Com caos no mercado, Liz Truss quebra silêncio e diz que tomou o ‘plano certo’

Primeira-ministra do Reino Unido defende corte de impostos, o maior desde a década de 1970, apesar de queda da libra a pisos históricos e alta dos juros futuros

A nova primeira-ministra britânica, Liz Truss, defendeu que a turbulência nos mercados do país tem origem em questões globais
Por Ellen Milligan - Joe Mayes
29 de Setembro, 2022 | 08:49 AM

Bloomberg — Liz Truss, a nova primeira-ministra do Reino Unido que tomou posse há menos de um mês, defendeu o enorme conjunto de cortes de impostos de seu governo mesmo diante da intensa reação de investidores, que derrubou a libra para uma cotação mínima histórica e os títulos do país. E culpou pressões econômicas globais pelas consequências de seu pacote fiscal anunciado na sexta-feira passada (23).

Como reação, a libra e os títulos do governo do Reino Unido caíram ainda mais.

“Estamos enfrentando tempos econômicos muito, muito difíceis, estamos enfrentando isso em nível global”, disse Truss nesta quinta-feira (29) em rodada de entrevistas a estações de rádio locais da BBC, após dias de silêncio da primeira-ministra, mesmo com o mercado “derretendo”.

“Tivemos que tomar medidas urgentes para fazer nossa economia crescer e isso significa tomar decisões controversas e difíceis.”

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O governo de Truss, que começou oficialmente no último dia 6, foi atingido por uma crise de confiança em suas políticas, algo que provocou o colapso da libra e um aumento nos custos de empréstimos, empurrando ainda mais o Reino Unido para a recessão e ameaçando derrubar o mercado imobiliário.

‘Este é o plano certo’

Mas Truss disse que não é hora de reverter o curso e que impostos mais altos são ainda mais propensos a levar o Reino Unido à recessão. “Tenho muita clareza de que o governo fez a coisa certa”, acrescentou. “Este é o plano certo.”

Os títulos do governo do Reino Unido estenderam uma queda enquanto Truss falava, com o rendimento das Gilts - como são chamados os títulos soberanos britânicos - de 10 anos subindo até 21 pontos base para 4,22%. A libra foi negociada com queda de 1%, antes de reduzir a perda.

Foi a primeira vez que Truss abordou publicamente a turbulência do mercado, que foi desencadeada na sexta-feira passada quando o chanceler do Tesouro, Kwasi Kwarteng, anunciou o maior pacote de cortes de impostos (sem apresentação de fontes de recursos para bancar a perda de receita) em meio século.

Desde então, o Banco da Inglaterra (BoE), o banco central do país, foi forçado a encenar uma intervenção dramática para evitar uma quebra no mercado de ouro e o Fundo Monetário Internacional (FMI) pediu que ela reconsiderasse seus planos.

Críticas globais ao plano de Truss

Executivos seniores do Reino Unido também criticaram publicamente os planos fiscais, com Simon Wolfson, chefe da gigante do varejo Next, e um colega conservador parecendo culpar o governo pela queda da libra e pela piora das perspectivas para a inflação no Reino Unido na quinta-feira.

A secretária de Comércio dos Estados Unidos, Gina Raimondo, disse que a determinação de Truss de cortar impostos não impulsionaria o crescimento, e Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro dos EUA e agora colaborador pago da Bloomberg Television, disse que o Reino Unido tem a pior política econômica de qualquer grande país.

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Enquanto isso, o Moody’s Investors Service alertou que o governo pode causar danos permanentes às finanças públicas e reduzir o crescimento econômico.

O ex-presidente do BoE Mark Carney acusou nesta quinta-feira o governo de Truss de “minar” as instituições econômicas do país, depois que as primeiras semanas de seu governo tiveram a demissão do principal funcionário do Tesouro, críticas ao banco central sobre a inflação e um aparente desprezo ao principal órgão fiscal do governo, o Office for Budget Responsibility.

Culpa da guerra na Ucrânia

Diante de uma enxurrada de críticas, Truss estava sob intensa pressão para tentar tranquilizar os mercados - e os eleitores - durante a rodada de entrevistas que foram transmitidas pela BBC. Mas, ao contrário de seu antecessor Boris Johnson, Truss não é considerada uma comunicadora natural.

Cada vez que Truss era questionada sobre o impacto negativo de seu pacote econômico, ela desviava a atenção de seus cortes de impostos, apontando para o teto das contas de energia do governo para ajudar os britânicos comuns neste inverno, outra medida que ela tomou.

Quando questionada sobre os custos crescentes das hipotecas como reação ao seu plano, ela disse que o banco central é responsável pelas decisões sobre as taxas de juros. Ela repetidamente apontou a invasão da Ucrânia pela Rússia como a causa da turbulência do mercado.

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