle. Todos os três principais índices de ações dos EUA abandonaram os ganhos de quarta-feira e o S&P 500 atingiu o menor nível em quase dois anos.

PUBLICIDADE

Saiba mais sobre o vaivém dos Mercados e se inscreva no After Hours, a newsletter vespertina da Bloomberg Línea com o resumo do fechamento dos mercados.

Na agenda

Esta é a agenda prevista para hoje:

EUA: Índice de Preços PCE/Ago, Renda do Consumidor, Sentimento do Consumidor da Universidade de Michigan, PMI de Chicago/Set

Europa: Zona do Euro (Índice de Preços ao Consumidor/Set, Taxa de Desemprego/Ago) Reino Unido (Crédito ao Consumidor, Indicadores Hipotecários, PIB); Alemanha (Taxa de Desemprego/Set, Vendas no Varejo/Ago); França (Índice de Preços ao Consumidor/Ago); Italia (Taxa de Desemprego/Ago); Espanha (Vendas no Varejo/Ago, Transações Correntes/Jul); Portugal (Índice de Preços ao Consumidor)

Ásia: China (PMI) Hong Kong (Vendas no Varejo/Ago, Massa Monetária/Ago)

América Latina: Brasil (Taxa de Desemprego; Dados Orçamentários/Ago); México (Balanço Fiscal/Ago)

Bancos centrais: Discursos de Lael Brainard (vice-presidente do Fed) e de John Williams (Fed de NY), Frank Elderson e Isabel Schnabel (BCE)

📌 Para segunda-feira:

• Eleições presidenciais no Brasil no domingo. Indicadores PMIs (EUA, Zona do Euro, Reino Unido, França, Itália, Espanha, Japão, México, Brasil). Encontro do Eurogrupo. EUA (Gastos com Construção, Índice ISM de Emprego/Set); Japão (IPC/Set, Base Monetária). Feriado na China

(Com informações da Bloomberg News)

Michelly Teixeira

Jornalista com mais de 20 anos como editora e repórter. Em seus 13 anos de Espanha, trabalhou na Radio Nacional de España/RNE e colaborou com a agência REDD Intelligence. No Brasil, passou pelas redações do Valor, Agência Estado e Gazeta Mercantil. Tem um MBA em Finanças, é pós-graduada em Marketing e fez um mestrado em Digital Business na ESADE.

Bianca Ribeiro

Bianca Ribeiro

Jornalista especializada em economia e finanças, com passagem por redações e veículos focados em economia, como Valor Econômico, Agência Estado e Folha de S.Paulo.