Bloomberg — Investidores brasileiros estão perdendo a calma que vinham demonstrando à medida que se aproxima a eleição de domingo (2 de outubro).
O dólar e os juros futuros subiram, enquanto a bolsa brasileira acumula queda nesta semana, em que pesquisas mostram que Luiz Inácio Lula da Silva tem chances de ser eleito sem necessidade de um segundo turno. Seria a primeira vez que um candidato receberia mais de 50% dos votos válidos no primeiro turno desde 1998, na reeleição de Fernando Henrique Cardoso.
Os operadores estão preocupados com a hipótese de que uma vitória de Lula neste domingo possa deixar ele e seu partido excessivamente confiantes, a ponto de se tornarem menos inclinados a formar um governo mais moderado e amigável ao mercado. Investidores estrangeiros sacaram dinheiro da bolsa em sete dos 10 pregões até 26 de setembro, segundo dados da B3 compilados pela Bloomberg News.
“Lula sairia da campanha fortalecido e com menor necessidade de fazer concessões” se vencer no primeiro turno, disse Sergio Zanini, sócio, CIO e gestor de fundos da Galapagos Capital. Também reduziria a necessidade de ele anunciar nomes amigáveis ao mercado para seu ministério, acrescentou.
As últimas pesquisas ajudaram a provocar uma desvalorização de 2,5% do real nesta semana, a segunda moeda com pior desempenho do mundo no período, enquanto os juros futuros de longo prazo subiram. O Ibovespa caiu 4% até quarta-feira (28), desempenho abaixo do índice S&P 500 dos EUA no mesmo período. O saldo de recursos estrangeiros em ações na B3 está negativo em R$ 2,3 bilhões neste mês.
O que dizem as pesquisas
O Ipec, um dos institutos de pesquisa mais tradicionais do Brasil, divulgou em sua sondagem mais recente que Lula conta com 52% dos votos válidos - o que exclui os nulos e aqueles em branco -, o suficiente para uma vitória no primeiro turno.
O Datafolha, outro instituto dos mais tradicionais que já mostrava chances de uma vitória antecipada do PT, divulgará novos resultados nesta quinta-feira (29) após o fechamento do mercado.
Os mercados locais se recuperaram no início deste mês quando o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, que é a escolha mais desejada de parte dos investidores para ser o czar econômico em um eventual mandato do PT, mostrou seu apoio a Lula e levou os operadores a verem maiores chances de ele fazer parte do próximo governo.
Uma vitória massiva do PT também pode aumentar o medo de agitação social depois que o presidente Jair Bolsonaro passou meses declarando sua falta de confiança nas urnas eletrônicas. Mesmo que seja mínimo o risco de um protesto contra as eleições resultar em uma convulsão real, é um fator que os operadores monitoram e leva alguns a evitar os ativos do país antes que a poeira baixe.
“A reação do mercado a uma vitória de Lula já no primeiro turno deve ser negativa, pois aumentaria materialmente o risco de Bolsonaro e seus apoiadores contestarem os resultados”, disse Fernando Siqueira, chefe de pesquisa da Guide Investimentos.
Dúvidas sobre as pesquisas
Apesar da clara deterioração do sentimento de curto prazo, uma eleição definida no domingo está longe de ser um cenário-base no mercado. Investidores continuam céticos com a metodologia e com os padrões demográficos usados nas pesquisas para extrapolar os resultados da amostra, que podem estar desatualizados. O impacto de uma abstenção acima do esperado também é visto como subestimado.
Na semana passada, o Goldman Sachs juntou-se a gestores de multimercados locais, incluindo a Legacy Capital, para informar aos clientes que as eleições presidenciais do Brasil provavelmente serão mais acirradas do que as pesquisas estão sinalizando. As chances de Lula ser eleito já no domingo estão entre 20% e 25%, segundo a consultoria política Eurasia Group.
Lula e Bolsonaro se enfrentarão nesta quinta-feira, às 22h30, durante o último debate antes da votação, na TV Globo. Será a chance de Bolsonaro garantir seu lugar no segundo turno e de Lula reunir os votos necessários para encerrar a disputa imediatamente.
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