Vazamento de gás no Nord Stream pode ser desastre climático sem precedentes

Volume de gás liberado em algumas horas é mais de 10 vezes maior que o pico da maior liberação registrada nos EUA, em 2015

Estimar quantidade de gás liberado é uma tarefa extremamente difícil
Por John Ainger
29 de Setembro, 2022 | 08:37 AM

Bloomberg — A área de 700 metros de largura de água borbulhando no Mar Báltico devido à ruptura dos gasodutos Nord Stream, aponta para um desastre climático.

É o mais visível dos três principais vazamentos de gás que emanam dos gasodutos que ligam a Rússia à Alemanha. Os cientistas estão se esforçando para descobrir a quantidade de metano, um dos mais poderosos gases de efeito estufa, que escapou para a atmosfera. Os temores são que esta seja uma das piores liberações de todos os tempo.

A causa das três rupturas quase simultâneas de gasodutos não foi confirmada, mas autoridades alemãs e americanas disseram que o incidente pareceu sabotagem.

“Considerando que, ao longo de vinte anos, uma tonelada de metano tem um impacto climático mais de 80 vezes maior do que o do CO2, o potencial para um evento de emissão massiva e altamente prejudicial é muito preocupante”, disse David McCabe, cientista sênior da Clean Air Task Force, uma organização sem fins lucrativos para o clima. “Há uma série de incertezas, mas, se estes gasodutos apresentarem problemas, o impacto para o clima será desastroso e sem precedentes”.

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Estimar a quantidade precisa de metano que escapou para a atmosfera é uma tarefa muito desafiadora. Muitos dos chamados eventos superemissores – grandes descargas contínuas de metano – são capturados por imagens de satélite sobre dutos terrestres ou locais de produção de combustíveis fósseis. No entanto, a captura de dados precisos sobre a água é muito mais desafiadora, pois a superfície reflete a luz.

Há muitas outras incertezas – quanto gás estava nos dutos, a que temperatura e pressão o gás estava e o tamanho da ruptura nos dutos. Mesmo quando o gás escapa, é provável que uma parte tenha se dissipado na água, mas isso também depende da densidade da vida microbiana, bem como da profundidade. Para obter leituras precisas, um avião provavelmente teria que fazer medições a partir do ar.

Apesar disso, os cientistas nas redes sociais rapidamente fizeram alguns cálculos sobre a quantidade de metano que poderia ter escapado. Andrew Baxter, diretor de estratégia de energia do Fundo de Defesa Ambiental, estimou que cerca de 115 mil toneladas de metano escaparam, o equivalente a cerca de 9,6 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Em termos reais, é o mesmo impacto climático que as emissões de 2 milhões de carros a gasolina no decorrer de um ano, ou 2,5 usinas elétricas alimentadas a carvão.

A unidade da União Europeia da Greenpeace estimou um número ainda mais alto – potencialmente até 30 milhões de toneladas de CO2 equivalente. Se essas estimativas estiverem próximas da exatidão, seria um dos maiores vazamentos de metano já ocorridos. O maior escape conhecido nos Estados Unidos aconteceu em uma instalação de armazenamento de gás em Aliso Canyon, Los Angeles, em 2015, onde estima-se a emissão de 97,1 mil toneladas de metano ao longo de vários meses. Em comparação, os vazamentos do Nord Stream podem ter acontecido ao longo de várias horas.

A GHGSat, empresa de monitoramento de emissões via satélite, afirmou que as rupturas dos dutos do Nord Stream podem ter resultado na fuga de 500 toneladas de metano por hora – 10 vezes mais do que o vazamento de Aliso no auge.

Outros cientistas disseram que, embora os vazamentos do Nord Stream foram um desastre para o clima, eles são diminutos em comparação com as descargas diárias da infraestrutura de gás em todo o mundo, na qual cerca de 10% do fornecimento de combustível fóssil é vazado para a atmosfera, segundo Piers Forster, professor de física climática da Universidade de Leeds, no Reino Unido.

“O efeito mais direto destes vazamentos de gás sobre o clima é a quantidade extra do poderoso gás de efeito estufa, o metano”, disse Dave Reay, diretor executivo do Edinburgh Climate Change Institute. “Dito isto, é apenas um grão de areia em comparação com as enormes quantidades do chamado ‘metano fugitivo’ emitidas todos os dias ao redor do mundo devido a atividades como fraturamento, mineração de carvão e extração de petróleo”.

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Embora os vazamentos de metano sejam prejudiciais ao clima, eles não representam uma ameaça significativa ao ambiente marinho, disse o Ministério do Meio Ambiente alemão em resposta a um pedido por comentários, destacando casos anteriores em que o gás foi liberado devido à perfuração no Mar do Norte. O Ministério acrescentou que estava trocando informações com especialistas da Dinamarca e da Suécia.

A expulsão do metano ocorreu em meio à crescente consciência pública de seus efeitos sobre o clima. Na cúpula da COP26 em Glasgow, Escócia, mais de 100 países se comprometeram a reduzir drasticamente as emissões. A UE também está elaborando uma legislação que aumentaria a obrigação das empresas de reduzir a queima do gás, realizar inspeções regulares para conter vazamentos e aumentar a transparência dos vazamentos associados às importações.

A resistência do Nord Stream

  • O duto de aço tem uma parede de 4,1 centímetros
  • Seu revestimento é de 6 a 11 centímetros de concreto armado com aço
  • Cada seção da tubulação é fixada com concreto e pesa 24-25 toneladas

--Com a colaboração de Vanessa Dezem, Aaron Clark e Laura Millan Lombrana.

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